Dinacaryā
(pronúncia aproximada: di-na-tcha-ryá)
A disciplina sintrópica (caryā) diária (dina) do Śraddhā Yoga resume-se ao atendimento do chamado do universo para que cultivemos a energia espiritual em nós (śraddhā). No silêncio de cada dia que amanhece, concentrados no Ājñā Chakra, o ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala, onde termina a dualidade, devemos meditar no Ser Imutável (Ātman) e na sua energia (Brahma-Śākti), personificada como a deidade Śraddhā, símbolo do fogo do coração e do poder do amor em ação. Despertando de madrugada e nos dedicando ao longo do dia ao chamado do universo, conforme as necessidades de cada período, devemos nos entregar à escuta (bhāvana namaḥ!) desse sentimento sintrópico, capaz de nos revelar a Grande Lei (Ṛta) e de atualizar o nosso "bom-senso" (com hífen), ou bhāvana. No silêncio de cada amanhecer, na tranquilidade da contemplação, encontramos a oportunidade de aprofundar nossa compreensão da vida e de nós mesmos, nutrindo-nos de prāna, o sopro de vida e a energia vital, que nos possibilita fazer de cada ação uma expressão consciente de amor, paz e sabedoria, segundo o Dhyāna Mantra Haṃsa.
Meditação
Ao pronunciar o Gītā Mantra “Om Namo Nārāyaṇāya” devemos meditar (dhyāna), concentrados no Ājñā Chakra, o ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala, imaginando que estamos em estado de rendição ao Espírito Cósmico, que, a um só tempo, habita dentro (nirguṇa) e fora (saguṇa) de nós, como o Ātman e os seus distintos Avatāras, e compenetrando e transcendendo (śuddha) o Universo Infinito.
Om Namo Nārāyaṇāya
Saudações aos Avatāras de Nārāyaṇa (Saguṇa Dhyāna),
ao Ātman (Nirguṇa Dhyāna) em nosso coração e ao
Paramātman (Śuddha Dhyāna) que a tudo transcende.
O Gītā Mantra "Om Namo Nārāyaṇāya" conota os três níveis da ciência da meditação (Saguṇa, Nirguṇa e Śuddha) de que trata a Bhagavad Gitā, onde Arjuna e Krishna representam, respectivamente, o par Nara-Nārāyaṇa, os dois pássaros da metáfora védica, unificados no cisne Haṃsa. Tradicionalmente associado a Vishnu, o preservador do universo, este mantra está paradigmaticamente simbolizado pela atitude de rendição de Arjuna a Krishna na Bhagavad Gītā. Quando interpretado nesse contexto ele revela riqueza de significados e simbolismos que transcende todas as formas de sectarismo religioso. Desta forma, prática de meditação com o mantra “Om Namo Nārāyaṇāya” possibilita a integração de todas as dimensões essenciais da espiritualidade universal. Ao abraçar a diversidade do sagrado e guiar o praticante através dos três níveis de consciência (a contemplação das formas manifestadas de Nārāyaṇa, o “preservador do universo” – Saguṇa Dhyāna –, a introspecção do Ser interior – Nirguṇa Dhyāna – e a transcendência para a realidade última – Śuddha Dhyāna) esta prática conduz à conexão profunda com o sagrado.
OṂ haṃsas so'haṃ yogeśvarīṃ hrīṃ svāhā
OṂ eu sou o Eu Sou, saudações à Nossa Senhora do Yoga, Śrī Yoga Devī
Concentrados no Ājñā Chakra, o ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala, repitamos o Svatantra Mantra, o mantra da genuína liberdade, autonomia e autossuficiência da nossa essência espiritual. Ele rende graças (svāhā) à deidade Śraddhā, a Nossa Senhora do Yoga (Yogeśvarī), conhecida como Śrī Yoga Devī, de forma exclamativa, com um ardente viva (hrīm), como forma de reconhecimento e agradecimento pela revelação, em nossa própria respiração, da identidade do Ser (Haṃsa) e de nós mesmos (so'haṃ).
Haṃ-so-haṃ-so-haṃ-so-haṃ-so-haṃ-so-haṃ-so-haṃ. . .
Concentrados no Ājñā Chakra, o ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala,
meditemos por alguns minutos, com os olhos suavemente fechados,
auscultando a nossa respiração e nos lembrando de que
a consciência deste mantra nos possibilita viver
a vida toda em estado de meditação . . .
OṂ OṂ OṂ
Inspiro (haṃ-) paz e harmonia (Brahma Śakti), expiro (so-) amor (Śraddhā)
Quando inspiro, sinto a presença do Ātman no meu coração;
quando expiro, sinto o meu coração no Paramātman. . .
Haṃ-so-haṃ. . .
OṂ eu sou o fogo ardente do coração
Haṃ-so-haṃ. . .
OṂ eu sou a presença da paz e do amor em ação
Haṃ-so-haṃ. . .
OṂ todo ressentimento transformo em compaixão e compreensão
Haṃ-so-haṃ-so-haṃ. . .
OṂ tudo é sagrado; tudo é de natureza sagrada; tudo é necessário
O Dhyāna Mantra Haṃsa nos traz a consciência de que o estado de meditação permanece latente em cada minúscula respiração. Despertamos a consciência de que esta prática permanece conosco o dia todo quando aprendemos a reservar alguns minutos do nosso dia a meditar, com os olhos suavemente fechados, em silêncio e em postura de prece, no alento vital que nos unifica ao cosmos.
*
***
OṂ OṂ OṂ
OṂ TAT SAT
Namastê! Namastê! Namastê!
F I M
Rio de Janeiro, 12.06.22.
(Atualizado em 05.04.25)
Nenhum comentário:
Postar um comentário