2016-09-26

Śuddha Dhyāna: os três níveis da Meditação Sintrópica (Prática Coletiva)

A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
Apresentamos a seguir o roteiro da prática coletiva de Meditação, conhecida como "As Três Dhyānas". Esta prática pode ser adaptada, ou resumida, e incluída em nossa rotina diária. O ideal é que ela seja realizada logo após o asseio matinal, durante o Brahma-Kāla (período de Brahman: entre as 02h00 e as 06h00), período que antecede o nascer do sol, em um local adequado, limpo e especialmente decorado para esta finalidade. Aqueles que quiserem, podem preparar o ambiente fazendo uso de mantras e canções elaboradas, especialmente, para esse fim.

As Três Dhyānas

INÍCIO (Sete toques no gongo. A voz firme, forte, clara, harmoniosa e agradável. Deixar certo intervalo entre cada frase, para que todos tenham tempo de assimilá-las.)

Em nome do Espírito Universal, damos início à prática de meditação. Sentados em uma posição confortável, com a coluna ereta e o corpo totalmente relaxado, fechemos suavemente os nossos olhos e realizemos três respirações, suaves e profundas, soltando todo o ar dos nossos pulmões.

(Três toques suaves no gongo)

1. Oração para o Bem Estar Universal

औं नमः श्रीपरमर्षिभ्यो योगिभ्यः।
auṁ namaḥ śrī-parama-rṣibhyo yogibhyaḥ.
शुभमस्तु सर्वजगताम्॥
śubhamastu sarva-jagatām.
OM, Saudações aos Grandes Rishis e Yogis.
Que haja bem estar em todos os mundos e planos.

समस्तसिद्धिसंपन्नहर्देश्वरपुरस्त्वहम्।
samasta-siddhi-saṁpanna-hardeśvara-purastvaham.
प्रार्थये सर्व लोकेभ्यः शुभं नित्यं भवत्विति॥
prārthaye sarva lokebhyaḥ śubhaṁ nityaṁ bhavatviti.
Invocamos a graça do Soberano Morador do coração, de infinita realização,
para que o bem estar eterno floresça em todos os mundos.


2. Śaraṇāgati (entrega, rendição) Mantra, também conhecido como Sūrya Namaskāra (saudação ao Sol)

अहमस्मि अपराधाणां आलयो अकिञ्चनो अगतिः।
ahamasmi aparādhāṇāṁ ālayo akiñcano agatiḥ.
त्वमेव उपायभूतो मे भव॥
tvameva upāyabhūto me bhava.
Estou aqui prostrado, sem nenhum conhecimento [da verdade] e cheio de faltas1.
Vem Tu a mim, Senhor! E purifica o meu ser.

3. Prārthanā (Invocação) pela nossa elevação espiritual

नमस्ते नरदेवाय नमो नारायणाय च।
namaste naradevāya namo nārāyaṇāya ca2
बदरीवननाथाय योगिनां पतये नमः॥
badarīvana-nāthāya yogināṁ pataye namaḥ.
Namastê, Naradeva! Saudações a ti e a Nārāyaṇa,
o Supremo Regente de Badarīvana e Senhor dos Yogis.

नारायणम् नमस्कृत्य नरं चैव नरोत्तमम्।
nārāyaṇam namaskṛtya naraṁ caiva nara-uttamam3
देवीं सरस्वतीं व्यासं ततो जयमुदीरयेत्॥
devīṁ sarasvatīṁ vyāsaṁ tato jayamudīrayet.
Invocando a graça de Nārāyaṇa, de Nara (o mais elevado representante humano), de Śrī Yoga Devī em seu aspecto como Sarasvatī e de Vyāsa, busco a vitória.

नरनारायणाज्जातौ जगतः स्थितये स्थितौ।
nara-nārāyaṇājjātau jagataḥ sthitaye sthitau
शुद्धसंकल्पनाथौ च वन्दे कृष्णार्जुनौ सदा॥
śuddha-saṁkalpanāthau ca vande kṛṣṇārjunau sadā.
Sempre me curvo ante Krishna e Arjuna, nascidos de Nārāyaṇa e Nara, os progenitores da ideação śuddha, sempre envolvidos com a proteção do mundo.

