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2025-07-20

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (III)


III. Talento, Inspiração e Gênio:
da Natureza à Transcendência

III.1. Talento: a eficácia do svadharma em ação

No vocabulário moderno, “talento” é frequentemente associado à aptidão inata — uma capacidade natural que diferencia certos indivíduos dos demais. Na Bhagavad Gītā, essa ideia encontra um equivalente mais profundo: svabhāva, a natureza constituinte do indivíduo, moldada por suas tendências (saṃskāras), pelas qualidades da matéria (guṇas) e pelo dharma específico a que está atrelado (svadharma). Talento, então, não é mero dom. Ele é a eficácia sintrópica com que o indivíduo realiza sua natureza. Não é estático, nem puramente genético — é uma “potência dinâmica, latente, que se manifesta à medida que a consciência se purifica e alinha-se a Ṛta”.

2025-06-03

O Prāṇāyāma como Três Gestos do Ser

Prāṇaḥ śuddhaḥ satyaḥ dharmaḥ;
“O sopro é pureza, verdade, e dharma.”

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma é mais que respiração consciente: é liturgia do Ser. Cada ciclo é um gesto completo de amor. Inspirar é acolher o Uno; reter é integrar sua luz; expirar é devolvê-la ao mundo. Esses três gestos — pūraka, kumbhaka, rechaka — formam o corpo respiratório da a bússola interior (śraddhā) que traduz o amor em clareza e ação lúcida (dharma).

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma se traduz na arte de amar, expressa como Bhāvana Namaḥ — a prática sutil da escuta do alento vital e da entrega (namaḥ) à vibração do amor universal (bhāvana), que depura o ego ao reconhecer a unidade em todas as coisas. Esse cultivo se inicia com a identificação do prāṇāyāma com o Dhyāna Mantra “Haṃsa”, que pulsa em nossa respiração e nos convida à escuta da voz silenciosa do fogo interior — uma presença que se revela como reconhecimento imediato da realidade sintrópica, Ṛta. Ela nos ensina que não basta apenas conhecer a verdade, mas que é preciso vivenciá-la com fervor, desenvolvendo e adaptando métodos específicos para enfrentar cada novo desafio que a vida nos apresenta. 

2025-06-02

O Haṃsa Prāṇāyāma e o Dharma: A Respiração como Alinhamento Interior


Respirar não é apenas viver.
É alinhar-se à inteligência do cosmos
em cada gesto do alento.

1. Respirar é sintonizar: Haṃsa Prāṇāyāma como meditação sintrópica

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma não é uma técnica de controle respiratório, mas um rito de alinhamento. Respirar não é apenas manter-se vivo: é participar conscientemente da inteligência que pulsa em tudo.

Essa respiração consciente — descrita na Bhagavad Gītā como oferenda sagrada — alcança sua forma mais pura no Haṃsa Prāṇāyāma: a prática de meditação sintrópica em que o ego é depurado e o alento se consagra ao Ser.

2025-02-22

Śraddhā, Linguagem e a Busca Universal por Significado

Pāṇini (c.520 a.C. – c.460 a.C.). Autor da gramática sânscrita Aṣṭādhyāyī (aṣṭa = oito + ādhyāya = capítulo), a
primeira gramática de uma língua produzida na história da civilização humana.Sua obsessão pelo estudo do sânscrito deve-se ao fato de que era considerada a língua dos deuses (devavāṇī).

Introdução

A linguagem, essa ferramenta intrinsecamente humana, sempre despertou fascínio e questionamentos. De onde ela vem? Qual sua verdadeira natureza? Seria apenas um mecanismo biológico, ou algo mais profundo, conectado à nossa essência espiritual? Este artigo propõe explorar a origem e o significado da linguagem sob a ótica do conceito de śraddhā, a força motriz que nos impulsiona à transcendência e à conexão com o universo.

