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2025-06-03

O Prāṇāyāma como Três Gestos do Ser

Prāṇaḥ śuddhaḥ satyaḥ dharmaḥ;
“O sopro é pureza, verdade, e dharma.”

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma é mais que respiração consciente: é liturgia do Ser. Cada ciclo é um gesto completo de amor. Inspirar é acolher o Uno; reter é integrar sua luz; expirar é devolvê-la ao mundo. Esses três gestos — pūraka, kumbhaka, rechaka — formam o corpo respiratório da a bússola interior (śraddhā) que traduz o amor em clareza e ação lúcida (dharma).

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma se traduz na arte de amar, expressa como Bhāvana Namaḥ — a prática sutil da escuta do alento vital e da entrega (namaḥ) à vibração do amor universal (bhāvana), que depura o ego ao reconhecer a unidade em todas as coisas. Esse cultivo se inicia com a identificação do prāṇāyāma com o Dhyāna Mantra “Haṃsa”, que pulsa em nossa respiração e nos convida à escuta da voz silenciosa do fogo interior — uma presença que se revela como reconhecimento imediato da realidade sintrópica, Ṛta. Ela nos ensina que não basta apenas conhecer a verdade, mas que é preciso vivenciá-la com fervor, desenvolvendo e adaptando métodos específicos para enfrentar cada novo desafio que a vida nos apresenta. 

2025-06-02

O Haṃsa Prāṇāyāma como o Dhyāna Mantra: A Respiração que nos Revela

Respirar não é apenas viver;
é lembrar-se de quem se é.

1. O voo do cisne e a origem da respiração sagrada

Na tradição védica, o Haṃsa — o cisne branco — é símbolo do Ser que atravessa os mundos sem se manchar. Ele é o paramahasa, aquele que distingue o real do irreal, que nada nas águas da dualidade, mas vive da luz da unidade. 

Mais que uma ave mitológica, o haṃsa é um arquétipo do reconhecimento: o momento em que a alma individual (jīva) desperta para sua identidade com o Espírito universal (Ātman).

Quando respiramos com escuta amorosa, ouvimos esse cisne. Ele pousa no lago do coração e canta: haṁ... saḥ... — o som silencioso da respiração viva. Não se trata de uma técnica criada pela mente, mas do dhyāna-mantra, o mantra natural da meditação no Ser. Todo ser vivo o entoa, mesmo sem saber. O haṃsa-mantra é śuddha dhyāna: meditação pura, espontânea e sagrada.

2025-05-19

Além do Foco: Da Atenção Plena à Heartfulness — A Meditação Sintrópica do Śraddhā Yoga

***
De mindfulness a kindfulness,
até chegar ao heartfulness — a bússola interior,
que conduz a mente de volta ao coração,
 onde brilha o eixo do Ser.
***

1. Introdução: O Sucesso e os Limites do Mindfulness

Nas últimas décadas, a meditação conquistou espaço nos centros de saúde, empresas e universidades ocidentais. Boa parte desse reconhecimento deve-se à popularização do mindfulness, uma adaptação contemporânea de práticas meditativas orientais, especialmente budistas, promovida por Jon Kabat-Zinn e outros pesquisadores. Seu sucesso está relacionado à promessa de alívio do estresse, regulação emocional e bem-estar psicológico.

2025-02-24

A Respiração Sagrada (Heartfulness): Meditação e a Trimūrti no Śraddhā Yoga

A regência e a energia do cosmos: a ordem criativa da
Trimūrti e a manifestação dinâmica da Tridevī.
Na ontologia védica, a manifestação reflete o
poder de Śakti e o jogo da guṇamāyā no cosmos.
Este ensaio propõe uma reflexão sobre a respiração sagrada, a meditação e o corpo como templo. Inspirado na Bhagavad Gītā, onde a ação svatantra de Krishna reverbera como uma revelação da própria tessitura da realidade, e na tradição tântrica que ecoa essa liberdade primordial, o texto convida-nos a perceber o movimento do sopro vital como um ritual sagrado, onde a Trimūrti e a Tridevī se manifestam na dança da criação e da transformação. Uma leitura que, com atenção e śraddhā, revela a beleza e profundidade do caminho meditativo, mesmo para quem está dando seus primeiros passos.