4. Prārthanā (Invocação) para a cooperação no Plano Divino

उपासे शुद्धविज्ञानं शुद्धज्योतिस्वरूपिणं।
upāse śuddha-vijñānaṁ śuddha-jyoti-svarūpiṇaṁ
शुद्धसत्त्वमण्डलस्थमीश्वरं तं सनातनम्॥
śuddha-sattva-maṇḍalastham-īśvaraṁ taṁ sanātanam
Eu contemplo em meu coração o Senhor de tudo, o Eterno, o Absoluto, a Pura Inteligência, da Forma Radiante da Luz Pura e que existe na esfera da essência pura do Ser.

प्रपन्नपारिजाताय योगश्रीदण्डधारिणे।
prapanna-pārijātāya yogaśrī-daṇḍadhāriṇe
योगदेवीसनाथाय योगमुद्राय योगिने॥
yoga-devī-sanāthāya yoga-mudrāya yogine
Saudações a Ti, o cumpridor de todos os desejos justos daqueles que buscam refúgio em Ti; o Yogin que, em atitude yóguica e empunhando o cetro da autoridade espiritual, atua, juntamente com Yoga Devī, como o Senhor de tudo.

नारायणाय देवाय सनरायामितात्मने।
nārāyaṇāya devāya sanarāyāmitātmane
लोकनाथाय शान्ताय गुरवे ब्रह्मणे नमः॥
lokanāthāya śantāya gurave brahmaṇe namaḥ
A ti, Senhor Nārāyaṇa, em companhia de Nara e do Supremo Espírito; ao Senhor de toda a criação, de paz eterna e o dissipador da ignorância; e ao Supremo Brahman.

सिद्धार्चितपदाब्जाय बदरीवनवासिने।
siddhārcita-padābjāya badarīvanavāsine
कुमारदक्शिणामूर्तिस्वरूपायाऽखिलात्मने॥
kumāra-dakśiṇāmūrti-svarūpāyā'khilātmane
A Ele, o Espírito imanente, que se manifesta separadamente como Kumāra, Dakśiṇāmūrti e cujos pés de lótus são adorados pelos Siddhas residentes em Badarīvana,

सर्वयन्त्रनिवासाय सर्वमन्त्रार्थरूपिणे।
sarva-yantra-nivāsāya sarvamantrārtha-rūpiṇe
यथाकालं हि साधुभ्यो धर्मदात्रे नमोनमः॥
yathākālaṁ hi sādhubhyo dharmadātre namonamaḥ
Saudações a Ele, a deidade que preside sobre todos os yantras, que representa o significado de todos os mantras e hinos sagrados e que é o grande proponente do Dharma para a orientação dos aspirantes de acordo com as necessidades de cada época.

योगदेवीं महादेवीं सर्वशक्तिस्वरूपिणीम्।
yogadevīṁ mahādevīṁ sarva-śakti-svarūpiṇīm
प्रपध्ये लोककैङ्कर्यसिद्धये ब्रह्मभूतिदाम्॥
prapadhye lokakaiṅkarya-siddhaye brahmabhūtidām
Para o adequado cumprimento da ação no mundo, eu me rendo a Yoga Devī, a Mãe Divina, a personificação de toda a forma de energia (śakti), a outorgadora da graça espiritual.

5. Gāyatrī Mantra (Mantra de 24 sílabas  – gāyatrī)

Oṃ [bhūr bhuvaḥ svaḥ] tát savitur váreṇyaṃ4
bhárgo devásya dhīmahi
dhíyo yó naḥ pracodáyāt
OM. Saudamos (vareṇyaṃ) o Ser Supremo (Tat), possuidor de efulgência cósmica (savitúr). Meditamos (dhīmahi) com a mente fixa e absorta (dhíyo yó naḥ) na divindade (devásya), para que ela possa nos inspirar (pracodáyāt) e iluminar (bhárgo).

