2019-01-26

Arjuna e o Poder da Renúncia e da Entrega

Este artigo discute a distinção entre os conceitos védicos designados pelos termos "saṃnyāsa" (renúncia) e "tyāga" (entrega), redefinidos por Krishna ao longo do episódio da Bhagavad Gītā. Krishna discute a natureza fractal e sintrópica da ação virtuosa, caridosa, amorosa e perfeitamente ética, que se vincula ao mistério da renúncia ao efêmero e entrega ao sagrado. Ele trata, em suma, da renúncia (saṃnyāsa1), como a condição sine qua non do despertar da consciência, e da entrega (tyāga), como a condição necessária para a ascese mística (Brahma-sāmīpya). 

2019-01-21

Movimentos de Convergência: (8) Carlos Castaneda e Philip K. Dick

A influência do pensamento oriental foi muito profunda na contraculturaLuiz Carlos Maciel, como ele próprio afirma (veja aqui), apreciava o vedānta não dualista de Shânkara, o budismo mahayana de Nagarjuna, o taoísmo chinês (na formulação de Lao-Tzu e Chuang-Tzu) e o zen budismo.

Alan Watts afirma que, para o ocidental, a verdade necessita ser formulada pelo pensamento e expressa pela linguagem, enquanto no oriente ela tem uma via completamente diferente: a verdade necessita ser experimentada. Não faz sentido para o oriental afirmar, “a verdade objetiva é que”. Seria o equivalente a se dizer: “a saúde objetiva é que”. Ora, a saúde é um estado do corpo, do mesmo modo que a verdade é um estado do espírito. Para Alan Watts, a verdade é para ser experimentada e não formulada pelo discurso, como pretendia o projeto de Heidegger.

2019-01-16

Movimentos de Convergência: (7 ) O Flower Power (Poder da Flor) como um movimento pacifista de vanguarda

Contracultura: de onde surgiu esta palavra? Segundo Luiz Carlos Maciel, este termo expressa uma invenção da mídia americana para designar os fenômenos culturais de vanguarda dos anos sessenta (veja aqui). A contracultura nunca se viu como contracultura, mas a mídia ansiava por um termo que sugerisse que aquelas manifestações culturais eram inimigas da cultura. Os artistas e as demais pessoas envolvidas na contracultura não se abalaram com isso e simplesmente adotaram o termo. A contracultura manifestou-se nos EUA como uma cultura que avançava para o futuro nos planos da política, do comportamento, da moral, da expressão artística, da filosofia e da religião. Inicia-se no plano da política pacifista de inspiração inglesa, com o movimento a favor do desarmamento nuclear e as grandes manifestações de Trafalgar Square, que contaram com a presença de Bertrand Russell.

2019-01-14

Movimentos de Convergência: (6) a contracultura e os estados alterados de consciência

Luiz Carlos Maciel, foi para O Pasquim por intermédio de seu amigo Tarso de Castro. Já como cronista, Maciel recebeu, certo dia, uma carta comentando sobre a contracultura e os jornais alternativos que haviam surgido nos EUA. A carta fora enviada por um leitor brasileiro chamado Jacques, estudante da Universidade de Berkeley. Maciel passou então a se corresponder com ele e a se informar sobre a contracultura (veja aqui), porque no Brasil não havia nenhuma informação acerca deste movimento e muito menos sobre a repressão sofrida pelos seus integrantes.

2019-01-10

Espiritualidade e Tolerância Religiosa

Hoje é comum falar em espiritualidade nativa, espiritualidade feminina, e assim por diante, para designar aquilo que as religiões institucionalizadas nem sempre conseguem abranger. Em linhas gerais, define-se espiritualidade como a vida interior e o conjunto de práticas que a sustém, sem que isto se dê, necessariamente, em associação com qualquer religião institucionalizada. O termo "espiritualidade" empresta fôlego novo para lidar com as antigas divergências religiosas e se apresenta com um bom candidato para ajudar a ressignificar o termo "religião". Enquanto a religião exige que se aja segundo a fé, a espiritualidade nos convida a agir segundo as leis do amor universal. Na Europa e nos Estados Unidos grande parte das instituições universitárias já têm uma disciplina tratando da espiritualidade. No Brasil, a Universidade Federal Fluminense, por exemplo, oferece, desde 2017, a disciplina Medicina e Espiritualidade, envolvendo profissionais das áreas de psicologia, medicina e artes. 

2019-01-08

Movimentos de Convergência: (5) Norman O. Brown e a abertura para o mistério

Movimentos de Convergência: (5) Norman O. Brown e a Abertura para o MistérioLuiz Carlos Maciel foi introduzido ao pensamento de Norman O. Brown, (veja aqui) por meio de seu colega, o jornalista Sérgio Augusto, que lhe indicou o livro Life against Death. Maciel, entusiasmado com o texto, convenceu a Rose Marie Muraro a propor a tradução do texto para a Ed. Vozes, de Petrópolis, que o editou com o título Vida contra Morte: uma interpretação psicoanalítica da história. Trata-se do único livro de Norman O. Brown traduzido para o Português. O subtítulo traz os dois elementos constitutivos da síntese pretendida no texto: a história, o elemento marxista, de esquerda; e o elemento de direita, a interpretação psicoanalítica, freudiana, do inconsciente.

2019-01-07

A Bhagavad Gītā e a Bhāṣyopetā de Haṃsa Yogi

A Khaṇḍa-Rahasya de Haṁsa Yogi: uma análise sobre a Mística da Bhagavad Gītā
Os Śuddha Acharyas R. Vasudeva Row, Dr. Sir. S Subramania Iyer e Pandit K. T. Sreenivasacharya, oriundos, respectivamente, dos três principais sistemas filosóficos do vedānta: Dvaita (dualismo de Madhva), Advaita (não-dualismo de Shankaracharya) e Visishtadvaita (não-dualismo qualificado de Ramanuja).


















