2025-06-01

O Som que Respira no Centro


 हंसा हंसा इति आत्मा एव गच्छति।
haṃsā haṃsā iti ātmā eva gacchati
Haṃsa, Haṃsa — assim o Ātman vai e vem.
(Haṃsa Upaniṣad, v. 1)
प्राणो हि जीवनं।
prāṇo hi jīvanam
Pois prāṇa é, de fato, a vida.
(Praśna Upaniṣad 2.4)

Há um som que não nasce do atrito nem da intenção. Ele vibra no âmago do Ser e ecoa em cada sopro de vida. Não é ouvido com os ouvidos, mas com a escuta do coração. Haṃ-saḥ... Haṃ-saḥ... — o cisne interior voa entre inspiração e expiração, trazendo consigo o segredo da meditação viva.

Este novo capítulo do Śraddhā Yoga é um convite à respiração consciente como experiência de unidade. Nele, a meditação não é descrita como técnica, mas como expressão da śraddhā: fervor lúcido, alento do dharma, escuta do invisível. Cada texto é uma oferenda ao que não se ensina, mas se revela. Um gesto do Ser, uma pausa entre pensamentos, um assento no sopro da Presença.

Os textos que se seguem são variações desse mesmo alento:
Uma flecha que parte do coração e acerta o silêncio da ação sem ego.
Um arqueiro que fecha os olhos para mirar o som interior.
Um impostor que cai de joelhos, e no chão reencontra o altar.
Uma respiração que se curva ao dharma.
Uma tríade sagrada que acolhe, integra e devolve.
Um mantra que dança entre o Eu e o Ele.
Uma ciência do amor em ato.
Um sopro que se dissolve no Ser.

Assim, cada artigo é uma nota — e este capítulo, uma partitura do respirar desperto. Do som que não é ouvido com os ouvidos, que não vem do mundo, nem é criado pela mente.Que brota do centro — do ponto silencioso onde nasce a respiração, onde o Ser toca o tempo e se oferece como alento. Do som "haṃ-saḥ". Na inspiração: haṃ, afirma-se o Eu profundo. Na expiração: saḥ, dissolve-se o eu ilusório. Assim, o sopro se torna oração, e o mantra se faz presença.

Esse prāṇāyāma revela o Śraddhā Yoga não como técnica, mas como sabedoria encarnada: agir com escuta, respirar com entrega, viver como quem oferece o próprio gesto à verdade que vibra em tudo. Não se trata de controlar o fôlego, mas de libertar o ser. Do palco da alta performance à travessia da dúvida, da anatomia do sopro à ciência do amor em ação, cada texto deste ciclo é um passo na jornada da escuta interior — onde śraddhā e prāṇa dançam como arco e flecha, como oferta e silêncio, como dharma e respiro.

Que o leitor não apenas leia, mas respire com o capítulo. Que ele não apenas compreenda, mas se deixe tocar pelo som que respira no centro.


Rio de Janeiro, 01 de junho de 2025.

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