A gāyatrī tem três  ślokas (versos) de oito sílabas cada, perfazendo o total de 24 sílabas. Não consta da gāyatrī no texto do Rigveda Samhita o verso bhūr bhuvaḥ svaḥ (plano físico, plano entre o sol e a terra e paraíso). Para incluir este verso, as versões contemporâneas do Gāyatrī Mantra deslocam o OM e substituem o tríssílabo vareṇyaṃ pelo quadrissílabo vareṇiyaṃ, de mesmo sentido.

6. Mangala Gāyatrī (Cântico Auspicioso)

अभेदानन्दं सच्चित्रं परं ब्रह्म वेद सः।
abhedānandaṁ saccitraṁ paraṁ brahma veda saḥ
योऽव्ययात्मा समचित्तरङ्गः॥
yo'vyayātmā samacittaraṅgaḥ
O imperecível Ātman é felicidade plena; sua forma é a verdade, a mais excelsa manifestação do Supremo Brahman, Aquele cuja mente é um campo de equilibrio,

देवीं कल्याणशक्तिं प्रपध्य सर्वं प्रविशति।
devīṁ kalyāṇaśaktiṁ prapadhya sarvaṁ praviśati
अमृतोऽहमजरोऽहं लोकेभ्यः सुखमेधताम्॥
amṛto'hamajaro'haṁ lokebhyaḥ sukhamedhatām
Quem sabe isto e que é devoto da Devī (Mãe Divina), a auspiciosa Śakti (energia), entra no todo. Imortal sou eu; sem idade sou eu. Que os mundos alcancem a bem-aventurança.

ओं श्रीं सौः श्रीं सौः श्रीं सौः॥
oṁ śrīṁ sauḥ śrīṁ sauḥ śrīṁ sauḥ5
(Três toques suaves no gongo)



7. Svatantra6 Mantra (Ājñā Chakra: ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala) 

ॐ हंसस् सोऽहं योगेश्वरीं ह्रीं स्वाहा 
OM haṃsas so'haṃ yogeśvarīṃ hrīṃ svāhā  (108 vezes)
OM, eu sou o Eu Sou, saudações a Śrī Yoga Devī.

8. Gītā Mantra (Ājñā Chakra: onde termina a dualidade )

ॐ नमो नारायणाय
OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA (108 vezes)

O mantra OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA conota, de forma sintética [como um arquivo zipado], os três níveis ciência da meditação (Saguṇa, Nirguṇa e Śuddha) de que trata a Bhagavad Gitā, onde Arjuna e Krishna representam, respectivamente, o par Nara-Nārāyaṇa. Nara designa o ser humano e Nārāyaṇa o Ser Imutável, que é a expressão do sagrado. Deste modo, o mantra OM NAMO NĀRĀYANĀYA nos remete à passagem do Ṛigveda (1.164.20) onde ocorre a primeira referência relativa à ciência da meditação:
Dois pássaros com belas asas, companheiros inseparáveis, encontraram refúgio e abrigo na mesma árvore. Um deles se alimenta dos doces frutos da figueira; o outro, sem se alimentar, apenas observa... 
Esta passagem, em forma da metáfora, relaciona a Pessoa Humana com o Sopro Universal que a Anima. Ela reaparece na  Māntrika Upaniṣad (Upaniṣad do praticante de mantras), logo em seu verso de abertura, e também na seminal Muṇḍaka Upaniṣad (3.3.1). Ela nos traz à consciência a imagem de que os seres humanos são seres divididos interiormente e que buscam o despertar de um processo psicológico de individuação.

O mantra OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA, portanto, nos conecta com as origens e com a história de como a Ciência da Meditação ressurge revitalizada na Bhagavad Gitā. Além disto, ele nos prepara para a meditação, propriamente dita. Ao pronunciar a primeira sílaba, OM, devemos imaginar que estamos dentro do Espírito Cósmico que, por sua vez, está dentro e fora de nós, compenetrando o Universo Infinito. NAMO indica rendição e a expressão NĀRĀYANĀYA indica a NĀRĀYANA, o Ser Imutável, como o objeto de nossa rendição plena de felicidade.

OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA, deste modo, refere-se à atitude mental de entrega ao aspecto de ĀTMAN, que representa o Ser Imutável, presente em nós e simbolizado na pessoa de todos os grandes seres que elegemos como objeto de nossa devoção. Como se dá esta atitude mental de entrega? Tomemos como um exemplo a seguinte cena: um garoto, perseguido por um animal selvagem, grita por auxílio. Logo vê os pais e corre para os seus braços, entregando-se à proteção deles. Já não corre, nem se esforça em combater o animal; ele se entrega plenamente à destreza dos pais e, seguro da sua proteção, sente a alma cheia de felicidade. Do mesmo modo devemos fazer enquanto entoamos este mantra mentalmente, ou em voz baixa e suave.

 Repitam: OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA (2x54 = 108)

(Três toques suaves no gongo)



9. Preparação para a Saguṇa Dhyāna: Ācārya- paramparā-vandanam 
Saudação [vandanam] aos mestres espirituais [Ācārya] das distintas tradições religiosas [paramparā]

अस्मत् गुरुभ्यो नमः।
Asmat gurubhyo namaḥ.
अस्मत् परमगुरुभ्यो नमः।
Asmat parama-gurubhyo namaḥ.
अस्मत् सर्वगुरुभ्यो नमः॥
Asmat sarva -gurubhyo namaḥ.

Saudações aos mestres (guru-s),
Saudações aos mestres dos mestres,
Saudações a todos os mestres.

10. Saguṇa Dhyāna (Ājñā Chakra: ponto de encontro de Iḍā e Piṅgala, onde termina a dualidade) (duração média: 5 min)

1. Sentados confortavelmente, com a coluna vertebral ereta.
2. Os olhos e a boca suavemente fechados.
3. O corpo relaxado, sem a menor contração muscular.
4. Esqueçamo-nos de todas as preocupações mundanas.
5. Plenos de felicidade, unificamo-nos mentalmente com o glorioso resplendor do Ser, simbolizado na pessoa divina e santa, objeto de nossa devoção, que pode ser Nārāyaṇa, ou a figura de um Bodhisattva, ou do nosso anjo guardião, ou de uma divindade específica de nossa tradição religiosa.
6. Com a respiração bem suave, absolutamente tranquila, sem nenhum esforço (1-0-1), e o pensamento concentrado entre as sobrancelhas e/ou na ponta do nariz, simplesmente imaginemos estar, através do Éter Universal, ante a Divina Presença do ser objeto de nossa contemplação.
7. Coloquemos o pensamento entre as sobrancelhas, imaginando estar ante a presença Radiante desse Ser. Não há que se esforçar em visualizá-lo, deve se ter unicamente a impressão de estar, através do Éter Universal, ante sua Divina Presença.
8. Não há que se preocupar em rechaçar os pensamentos que chegam. Basta retomar o foco original, realizando a entrega  de nosso ser à proteção divina.

(Três toques suaves no gongo)

11. Prāṇāyāma: Preparação para a Nirguṇa Dhyāna (duração média: 5 min)

Sentados, em uma posição confortável, com a coluna ereta e o corpo totalmente relaxado, fechemos os nossos olhos e demais sentidos externos e nos concentremos em nossa própria respiração.

Gradualmente, acalmamos a nossa respiração, inspirando e exalando o ar pelas narinas de maneira bem tranquila e suave. Respiremos como se as nossas narinas não tomassem parte nesse processo. Respiremos bem suavemente, como se a nova respiração se desse a partir da nossa garganta, não de nossas narinas. Deixemos de lado as preocupações externas, simplesmente inspirando paz e irradiando amor, voltando a nossa atenção, unicamente, para o nosso processo de respiração. Vamos, aos poucos, experimentando o estado de testemunha desse processo, como na metáfora dos dois pássaros descrita no Rigveda.