No Śraddhā Yoga, tal como exposto na Bhagavad Gītā, somos convidados a nos consagrar (tyāga) de coração, transformando cada ação, por mais ínfima que seja, em uma oportunidade para a disciplina interior (tapas), o sacrifício (yajña) e a doação (dāna) de si mesmo. A Bhagavad Gītā nos ensina que não há situação na vida em que não possamos cultivar e desenvolver o estado meditativo. Essa prática, em sua essência, é o que se entende por Meditação. O segredo dessa arte está oculto no simbolismo da respiração e na sua intrínseca relação com a práxis cotidiana. Inspirar (pūraka), reter (kumbhaka) e exalar (rechaka) o sagrado são atos que transcendem o físico, conectando-nos ao ciclo cósmico de nascimento, vida e morte, conforme representado pela Trimūrti da tradição védica.

2024-05-21

A Cremação como um Símbolo Sintrópico de Transcendência e Cura: Reflexões Pessoais e Culturais

A cremação, processo de redução do corpo humano a cinzas através do calor intenso, possui um simbolismo multifacetado que varia entre culturas e religiões. Este artigo explora a cremação sob uma perspectiva sintrópica, enfatizando seu potencial como metáfora para a transformação pessoal, a cura e a busca pelo bem-estar integral, culminando na transcendência do eu individual. A vida deve ser vivida buscando o equilíbrio sintrópico, tal como faz o equilibrista que atravessa o precipício por cima de uma corda esticada: belamente e cuidadosamente. Em um nível pessoal, a cremação tem me feito refletir sobre o equilíbrio e o processo de cura e recuperação da saúde integral do meu corpo.

2023-04-03

AS BASES DA ARTE E DA CIÊNCIA DA MEDITAÇÃO: do conceito védico de Ṛta ao contemporâneo conceito de Sintropia

A arte e a ciência da meditação desenvolvem-se em torno da compreensão da relação entre o observador e a coisa observada. No pequeno texto medieval Dṛg-Dṛśya-Viveka, atribuído por alguns a Adi Śaṅkarācārya, temos a seguinte descrição do observador e da coisa observada:

Quando a forma é o objeto de observação, então os olhos são o observador; quando os olhos são o objeto de observação, então a mente é o observador; e quando as modulações mentais são o objeto de observação, então o Espírito, a Testemunha (Sākṣī), se revela o verdadeiro observador.

2022-06-12

SÍNTESE DO ŚRADDHĀ YOGA SVATANTRA

Dinacaryā
(pronúncia aproximada: di-na-tcha-ryá)

A disciplina sintrópica (caryā) diária (dina) do Śraddhā Yoga consiste em atender ao chamado do universo para cultivar o foco absoluto no coração, fonte de śraddhā — energia espiritual que traz clareza interior e ilumina a mente na jornada de unificação, tornando nossa práxis amorosa e lúcida.

No silêncio de cada amanhecer, com os olhos fechados, voltamos a atenção ao Ājñā Chakra: sede do  foco absoluto do coração, onde Iḍā e Piṅgala se encontram e a dualidade cessa. Ali, meditamos no Ser Imutável (Ātman) e em sua energia pulsante (Brahma-Śākti), personificada em Krishna e na deidade Śraddhā — divindade do fogo interior, expressão do amor em ação e poder de Śrī Yoga Devī, o aspecto feminino do universo, manifesto como Nossa Senhora do Yoga.

2022-04-06

Esquema da Relação Arquetípica dos Cinco Pāṇḍavas com o Śraddhā Yoga

O  Mahābhārata, épico indiano repleto de ensinamentos, narra a história dos cinco Pāṇḍavas, que, além de guerreiros, personificam virtudes essenciais para o desenvolvimento espiritual. Krishna, na Bhagavad Gita, os guia para o Śraddhā Yoga, o caminho do coração, revelando a importância de buscar a essência pura da consciência de sagrado (dharma), que transcende as convenções sociais (varṇāśrama-dharma). Esse puro dharma se manifesta em cinco pilares: jñāna (conhecimento), dhairya (determinação), prema (amor universal), samarpaṇa (dedicação) e nyaya (justiça).  Cada Pāṇḍava, de forma única, representa um desses pilares,  conectando-se profundamente com os princípios do Śraddhā Yoga.