Pretendo discutir neste artigo duas questões relacionadas com a tese "Śraddhā in the Bhagavad Gītā" (2007). A primeira refere-se às razões para não ter considerado diretamente no corpo da tese o texto da  Bhagavad Gītā editado pela Śuddha Dharma Maṇḍalam1. A segunda questiona a relevância das discussões geradas em torno desta nova recensão da Bhagavad Gītā. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a polêmica gerada por esta nova versão da Bhagavad Gītā constitui um "pseudo-problema", ocasionado pela publicação desse extrato do seu "comentário-guia" da Bhagavad Gītā, intitulado Śrī Bhagavadgītā Bhāṣyopetā, que que apresenta, para efeitos de sua análise (Śuddha Sāṃkhya) e síntese (Śuddha Yoga), uma ordem de versos e capítulos distinta da usual.

2019-01-05

Movimentos de Convergência: (4) a metafísica da contracultura

Para compreender a palavra utilizada por Heidegger que designa o Ser (das Man), Luiz Carlos Maciel, cujo pensamento estamos explorando nesta serie, leu o artigo Qu’est-ce que la métaphysique (1938), traduzido por Henry Corbin de um artigo de Heidegger de 1929. Esta ideia do Ser ou das Man é importante porque ela se encontra na raiz de todos os julgamentos críticos. Estes estão presentes, notadamente, no pensamento de Marx e Freud, que denunciam o engano da vida cotidiana na nossa civilização, com a padronização quase robótica do ser humano. Muito provavelmente, teria sido este mesmo engano a que Marx se referia quando critica a alienação do ser. Marx ainda se utiliza do ponto de vista hegeliano, mas, ao inverter a sua lógica, encontra uma racionalidade na história que lhe permite desenvolver as suas análises político-filosóficas sob o prisma histórico-social. Em Hegel a história se dirigia para o saber completo no Espírito Absoluto. Marx, de outro lado, entende o movimento da história no sentido social de se avançar para uma sociedade comunista. O outro pensador do século XIX que, segundo Maciel (veja aqui), teria percebido o engano em que vivemos foi Freud. Ele teria descoberto o nó desta questão ao denunciar a repressão, que está na raiz do ser, vítima de padronização e alienação. Segundo Freud, toda doença da sociedade ocidental deve-se à repressão, para ele um mal necessário.  Daí a função de reprimir que atribui, em sua teoria psicanalítica, ao superego, o censor que impede a ascensão do Id.

2019-01-02

038. Cozinhando com o Coração

038. Cozinhando com o Coração
RECEITAS DA SEMANA: Espaguete com alcaparra e tomate cereja; Brócolis ao pesto; Bagel; Banana assada; Suchá de hibisco, morango e hortelã.



1. Espaguete com alcaparra e tomate cereja (vegano)

Rendimento: 5 porções

Ingredientes:
500 g de espaguete, prefencialmente de massa fresca ou de semolina
2 cebolas, de preferência roxas, bem picadas
3 dentes de alho bem picados
250 g de tomate-cereja
suco de 1 limão siciliano
2 colheres (sopa) de alcaparra em conserva, escorrida, lavada e picada
6 colheres (sopa) de azeite
pimenta-do-reino moída na hora
sal a gosto
salsinha fresca para decorar

2019-01-01

Movimentos de Convergência: (3) Heidegger

1. A  Filosofia como a História do Ser

Luiz Carlos Maciel estudou filosofia, segundo ele próprio afirma (veja aqui), pelo livro Introducción a la Filosofía, de Manuel García Morente. O texto apresenta um panorama bastante acessível da filosofia ocidental. Morente parte da dualidade fundamental de sujeito e objeto, e sustenta que no início da história da filosofia a ênfase era no objeto, ou seja, na realidade – aquilo que está fora de mim, tudo que não sou eu.
Segundo Morente, a primeira grande revolução filosófica acontece com a filosofia moderna (Descartes, Leibniz, Spinoza), que desloca a ênfase do objeto para o sujeito. Daí decorre a famosa frase de Descartes “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum). Descartes coloca o pensamento subjetivo antes da existência, que é objetiva. É o pensamento subjetivo que o autoriza a acreditar no objeto. Nasce daí a relação estabelecida aqui entre a certeza sensível, expressa no cogito cartesianoe o conceito de śraddhā na Bhagavad Gītā. Esta tendência de valorização do sujeito ocorre também no empirismo inglês, o qual questiona, inclusive, a própria substancialidade do objeto. Em outras palavras, é a reunião das experiências sensoriais (pelo tato, olfato, paladar, audição e visão) que dão existência aos objetos fora de nós. Do mesmo modo, a filosofia do idealismo alemão (Kant, Fichte, Schelling e Hegel.) coloca o objeto como resultado de uma experiência, ou seja, de um testemunho do sujeito. Esta tendência aprofunda-se com Hegel e tem a sua culminância com Soren Kierkegaard, pensador dinamarquês que se atreveu a criticá-lo. Para marcar a importância e o sentido filosófico da vida Kierkegaard afirmou que Hegel seria como um homem muito rico que, ao construir uma mansão maravilhosa, teria optado por morar do lado de fora, na casa do zelador. Para Kierkegaard, Hegel construíra um edifício teórico espantoso, mas inútil, pois despreza a única coisa que interessa – a vida, a existência. Nasce assim o movimento da Filosofia Existencialista, que marcou profundamente a vida de Maciel.