2018-12-28

Movimentos de Convergência: (2) Rosa dos Ventos

O curso que Luiz Carlos Maciel gravou, nos dias 01 e 02 de setembro de 2017, sobre a essência da contracultura (veja aqui)  substitui, em parte, o seu desejo de escrever um livro, que se chamaria Rosa dos Ventos. Maciel organiza o seu pensamento em torno de quatro pensadores que, embora não tenham nenhuma relação entre si, explicam a sua trajetória e fornecem os fundamentos filosóficos da contracultura: Martin Heidegger (1889 - 1976), Norman O. Brown (1913 - 2002), Carlos Castaneda (1925 - 1988) e Philip K. Dick (1928 - 1982).
Para Maciel, Heidegger é o filósofo mais importante do século XX, mas isso não significa que ele seja uma unanimidade. Claudio Naranjo (1932 - ), por exemplo, o critica acusando-o de antissemitismo. O projeto de Heidegger busca chegar ao ser pelo pensar e pela linguagem – algo considerado impraticável no pensamento oriental em geral e, em especial, no pensamento desenvolvido neste Livro-Blog, que aposta na arte da meditação pura e da meditação na ação como os únicos meios de se convergir para a essência do Ser. O pensamento oriental considera muito ingênua qualquer pretensão de alcançar o ser pelo pensar e pela linguagem, pois o ser somente seria acessível por meio da meditação, do recolhimento interno e do silêncio. De qualquer modo, era este o objetivo de Heidegger. Toda a sua obra, de mais de 50 volumes, dedica-se a examinar os principais momentos da filosofia ocidental, principalmente a filosofia alemã, com esta intenção. Heidegger estabelece a morte da metafísica, representada pela filosofia clássica grega de Platão e Aristóteles, para retomar o movimento de aproximação ao Ser iniciado com os Pré-socráticos. Pretende, deste modo, dar um segundo início à filosofia ocidental e é aí que está o seu maior mérito.
Norman O. Brown, ao contrário de Heidegger que deixou uma extensa obra, escreveu apenas cinco livros. Sua segunda e mais importante fase é constituída pelos seus três últimos livros, Life against Death (Vida contra Morte), Love’s Body (O Corpo do Amor) e Apocalypse and/or Metamorphosis (Apocalipse e/ou Metamorfose), dos quais apenas o primeiro foi traduzido para o português. Esses textos apresentam como novidade o tratamento do pensamento filosófico de um ponto de vista audacioso, dionisíaco e libertário. Isto suscitou o interesse pela sua obra no círculo da contracultura americana. Embora fosse um respeitado professor universitário, Norman O. Brown despertou o interesse da comunidade hippie, que se via representada em seus textos. Norman O. Brown, portanto, parece ter dado à contracultura um status de cultura de vanguarda.
O terceiro autor que Maciel escolhe em seu recorte é Carlos Castaneda, um representante do pensamento mágico. Antropólogo, sua filosofia teve origem numa pesquisa de campo, onde conheceu Don Juan Matus, um xamã que se tornaria o seu mestre. Castaneda defende que o seu pensamento é herança da civilização tolteca, sobre a qual só temos informações arqueológicas. Segundo Castaneda, os ensinamentos ocultos da cultura tolteca nos chegaram por meio da tradição oral, transmitida para aqueles pouquíssimos seres humanos dispostos a seguir o caminho do guerreiro.
Por fim, Maciel nos introduz a Philip K. Dick, ou PKD, como também é conhecido o escritor da costa oeste americana muito apreciado no círculo da contracultura. Excepcional autor de ficção científica, tem uma produção imensa e seus textos nos possibilitam ingressar no misterioso terreno da gnose.

Estes quatro autores, como veremos, representam os pontos cardeais para se compreender a filosofia da contracultura e, consequentemente, todo o pensamento e obra do próprio Maciel.

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