O Mahābhārata, épico indiano repleto de ensinamentos, narra a história dos cinco Pāṇḍavas, que, além de guerreiros, personificam virtudes essenciais para o desenvolvimento espiritual. Krishna, na Bhagavad Gita, os guia para o Śraddhā Yoga, o caminho do coração, revelando a importância de buscar a essência pura da consciência de sagrado (dharma), que transcende as convenções sociais (varṇāśrama-dharma). Esse puro dharma se manifesta em cinco pilares: jñāna (conhecimento), dhairya (determinação), prema (amor universal), samarpaṇa (dedicação) e nyaya (justiça). Cada Pāṇḍava, de forma única, representa um desses pilares, conectando-se profundamente com os princípios do Śraddhā Yoga.
What is the secret behind the five Pāṇḍavas?
1. Sahadeva: A personificação de samarpaṇa, o oferecimento de si. Lembra-nos da importância de Satya Tyāga1, a constante busca pela verdade e o desapego do efêmero. Como um devoto que se entrega à divindade, Sahadeva nos inspira a viver em constante entrega ao sagrado.
2. Bhīma: Representa jñāna, o conhecimento aplicado (vijñāna), sempre imbuído de gratidão (Upasthāna). Assim como Bhīma utiliza sua força com sabedoria, somos encorajados a aplicar nosso conhecimento com discernimento e gratidão, buscando a impecabilidade em nossas ações.
3. Yudhiṣṭhira: Simboliza dhairya, a determinação inabalável (Saṃkalpa). Yudhiṣṭhira, mesmo diante das adversidades, mantém a compostura e a coragem. Seu exemplo nos guia a cultivar a perseverança e a força interior para seguir o caminho do dharma.
4. Nakula: Encarna nyāya, a justiça e a capacidade de recomeçar (Viniyoga). Nakula, com sua persistência, nos ensina a jamais desanimar, buscando sempre o equilíbrio e a justiça em nossas ações. Através do estudo, do ensino e da constante auto-reflexão, encontramos a força para seguir em frente.
5. Arjuna: Traduz prema, o amor devocional e a capacidade de fazer de toda atividade uma meditação no coração. (Ṛṣi-nyāsa). Como Arjuna, que encontra em Krishna seu guia e amigo, somos convidados a cultivar o amor incondicional e a união com o divino em cada momento de nossas vidas.
Os Três Pilares da Prática
O Śraddhā Yoga se sustenta em três pilares:
- Bhāvana (Ideação): Cultivar a percepção das excelências divinas (Vibhūti-cintā2) e a reflexão sobre o conhecimento (Jñāna-cintā).
- Karma (Ação Correta): Viver em constante lembrança de nossas resoluções (Saṃkalpa-cintā) e transformar cada ação em uma oferenda (Karma-cintā).
- Dhyāna (Meditação): Contemplar a manifestação do cosmos (Brahma-cintā), buscando a união com a fonte divina.
Seguir os passos dos Pāṇḍavas e cultivar os pilares do Śraddhā Yoga significa, em suma, trilhar o caminho do coração, que nos conduz à Meta Suprema.
N O T A S
(1) As cinco potências materiais de śraddhā:
- Satya Tyāga: a lembrança constante das resoluções tomadas; do modo correto de atuar e nos relacionar com todos os seres; da arte de morrer para o efêmero e despertar para o sagrado; e do esforço de compreensão de que tudo é divino e maravilhoso;
- Upasthāna: a graça de praticar conscientemente, o tempo todo, o Dhyāna Mantra, buscando a impecabilidade nas ações, sendo grato e rogando para que os mestres nos perdoem, se houver em nosso esforço algo de impuro, impróprio, inadequado, ou que seja excessivo;
- Saṃkalpa (Śreyas e Preyas): a determinação de aprimorar os hábitos do corpo e da mente e adequar-se à essência do dharma;
- Viniyoga: o poder de não desanimar e ajustar o estado de sintonia fina da mente com o sagrado coração, por meio do: (1) estudo; (2) ensino; (3) sacrifício de si mesmo; (4) sacrifício pelo próximo; (5) rendição ao sagrado; e (6) plena aceitação da Vontade Suprema, a Graça; e
- Ṛṣi-nyāsa: fazer de toda atividade uma meditação, em comunhão, no coração, com a deidade (Śraddhā); que se expressa na Perfeita Alegria (Ānanda).
- Vibhūti-cintā, ou seja, a ideação e a percepção (cintā) das excelências (vibhūti) divinas que compõem o universo manifestado;
- Jñāna-cintā, a ideação da unidade e a reflexão lógica e crítica (cintā) sobre todo o conhecimento (jñāna) adquirido e testado na práxis do cotidiano;
- Saṃkalpa-cintā, a lembrança constante (cintā) das resoluções (saṃkalpas) tomadas, de uma vez por todas e para sempre (Ananta he!);
- Karma-cintā, a reflexão (cintā) sobre o modo correto de atuar no mundo e o exercício (karma) constante para fazer de toda ação uma meditação na ação; e
- Brahma-cintā, o esforço de Brahma-sāmīpya, ou de contemplação da ideação (cintā) sintrópica da projeção parcial do infinito Brahman durante o processo de manifestação do cosmos.
Rio de Janeiro, 06.04.22
(Atualizado em 21.01.25)
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