2025-02-20

Śraddhā Yoga: A Arte e Ciência da Meditação na Bhagavad Gītā

1. Introdução

O Mahābhārata é muito mais do que um épico indiano. Ele é um tratado filosófico que explora as complexidades da condição humana. No coração dessa narrativa está a Bhagavad Gītā, um diálogo entre Krishna e Arjuna que transcende o contexto de uma batalha para se tornar um guia universal para a vida espiritual. Neste artigo, exploraremos como a Bhagavad Gītā resgata e reafirma o Śraddhā Yoga, uma disciplina ancestral que, por meio da meditação, integra o fervor devocional à razão e à práxis, enraizando-os na lei de Ṛta, a ordem cósmica que sustenta o universo.

2024-06-19

O Pacto, a Egrégora, a Rotina e o Ambiente das Oficinas de Meditação

As oficinas de meditação da disciplina CMT014 atendem a dois propósitos principais:  
(1) ilustrar os conteúdos desenvolvidos em sala de aula; e  
(2) proporcionar a vivência de práticas conduzidas por pesquisadores convidados e especialistas reconhecidos na área.

Cada oficina oferece o olhar de uma tradição específica, revelando a pluralidade de caminhos que conduzem ao mesmo centro. Estão previstas 15 oficinas, com frequência semanal. Três encontros são reservados a debates, atividades livres e avaliações.

2021-12-27

A Homossexualidade no Contexto da Tradição Védica

Pārśvanātha Mandir (Janeiro de 2010)
Templo jainista do século décimo em Khajuraro

Se a partir de Freud a homossexualidade passou a ser classificada no ocidente como uma doença mental (somente em 1993 a OMS a retirou da lista de doenças mentais), na Índia a literatura sânscrita sempre preferiu considerar a existência de um “terceiro gênero” (tṛtīya prakṛti).  Desde os textos védicos, discutem-se as várias possibilidades de gênero, a homossexualidade (samaliṅgakāma), a bissexualidade (ubhayaliṅga), os hermafroditas (napuṁsakas) e os desvios de sexualidade causados pela impotência (klība). A cultura indiana constitui-se como um somatório de práticas religiosas, seitas e doutrinas contraditórias, que afirmam, ou rejeitam, a autoridade da literatura védica, conhecida como Sanātana Dharma (A Lei Eterna). O budismo, por exemplo, embora na Índia tenha sido assimilado pelo hinduísmo, rejeita a autoridade dos Vedas, tanto no Dhammapada (expressão do idioma páli que traduz o sânscrito "Dharma-pada", a via do Dharma), como em todo o restante do seu Cânone.  Então, a pergunta que se pode fazer e que pretendemos responder neste artigo é: qual é a posição da literatura sagrada da Índia e dos seus seguidores com relação ao tema da homossexualidade?

2019-07-30

As Práticas de Meditação e a Cultura Sintrópica

Quadro simbólico do desenvolvimento da
tese Śraddhā in the Bhagavad Gītā" (2007)
.
Os capítulos do livro-blog versam sobre o sagrado (nirvāṇa) oculto no mundo (saṁsāra), revelando, passo a passo, como a arte e a ciência da meditação expressam, em sua essência, o coração da tradição védico-tântrica tal como sintetizado por Krishna na Bhagavad Gītā. Ei-los:

PREFÁCIO
I. INTRODUÇÃO GERAL: Fundamentos da Cultura Sintrópica
II. A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
III. Śraddhā Quaerens Intellectum — Epistemologia da Bhagavad Gītā e a Ciência do Ser
IV. Filosofia Sintrópica e a Civilização da Síntese: Do Ser ao Estado
V. O Início da Jornada Interior
VI. O Encontro com os Mestres e o Caminho do Coração
VII. A Ciência Onírica e as Noúres
VIII. A Disciplina Sintrópica
IX. A Filosofia Sintrópica da Alta Performance
X. Śraddhā Yoga: A Ciência e a Arte do Amor em Ação
XI. CONCLUSÃO: A Semente de uma Nova Tradição
ANEXO 1. Guia Prático de Śraddhā Yoga — Heartfulness: A Meditação do Coração
ANEXO 2. Programa de Gestão Sintrópica — Opúsculo Metodológico
ANEXO 3. Questões do Núcleo Familiar e do Guru-kula
ANEXO 4. A Contracultura como Primeiro Gesto da Cultura Sintrópica
ANEXO 5. Universidade do Coração: A Gênese de uma Cultura Sintrópica
ANEXO 6. Porta de Entrada à Meditação Sintrópica: Uma Leitura Contemplativa do Śraddhā Yoga
TESTEMUNHO FINAL: Mrityunjayanand Jee