Inspiremos paz e exalemos amor. Inspiremos paz e exalemos amor. Permaneçamos assim, testemunhando o fluxo do alento vital em nosso ser até nos sentirmos confortáveis para darmos início à Nirguṇa Dhyāna.

Com a respiração suave, plenos de amor e alegria, imaginamos que estamos, lentamente, nos aproximando da divina presença em nossos corações.

12. Nirguṇa Dhyāna (Anāhata - Ātma Chakra) (duração média: 10 min)

Com o pensamento concentrado entre as sobrancelhas e/ou na ponta do nariz, contemplemos a pura e radiante centelha da vida que reside em nosso coração. Atentos ao ritmo suave da nossa própria respiração, contemplemos como ela nos dirige ao Anāhata, o Chakra do coração, esta fonte de amor universal, radiante como a luz do sol, que se expande até a imensidão do infinito, envolvendo no mais puro AMOR a toda a criação. Aos poucos a nossa mente silencia e repousa na luz do coração. Luz que é amor puro e que se irradia do nosso peito para todos os seres e para todo o universo. Luz que reflete e revela a presença divina em nós.

(Três toques suaves no gongo)

13. Śuddha Dhyāna (Sahasrāra - Estado de pura consciência, sem sujeito e objeto, OM) (10 min)

Śuddha Dhyāna é a experiência de identidade com a causa primeira do cosmos, que a tudo deu origem. É a contemplação silenciosa, sem nenhuma perturbação da mente, do instante anterior ao surgimento do universo e que no leva a afirmar que tudo, verdadeiramente, é Brahman "Sarvam Tat Khalvidam Brahm".

“Bhāvana”, a contemplação  da Unidade que conduz à Śuddha Dhyāna:
Cultivo o sentimento universal de amor de que todas as coisas surgem do Supremo Espírito, que a tudo compenetra e a tudo sustém em uma ordem constante e em vida eterna. Cultivo o sentimento universal de amor de que todos os seres, tanto inferiores como superiores, participam de uma mesma vida e formam nos espaços infinitos um só corpo cósmico.
Com o pensamento concentrado entre as sobrancelhas imaginemos, plenos de amor, do fundo do coração, que estamos entrando em sintonia com a energia sintrópica de onde surgiu o universo. Imaginemos que estamos atraindo pelo Chakra coronário, Sahasrāra, esta Energia Cósmica de Amor, a energia de BRAHMAN, conhecida como BRAHMA ŚAKTI, que nos unifica ao transcendente Brahman, ou PARABRAHMAN. O PARABRAHMAN é o Sūtra-Ātma-Cósmico que, como o fio de um colar, abarca, compenetra e transcende toda a finitude. Manifestando-se em todos os reinos -- mineral, vegetal, animal, humano e supra-humano como o Supremo Brilho da Consciência Sintrópica – representa a fonte amorosa de onipotente poder de onde procedem todas as formas de Vida.

Após termos nos recolhido para o interior de nós mesmos, vamos agora, aos poucos, fazer cessar os movimentos da consciência, até que a batida do nosso coração vibre na frequência do OM, o ruído de fundo da radiação cósmica que deu origem ao universo. OM é o som da manifestação cósmica de Brahman. É o som do universo em expansão e expressa a origem de onde tudo surgiu.

(Três toques suaves no gongo)

14. Upasthāna (Trazendo à Memória em forma de Agradecimento Final): Saudação a Śrī Yoga Devī (5 min)

जितं ते परमेशानि नमस्ते शुद्धलक्षणे । (ŚRY 113)
jitaṁ te parameśāni namaste śuddhalakṣaṇe
योगदेवीं नमस्तुभ्यं गच्छ सौम्ये यथासुखं ।।
yogadevī namastubhyaṁ gaccha saumye yathā-sukhaṁ.
Saudações a Ti oh Yoga Devi, possuidora de suprema soberania e das mais refinadas qualidades divinas. Prostro-me ante Ti, suplicando que deixes a tua graça sobre nós pelo tempo que lhe agrade.

