2024-06-04

O Selo do Dharma: uma perspectiva pessoal e sintrópica, desde Mahākāśyapa e Ānanda até Haṃsa Yogi

Buda e a flor de lótus do Sermão da Flor.
No Carnaval de 2024, uma conversa com o marido da minha sobrinha sobre a Filosofia Sintrópica reacendeu em mim a interpretação de uma antiga história budista. A chave para essa compreensão veio sob a influência do Siddha Haṃsa Yogi e se conectava ao selo do dharma, a transmissão direta da experiência da iluminação, independente de palavras ou escrituras. Bodhidharma, fundador da escola de meditação budista chinesa "Chan" (meditação), expressou essa ideia nos versos:

Uma transmissão especial de fora das Escrituras,
Sem depender de palavras e letras
Alcançando diretamente a mente humana;
Vendo a natureza inata, ele torna-se um Buda.

A escola Chan tem origem no Sermão da Flor, onde Buda, em silêncio, segura uma flor e sorri. Apenas Kāśyapa compreende a mensagem e recebe o selo do dharma, tornando-se Mahākāśyapa, o “grande” Kāśyapa. Ele vivia segundo as treze práticas ascéticas do budismo e alcançou, segundo o próprio Buda, a condição de um discípulo iluminado (arhat). A essência da escola Chan, e por extensão do Zen Budismo, reside nessa transmissão direta da experiência.

Mahākāśyapa contrasta com Ānanda, acompanhante próximo de Buda, conhecido por sua memória prodigiosa. Ānanda, guardião dos ensinamentos e intermediário entre Buda e a comunidade monástica (saṃgha), simboliza a importância das escrituras e da tradição oral. Mahākāśyapa, por sua vez, personifica a transmissão direta da iluminação e a ênfase na prática da meditação, características do Zen Budismo, uma escola Mahāyāna. Ambos simbolizam aspectos complementares da tradição budista: a experiência direta da iluminação e a preservação dos ensinamentos.

O budismo Mahāyāna, ao qual o Zen Budismo pertence, enfatiza a natureza búdica inata em todos os seres, a compaixão e o ideal do bodhisattva. O conceito de "Tathāgata-garbha" (embrião do Buda) no Mahāyāna encontra paralelo no conceito de "Ātman" na Bhagavad Gītā, ambos apontando para a centelha divina presente em cada indivíduo.

O selo do dharma, a capacidade de discernir as verdades essenciais das ilusões, relaciona-se à intuição (prajñāstra) na literatura védica. Haṃsa Yogis, portadores do selo do dharma, caminham segundo a experiência direta da lei cósmica, desenvolvendo suas potências latentes (siddhis).

No Mahābhārata, o episódio Rāmopākhyāna explora a esfera das noúres da psicologia cósmica e a relação entre o absoluto e o universo empírico, onde a intuição (prajñāstra) é fundamental. No Mahābhārata, criaturas perigosas e sábios coexistem na floresta. Enquanto as primeiras percebem a realidade através dos sentidos e da inferência, os sábios a compreendem pela experiência mística e intuição (prajñāstra). O significado oculto das coisas se revela à intuição, que ilumina a razão e conduz à libertação.

Minha experiência com as noúres de Haṃsa Yogi me revelou algo desse selo do dharma, fruto de prajñāstra, a percepção do sagrado e da beleza em tudo que é bom e justo. A prática da meditação e da contemplação me permitiu vislumbrar a interconexão e o sagrado de todas as coisas, transcendendo a esfera da própria razão.

Assim, comecei a trilhar o caminho da construção do meu próprio caráter, valendo-me do sentimento intuitivo e sintrópico de autodeterminação. Cada ação e pensamento molda nosso caráter, que, por sua vez, influencia nossa percepção do mundo e nossa intuição. As pequenas experiências do cotidiano revelam a natureza sintrópica do mundo, convidando-nos a avançar por esta via onde o sagrado se revela como conhecimento intuitivo, na medida em que avançamos, ancorados pela confiança em nosso próprio sentimento sintrópico.


Rio de Janeiro, 04.06.24
(Atualizado em 07.06.24)

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