2019-01-26

Arjuna e o Poder da Renúncia e da Entrega

Este artigo discute a distinção entre os conceitos védicos designados pelos termos "saṃnyāsa" (renúncia) e "tyāga" (entrega), redefinidos por Krishna ao longo do episódio da Bhagavad Gītā. Krishna discute a natureza fractal e sintrópica da ação virtuosa, caridosa, amorosa e perfeitamente ética, que se vincula ao mistério da renúncia ao efêmero e entrega ao sagrado. Ele trata, em suma, da renúncia (saṃnyāsa1), como a condição sine qua non do despertar da consciência, e da entrega (tyāga), como a condição necessária para a ascese mística (Brahma-sāmīpya). 

2018-12-08

Maha Saṃkalpa: a precedência de Śreyas (anseios altruístas) sobre Preyas (anseios passionais)

A escuta de Śraddhā
e a percepção do sagrado coração.
Namastê! Namastê! Namastê!
"Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser
e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser."
(Goethe)

"Aos outros, dou o direito de serem como são;
a mim, o dever de ser cada dia melhor".
(Chico Xavier)

A disciplina espiritual e sintrópica do Śraddhā Yoga1, transmitida por Krishna a Arjuna na Bhagavad Gītā e velada no Dhyāna Mantracompõe-se de três partes fundamentais: Bhāvana (a escuta do Ser e a contemplação da unidade sintrópica), Karma/Kriyā (a práxis sintrópica) e Dhyāna (a meditação). Antes de cada amanhecer, o praticante busca alinhar-se em estado de harmonia e unidade (Bhāvana) com a grande lei cósmica (Ṛta), de modo que sua atividade (Karma/Kriyā) ao longo do dia, em qualquer ambiente, contribua para a harmonização do mesmo. A meditação (Dhyāna), ancorada na consciência do sagrado (Bhāvana) e unificada na práxis sintrópica (Naiṣkarmya), pavimenta um caminho que gradualmente transforma a vida em uma forma contínua de meditação, dedicada ao aprimoramento e ao aprofundamento da comunhão com a unidade sagrada da vida.

2018-10-17

Bhagavad Gītā: Os Três Estágios da Meditação Sintrópica (Heartfulness)

I. Introdução

A novidade e a originalidade do argumento que pretendo desenvolver a seguir decorrem da tese de que o texto da Bhagavad Gītā1 representa a alegoria mais perfeita e bem acabada da arte e da ciência da meditação. Apesar da extensa literatura disponível, quase nada existe a esse respeito. O caráter universalista, não sectário e não dogmático do texto revela a meditação como uma prática sintrópica que não pertence, exclusivamente, a nenhuma denominação religiosa em particular. A Bhagavad Gītā é uma alegoria poética da luta interior que se passa no ser humano. Mostra o percurso de Arjuna, saindo de um estado inicial onde ele aparece como um devoto (bhakta) sem śraddhā, até o momento onde ele se encontra pleno de śraddhā. Quem escuta e faz as coisas de coração, tem crédito – do latim, credere (acreditar, confiar), que também origina o termo “credo” em português.  “Credere” deriva de “śrad-dhā”, a certeza interior e a convicção íntima. Quando a mente do aspirante funciona a partir do coração este desenvolve uma “sintonia fina” que lhe permite perceber a vida e o universo de forma sintrópica, como uma espécie de poema cósmico, onde o solo, os rios, a água, o ar que respiramos e a própria vida aparecem como partes de um todo sagrado e em perfeito equilíbrio.