2022-02-28

O Dhyāna Mantra: Śraddhā como Foco, Amor e Integração (Heartfulness)

O Dhyāna Mantra “Haṃsa” está representado
no diálogo da Bhagavad Gītā.
As Escrituras Sagradas afirmam que a chave para a harmonização da mente está na compreensão profunda da inspiração (pūraka) e da expiração (rechaca). 
A mente e o processo de respiração representam dois aspectos da Consciência estreitamente relacionados entre si. A respiração irregular, típica da mente inquieta, é também fonte de inquietação. O foco na observação da respiração no início das práticas de meditação, nos leva a acalmar a mente. Entre os movimentos contrários de inspiração e expiração, ocorre uma fração de segundo de não-movimento, como nos pêndulos, que antes de mudarem de sentido, param completamente por um instante. É nesse instante de quietude, entre os sons produzidos na inspiração (haṃ) e na expiração (sa), que ocorre a unificação dos campos interno e externo do ser. Nesse momento em que a respiração permanece suspensa, antes de cada inspiração, o Ser se manifesta no silêncio. 

2018-12-08

Maha Saṃkalpa: a precedência de Śreyas (anseios altruístas) sobre Preyas (anseios passionais)

A escuta de Śraddhā
e a percepção do sagrado coração.
Namastê! Namastê! Namastê!
"Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser
e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser."
(Goethe)

"Aos outros, dou o direito de serem como são;
a mim, o dever de ser cada dia melhor".
(Chico Xavier)

A disciplina espiritual e sintrópica do Śraddhā Yoga1, transmitida por Krishna a Arjuna na Bhagavad Gītā e velada no Dhyāna Mantracompõe-se de três partes fundamentais: Bhāvana (a escuta do Ser e a contemplação da unidade sintrópica), Karma/Kriyā (a práxis sintrópica) e Dhyāna (a meditação). Antes de cada amanhecer, o praticante busca alinhar-se em estado de harmonia e unidade (Bhāvana) com a grande lei cósmica (Ṛta), de modo que sua atividade (Karma/Kriyā) ao longo do dia, em qualquer ambiente, contribua para a harmonização do mesmo. A meditação (Dhyāna), ancorada na consciência do sagrado (Bhāvana) e unificada na práxis sintrópica (Naiṣkarmya), pavimenta um caminho que gradualmente transforma a vida em uma forma contínua de meditação, dedicada ao aprimoramento e ao aprofundamento da comunhão com a unidade sagrada da vida.

2016-12-08

Meditação Viva: Haṃsa, a Respiração do Ser em Movimento - Uma introdução experiencial ao Śraddhā Yoga como prática cotidiana de escuta e foco

Haṃsagati, desse modo, nomeia o estado de meditação alcançado quando estamos em movimento, em marcha – “gati”, no sânscrito.
Francisco Barreto, na Fazenda Mãe Natureza e
em uma caminhada na Serra de Itabaiana.
Haṃsa: a Meditação que Respira

A Bhagavad Gītā revela que não há situação na vida que não possa ser habitada com presença meditativa. Essa presença nasce do reconhecimento do diálogo entre os dois campos do ser: kuru-kṣetra, o campo das ações; e dharma-kṣetra, o campo da escuta do coração. A esse duplo gesto — agir e escutar — chamamos meditação em movimento.

No Śraddhā Yoga, esse estado é representado pelo mantra “Haṃ-sa”, o cisne que respira no centro. Cada inspiração pronuncia o som “haṃ”; cada expiração, “sa”. Meditar, então, não é parar — é focar enquanto se caminha, como Arjuna ao lado de Krishna, como o praticante atento à respiração.