त्वत्प्रसादाज्जगत्सर्वं शुभमस्तुनिरामयं। (ŚRY 114)
tvat-prasādājjagatsarvaṁ śubhamastu-nirāmayaṁ7.
दासाः सर्वेऽपि सुखिनः सन्तु कालः सुखावः।।
dāsāḥ sarve'pi sukhinaḥ santu kālaḥ sukhāvaḥ
Que por tua graça, todos os seres alcancem bem-estar, saúde e pureza integral. Que todos os Teus devotos servidores obtenham sempre felicidade e prosperidade.

शुद्धयोगब्रह्मविद्या वर्धतां त्वत्प्रसादतः। (ŚRY 115)
śuddha-yoga-brahma-vidyā vardhatāṁ tvat-prasādataḥ
बुद्धिमान्नितिमान्वाग्मी स्रीमान्स्यामखिलेस्वरः।।
buddhimān-nitimān-vāgmī srīmān-syāmakhilesvaraḥ
Que o conhecimento da Śuddha Yoga Brahma Vidyā, ou a sagrada ciência espiritual, prospere por tua divina graça. Infunde em nós força moral e uma claríssima inteligência para que as nossas palavras possam ser sempre agradáveis e úteis  e para que utilizemos com dignidade todos os poderes a nós confiados.

 OM     HRIM     ŚRIM     KLIM     AIM     SAUḤ

 

Assim termina esta sagrada prática de meditação. Vamos agora nos dedicar, cheios de alegria, aos nossos  afazeres diários, (1) plenos de confiança para enfrentar com êxito e sem medo todos os obstáculos que a vida nos apresentar e (2) reconhecendo em todas as nossas atividades uma oportunidade de praticarmos a meditação enquanto meditação na ação, que é que nos leva à compreensão de que a vida toda pode ser vivida como uma meditação.

Irradiemos amor e alegria a todos os seres, pronunciando três vezes a sagrada sílaba OM.

(Três toques suaves no gongo)


OM TAT SAT
NAMASTÊ


***

N O T A S

(1) Apresentemos as nossas faltas diante da Consciência Suprema. Não tentemos nos esconder de nossa própria consciência, que expressa a presença do Ser Sagrado em nós. Sejam quais forem os erros cometidos, reconheçamos as nossas limitações e tenhamos sempre em mente que os representantes do Ser Supremo nunca nos criticam e condenam. Apenas aguardam e nos estimulam para que nos levantemos e continuemos tentando, até alcançarmos a vitória e a liberdade. Sempre que cometermos um erro, devemos pedir sabedoria e força para não reincidir no erro. Este é o sentido do  nosso Livre-Arbítrio que, amparado pela Lei do Amor, gradualmente, nos conduz à genuína Liberdade.

(2) Há 32 letras neste śloka (verso). Cada letra representa a primeira letra do nome dos 32 Siddhas (seres celestiais) que constituem a Hierarquia do Śuddha Dharma presidido por Nārāyaṇa.

(3) Este é o verso de abertura do Mahābhārata.

(4) A gāyatrī tem três  ślokas (versos) de oito sílabas cada, perfazendo o total de 24 sílabas. Não consta da gāyatrī no texto do Rigveda Samhita o verso bhūr bhuvaḥ svaḥ (plano físico, plano entre o sol e a terra e paraíso) que aparece nos vídeos abaixo. Para incluir este verso, as versões contemporâneas do Gāyatrī Mantra deslocam o OM e substituem o trissílabo vareṇyaṃ pelo quadrissílabo vareṇiyaṃ, de mesmo sentido, conforme exemplifica o vídeo a seguir.