2018-07-12

O Quinto Puruṣārtha (Poder do Coração)

Como Identificar a Voz Oriunda dos Cinco Poderes do Coração?
Sermão da Montanha
Este artigo trata da interpretação sutil, presente no Mahābhārata, dos quatro Puruṣārthas1 (poderes do coração; aspirações humanas) da tradição indiana, subsumidos no quinto e pouco conhecido poder do Espírito, introduzido pelo Senhor Krishna na Bhagavad Gītā. O texto também discute como identificar a voz do coração, a fonte de autoridade que expressa esses poderes do espírito humano, convidando-nos a agir no mundo segundo a sua luz regenerativa e renovadora dos princípios e valores das distintas tradições culturais e religiosas.

2018-06-18

Gītā-Upadeśa: o ensinamento iniciático sobre a via luminosa do coração

A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
Representação do Anāhata:
o coração espiritual, sede do Espírito.
Vi outro dia num portal a seguinte recomendação: “você deve seguir sempre o seu coração”. O portal também sugeria que o conceito de espiritualidade iria, no futuro, ocupar o espaço hoje reservado à “religião” do homem dividido: “Um dia os homens não terão mais rótulos religiosos. Ninguém se dirá católico, protestante, hindu, (...) ou qualquer outra coisa, porque a única identificação que trará consigo será o amor.”  Isto me fez pensar na ancestral técnica védica utilizada pelos Rishis (videntes) na elaboração de textos sagrados, conhecida como Ṛṣi-nyāsa e chamada de Noúres por Pietro Ubaldi. Ṛṣi-nyāsa expressa a capacidade de fazer de toda atividade uma Invocação da energia divina e sintrópica (brahma-śakti).  Esta energia aparece personificada no Ṛgveda como a deidade Śraddhā, que, no  épico Mahābhārata, é invocada em seu aspecto de Durgā (Invencível) por Arjuna, em conformidade com a orientação de Krishna. Como consequência e expressão de Ṛṣi-nyāsa nasce, então, o próprio diálogo da Bhagavad Gītā.

2018-05-27

CMT 014 - Oficina de Estudos: a Arte e a Ciência da Meditação

Destinada a introduzir o aspirante aos segredos e às chaves para a compreensão da realidade sintrópica, a disciplina "CMT 014 - Oficina de Estudos: a Arte e a Ciência da Meditação", oferecida no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ explora os grandes tópicos associados ao surgimento e ao desenvolvimento histórico da arte e da ciência da meditação ou contemplação. Diferencia-se, deste modo, das demais experiências realizadas até aqui em torno da ciência da meditação, em instituições como a UNIFESP, UFF e o próprio Centro de Ciências Médicas da UFRJ, que apresentam uma ênfase, não na história e constituição da arte e da ciência da meditação, mas, basicamente, em sua eficácia enquanto uma prática integrativa, ou “técnica terapêutica", complementar aos demais procedimentos da área de saúde.

2017-09-07

A Bhagavad Gītā como o Modelo Pedagógico da Ciência da Meditação

“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser.
Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.”
(Ṛigveda 1.164.20 e Muṇḍaka Upaniṣad 3.3.1)

O discurso de Krishna na Bhagavad Gītā contém, desenvolvidas de forma assistemática e respeitando a psicologia e o estado de confusão e dúvida de Arjuna, a Arte e a Ciência da Meditação, simbolizadas na metáfora dos dois pássaros, descrita no Ṛigveda (1.164.20): 

Dois pássaros com belas asas, companheiros inseparáveis, encontraram refúgio e abrigo na mesma árvore. Um deles se alimenta dos doces frutos da figueira; o outro, sem se alimentar, apenas observa... 

As práticas de meditação desenvolvem-se a partir desta metáfora do "pássaro testemunha" (veja aqui um vídeo ilustrativo  do vedanta). A árvore representa o nosso corpo, enquanto os dois pássaros, referem-se à nossa dupla natureza, material e espiritual: de um lado, temos a materialidade da mente emocional, racional e lógica, que constitui o nosso consciente, subconsciente e inconsciente (Jīva); de outro, a imaterialidade da consciência universal (Ātman) que anima o corpo, representada pelo coração espiritual. De um lado, inconstante, imperfeito e finito, o ser corpóreo (natureza humana) permanece em movimento, experimentando de todas as coisas. De outro lado, contudo, estático, perfeito e infinito, o Ser (nossa natureza sagrada; Espírito de Deus em nós) apenas observa e aguarda pelo reencontro – é a este processo dialógico de descoberta e unificação da alma (Jīva, o ser) com o Espírito (Ātman, o Ser) que se chama de meditação. 

2017-08-12

Bhāvana Namaḥ: um projeto de meditação para todos

“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser. Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.” (Ṛigveda 1.164.20)

“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser.
Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.”
(Ṛigveda 1.164.20)

A proposta do Bhāvana Namaḥ -- projeto de meditação para todos é auxiliar no desenvolvimento das pessoas interessadas na cultura sintrópica e na arte e ciência da meditação. Não há consenso, nem é simples definir de forma abrangente o que é a meditação (veja aqui um pouco da sua origem, história e uma lista de vídeos e pequenos artigos online com os pontos de vista de distintas escolas) Meditar, em essência, significa aquietar o pensamento, testemunhar o ritmo da respiração e fazer o coração vibrar (śraddhā) na frequência do amor puro da energia cósmica de onde surgiu o universo e que nos unifica à nossa transcendente origem. O amor é a lei universal e a base da meditação. O amor e a compaixão acalmam e regulam, naturalmente, a nossa respiração. Representam a verdadeira "técnica" de respiração das práticas de meditação. As técnicas de respiração, simplesmente, são de pouca ajuda, se não estiverem associadas à consciência sintrópica, fonte do sentimento de amor e compaixão.

2017-07-08

Cultura Sintrópica: a amorização universal

A práxis sintrópica e o sentimento de amor universal

O tema da vivência conduzida hoje (08.07.17) na sede da Grande Síntese, por Francisco Barreto, mentor da Universidade do Coração, foi a amorização universal, designada, tecnicamente, como "bhāvana namaḥ". Em poucas palavras, bhāvana namaḥ pode ser entendida como a disciplina fundada na escuta e na rendição ao Ser. A rendição (namaḥ) ao sentimento (śraddhā) provocado pela escuta do Ser (bhāvana) nos conduz à realização espiritual.

A vivência representou uma oportunidade para que todos os presentes pudessem  experimentar desta práxis que nos convida ao exercício de superação dos valores da pós-modernidade e de rendição ao sentimento de amor universal, com o firme compromisso de estabelecer o jejum de pensamentos, palavras, alimentos dos sentidos e de tudo o que possa distrair a nossa atenção do processo de convergência sintrópica para a meta única a ser alcançada por todos os seres, que é a comunhão com o Absoluto (Brahma-sāmīpya) .

2017-03-24

O que devo fazer para me conhecer?

Five Stones
No Mahābhārata1, a princesa Draupadi – destinada a ser a esposa dos cinco príncipes Pāṇḍavas –, surge do fogo! Não conheceu a infância, nem se recorda de sua origem divina. Assim como o príncipe Arjuna, seu primeiro esposo, ela também encontra em Krishna um sacerdote e mentor espiritual. Draupadi sente verdadeira admiração pela estatura e autoridade espiritual de Krishna e por isto sempre que o destino lhe coloca ante um dilema moral e ético, busca o seu conselho e auxílio.  É a ele a quem dirige a pergunta: a fim de saber quem sou eu, o que devo fazer? Em resposta, ouve de Krishna que ela deve adequar-se à essência pura (śuddha) da consciência de sagrado (dharma), antes que às convenções sociais e morais (varṇāśrama-dharma). Necessita estabelecer-se nos cinco pilares onde se assenta o puro dharma que regula a cultura sintrópica: jñāna (conhecimento), dhairya (determinação, coragem, compostura e paciência), prema (amor universal e compaixão), samarpaṇa (dedicação, oferecimento, entrega) e nyaya (justiça). Krishna dá de presente a Draupadi cinco pedras de cristal azul que representam estes cinco fundamentos da cultura sintrópica e lhe diz: “sempre que você estiver em dúvidas, ou com qualquer problema, contemple estes cristais, eles simbolizam os cinco pilares do puro dharma”.