2023-10-07

O Sentimento Sintrópico e os desafios para a sua plena compreensão

Imagem que me levou a intuir em um único flash toda a essência da tese
Imagem que me levou a intuir, em um único flash,
a centralidade de śraddhā  na Bhagavad Gītā.
Este texto explora o sentimento sintrópico, chamado de "śraddhā" em sânscrito, e seu papel crucial na cultura sintrópica do novo milênio, promovendo o desenvolvimento sustentável global.

Baseado na Ṛta, uma lei cósmica do Ṛgveda, o sentimento sintrópico é desenvolvido no Mahābhārata, ilustrando processos entrópicos e sintrópicos que nos levam do caos (saṃsāra) ao sagrado (nirvāṇa). Este sentimento espiritual guia para uma cultura universalista e laica, fundada nas práticas de meditação, na compaixão, na ciência do yoga e na conexão com o sagrado, caracterizando aqueles sábios que confiam na validação intuitiva, não em meros sistemas de crenças.

A tradição budista, representada pelo termo "saddhā" em Páli, também enfatiza a importância da sintonia com a ordem cósmica por meio do sentimento sintrópico. Assim como nos textos hindus mencionados acima, nos textos budistas a meditação também é vista como o meio para cultivar esse sentimento amoroso, promovendo a cultura sintrópica e guiando-nos do saṁsāra ao nirvāṇa. Essa visão está presente no Bodhicaryāvatāra de Śāntideva, um guia para o estilo de vida do Bodhisattva, que enfatiza a purificação e a iluminação da mente (bodhi-citta), levando ao estado de bodhi-sattva, onde a mente (citta) é iluminada. A Doutrina (Dhamma) dada pelo Senhor Buda enfatiza este entendimento quando oferece a sua definição de meditação a partir do termo "bhāvanā" (cultivo). A meditação envolveria o cultivo do sentimento sintrópico capaz de iluminar a mente. Por isto, antes de exercerem qualquer crença, os budistas procuram sentir por si próprios, de forma intuitiva, a sua verdade.

No Ocidente, duas barreiras limitam a nossa compreensão do sentimento sintrópico: a crença na superioridade da cultura judaico-cristã e a visão equivocada de que a ciência e a espiritualidade são categorias mutuamente exclusivas. Apesar da presença implícita do sentimento sintrópico no próprio cogito cartesiano, base da ciência moderna, esses dois princípios ainda operam em conjunto, inibindo a atualização sintrópica da nossa visão de mundo.

Esta dificuldade para se explorar a centralidade do sentimento sintrópico no âmbito da ciência e da cultura ocidental está ilustrada no conhecido paradoxo da carne. Ele surge como um dilema ético, questionando nossa capacidade de amar a natureza e os animais enquanto continuamos a consumir carne. Essa dissonância cognitiva emerge da crença injustificada de que o seu consumo é natural, normal, necessário e perfeitamente ético. No entanto, a existência de pessoas vegetarianas e saudáveis desafia essas justificativas que, embora racionais, ignoram os sentimentos. O sentimento sintrópico anula o poder desta "camuflagem" racional para salvaguardar o sistema de crenças infundadas, que vêm à tona sob a forma deste paradoxo. Assim sendo, somente a repressão do sentimento sintrópico de compaixão nos permite ignorar o sofrimento animal e manter uma dieta à base de carne sem sentir culpa. Entretanto, não há dúvidas de que as pessoas se tornam melhores quando trilham a via da práxis sintrópica, fundada no sentimento amoroso, antes que em qualquer sistema de crenças. Onde há mais amor, há mais justiça, há mais paz e o mundo é melhor.

O vegetarianismo não é uma ideia nova; a sua prática remonta a civilizações antigas incluindo a pré-indiana do Vale dos Indus e figuras como o filósofo jainista Mahavira, o Senhor Buda e imperadores indianos como Ashoka, que promoveu a dieta vegetariana em todo o reino após se converter ao budismo. No ocidente, foi defendida por filósofos como Pitágoras, Empédocles, Teofrasto, Ovídeo, Seneca, Plutarco, Plotino e Porfírio. Esses pensadores de mentes sintrópicas reconheceram a conexão entre a nossa dieta e a espiritualidade, promovendo o sentimento de compaixão pelos seres vivos. Pitágoras percebe que o sacrifício de animais embrutece a alma das pessoas. Alguns séculos mais tarde, no início da era cristã, o filósofo neoplatonista Plutarco de Atenas (ca. 350-431) define o consumo de carne como um ato de luxúria e crueldade. Aos poucos, os filósofos neoplatônicos começaram a popularizar a dieta pitagórica que, se não tivesse sido fortemente reprimida no mundo cristão pela Igreja, logo teria se espalhado por todo o ocidente. A utilização do termo "vegetariano", contudo, começou a se difundir apenas a partir de 1847, com a reunião inaugural da Sociedade Vegetariana do Reino Unido, onde, anos mais tarde, em 1931, Gandhi faria um discurso argumentando que uma dieta vegetariana era uma questão ética, não apenas de saúde.

O sentimento sintrópico (śraddhā) é uma força intrínseca à vida que desempenha um papel vital em nosso desenvolvimento pessoal e na construção de uma cultura mais compassiva e harmoniosa. À medida que unificamos a nossa razão material com o coração espiritual, vamos nos dando conta de que o sentimento sintrópico representa a chave para uma compreensão mais profunda da vida, da ciência e do mundo. Nós nos conscientizamos, em suma, que ele representa a chave para o desenvolvimento de uma cultura cada vez mais harmônica, onde as crenças injustificadas cedem o seu lugar em prol da compaixão, da justiça e da paz.

Obs.: Depois de escrito, este texto foi revisado com a assistência do modelo de linguagem GPT-3.5 da OpenAI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário