2025-06-01

A Alta Performance no Śraddhā Yoga: Do Ego ao Som

Na filosofia sintrópica do Śraddhā Yoga, a expressão “alta performance” não se refere à performance medível por padrões externos, mas à arte de agir em plena consonância com o dharma — a lei do equilíbrio universal (ṛta). Tal performance nasce da sintonia entre manas e buddhi, entre o desejo e a inteligência amorosa, entre o fazer e o ser. Quando a ação se alinha com a sabedoria do coração, ela cessa de ser expressão do ego e se torna gesto do Ser: oferenda, respiração lúcida, arte em estado de verdade.

Assim compreendida, a alta performance é fruto de śraddhā: o ardor luminoso que emana do coração silencioso e que guia o agir. Ela não nasce do esforço de ser perfeito, mas do sentimento intuitivo de ser veículo da perfeição imanente. Como ensina a Bhagavad Gītā (2.50), o verdadeiro yogin é aquele cuja ação se torna arte, cuja prática se transforma em sabedoria, e cujo movimento é guiado pela luz da clareza interior.

1. Técnica como suporte da liberdade

No Śraddhā Yoga, não se busca eliminar a técnica, mas purificá-la de seus grilhões. A maestria técnica é necessária, mas apenas como suporte para a liberdade espiritual. Assim como um músico precisa dominar o instrumento para libertar a música que o habita, o sādhaka precisa harmonizar a mente com o coração para libertar a luz do Ser que brilha nesse espaço interior.

Não se trata de reprimir o funcionamento da mente, mas de inundá-la com a pura luz de amor do coração. A técnica doma o cavalo da mente, mas é śraddhā que guia as rédeas que o conectam ao coração. E assim, guiada por śraddhā, a mente deixa de ser obstáculo e se transforma em ponte.

2. Da prática ao rito: a arte como oferenda

Há uma diferença entre agir para alcançar um fim e agir como expressão de quem já encontrou seu centro. A alta performance, nesse sentido, não é o cume de uma conquista, mas o transbordamento de uma realização interior.

A ação torna-se rito, a arte realiza satya tyāga. Cada gesto, nota ou palavra passa a revelar o invisível — não como virtuosismo, mas como verdade ofertada. A performance não é mais espetáculo, mas comunhão.

3. Do ego ao som: desaparecimento e doação

Quando o ego se purifica na clareza da buddhi, o som emerge como revelação. Não se trata mais de “tocar bem”, mas de permitir que o som revele o silêncio do Ser. A alta performance, então, não é o brilho do ego, mas sua transparência. Haṃsa alça voo quando o eu repousa e o ego se dissolve no sopro.

A música que nasce desse estado não é produzida: ela é revelação. O corpo é instrumento, a mente é meio, o coração é altar.

4. Śraddhā como eixo: do foco à entrega

Mindfulness cultiva o foco em um objeto particular, ou na realidade em movimento. Śraddhā Yoga cultiva o eixo imóvel da roda, de onde brota todo movimento. Não basta a presença: é preciso sentir o ardor da unidade.

A atenção plena, por si só, ainda é centrada na mente. Śraddhā, ao contrário, orienta o foco ao coração — tornando-nos instrumentos vivos da manifestação dos dons e expressões da perfeição transcendente.

Não se trata de estar apenas atento, mas ardorosamente presente. Assim, o praticante não age para provar algo, mas para revelar algo. Aquilo que o habita já está pronto. Basta viabilizar sua manifestação.

✨ Epílogo
Alta performance, no Śraddhā Yoga, é cântico silencioso que encanta — não pelo triunfo do ego, mas pela escuta do Ser, do Som da eternidade que se revela no tempo.


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Rio de Janeiro, 01 de junho de 2025.

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