(5) Os bīja (semente) mantras, ou mantras de uma única sílaba, representam as mudas de onde nascem os demais mantras utilizados nas práticas de meditação. De todos os bīja mantras, o mais conhecido é o Praṇava OM (ॐ), origem de todos os bījas. “Praṇava” é um termo sânscrito que significa “controlador e dispensador do alento vital (prāṇa)”. Segundo outra etimologia (Yoga Sūtra I.29), o termo “praṇava” deriva de “pra” (antes, adiante) e “nava” (som, grito primal de exaltação) e designa o som primordial que reverbera dentro do sagrado recôndito do nosso coração e dos canais nervosos do nosso corpo. O Praṇava corresponde à respiração da criação cósmica e representa a voz (va) do prāṇa. Diz-se que a energia de qualquer mantra depende de sua bīja. Alguns exemplos de bījas que costumam compor os mantras seriam as bījas que representam os cinco elementos (pañcamahābhūta): (1) Terra: Laṃ; (2) Água: Vaṃ; (3) Fogo: Raṃ; (4) Ar: Yaṃ; e (5) Éter: Khaṃ. Dentre as principais, entretanto, encontram-se as seguintes:

1. Aiṃ, bīja associado a Sarasvati, ao despertar da sabedoria e à energia do som;
2. Kriṃ, bīja associado a Kali, à criatividade e aos processos de transformação;
3. Kliṃ, bīja associado a Krishna, à transcendência sobre os objetos dos sentidos, a beatitude e a energia magnética do amor e da devoção;
4. Gaṃ, bīja associado à Ganesha e à superação dos obstáculos;
5. Duṃ, bīja associado a Durga e ao ato de proteger;
6. Śriṃ, bīja associad a Lakshmi e à prosperidade; energia lunar;
7. Hriṃ,  bīja associado à Brahma-sakti, a energia de Brahman; energia solar; e
8. Sauḥ, bīja do coração, o hṛdaya-bīja, associado à pulsação que faz a energia kuṇḍalinī acordar no aspirante.

Destes bījas derivam-se, por exemplo, os mantras Hriṃ Śriṃ Kriṃ, que representa o processo de criação, manutenção e reintegração do cosmos, e o Sundari Mantra do Shivaismo, OM Hriṃ Śriṃ Kliṃ Aiṃ Sauḥ, mostrado no vídeo abaixo, que é parte também do mantra de Śrī Yoga Devī, reproduzido mais acima.



(6)  Krishna revela a Arjuna nBhagavad Gītā o ancestral Śuddha Yoga, superior todos os demais yogas, chamados, conjuntamente, de yoga-garbhatva, ou seja, yogas preliminares, em fase de gestação. Estes orientavam os discípulos a cada passo, segundo um código de etiqueta  que regulava como cada um deveria se comportar. Denomina-se a este tipo de relação e dependência absoluta a um guru externo como paratantra. O diálogo de Krishna com Arjuna é uma crítica a esses sistemas de yoga. De um lado, pode-se dizer que a maioria dos gurus e instrutores de yoga ainda desconhecem o sentido e a essência do ensinamento de Krishna acerca da genuína liberdade (svatantra). Por outro lado, contudo, também é verdade que o svatantra de Krishna influenciou os ensinamentos das mais distintas escolas de yoga, suavizando, consequentemente, o rigor autocrático, característico dos Instrutores Espirituais e dos seus respectivos códigos de etiqueta (veja aqui um exemplo). Em muitos casos, os iogues de tais sistemas submetiam-se a várias torturas e sacrifícios inúteis, permanecendo totalmente incapazes de apreciar a ampla liberdade, svatantra, que caracteriza o puro e autêntico Yoga. O Instrutor Espiritual Sri Janardana trata deste assunto em diversas de suas cartas a Sri Vajra Yogi Dasa, seu discípulo, e em especial, daquela datada de 03.09.1959 e de posse da seção chilena da organização externa do Suddha Dharma Mandalam.

(6) "Nirāmaya" denota pureza integral, saúde e bem estar. Daí o sentido mais popular de "livre de toda a dor".
Próximo texto: A Meditação Cristã: a Oração do Coração e o Decreto de Exaltação do Nome de Jesus

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2016.
(Atualizado em 27.04.23.)

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