2024-06-19

O Pacto, a Egrégora, a Rotina e o Ambiente das Oficinas de Meditação

As oficinas de meditação da disciplina CMT014 atendem a dois propósitos principais:  
(1) ilustrar os conteúdos desenvolvidos em sala de aula; e  
(2) proporcionar a vivência de práticas conduzidas por pesquisadores convidados e especialistas reconhecidos na área.

Cada oficina oferece o olhar de uma tradição específica, revelando a pluralidade de caminhos que conduzem ao mesmo centro. Estão previstas 15 oficinas, com frequência semanal. Três encontros são reservados a debates, atividades livres e avaliações.

I. O PACTO

O êxito das oficinas depende, antes de tudo, do estabelecimento de um pacto interior. Antes de firmarmos esse compromisso com nossa própria reforma íntima, falar de meditação perde seu verdadeiro sentido.

O que se espera dos alunos é que reconheçam a sala de aula — e a própria casa — como espaços sagrados de transformação. Meditar não é apenas aplicar uma técnica. É sobretudo um gesto de escuta profunda, que brota da sinceridade com que buscamos nos reformar por dentro.

Meditação, em sua essência, é o aquietar do pensamento, o testemunhar do sopro vital, o vibrar do coração (śraddhā) na frequência do amor puro — expressão da energia cósmica (Brahma-śakti) de onde tudo surgiu e a qual tudo retorna.

A forma como despertamos a cada manhã simboliza esse processo. Ela revela, em silêncio, o quanto realmente avançamos na arte da meditação. Meditar é como dormir acordado, permitindo que emerja o observador amoroso, a testemunha silenciosa e compassiva. É aprender a contemplar, com naturalidade e serenidade, o desabrochar da consciência — como acontece a cada novo amanhecer.

É também desligar os múltiplos despertadores da vida cotidiana, que nos arrancam, bruscamente, dos estados contemplativos. É apenas quando esses ruídos começam a silenciar que podemos, de fato, experimentar os estados profundos da meditação.


II. OBSERVAÇÕES SOBRE AS AULAS PRÁTICAS:
O Estado de Espírito a Ser Cultivado no Grupo

“Venha de onde vier; venha em paz.  
Inspire paz e irradie amor.”

Nenhuma prática de meditação é autêntica se não nos conduz ao sentimento de amor universal e de pertencimento à Fonte viva do cosmos.

O Senhor Buddha alcançou a iluminação através do silêncio interior, prática conhecida no zen budismo como zazen (za = sentar; zen = meditação).

Meditar é recolher-se ao íntimo de si mesmo, até que, cessando os movimentos da mente, o coração vibre na frequência amorosa do OM (AUM).

A meditação verdadeira nasce no recolhimento puro da madrugada e se prolonga pelo dia, transformando-se em meditação na ação — presença plena, consciência serena, atenção ao sagrado de cada pequena experiência da vida.

A mente tende a se prender a mil coisas. Nosso exercício é fazê-la repousar unicamente no sagrado que o coração reconhece

Atenção Plena é a capacidade de perceber o sagrado em tudo o que a vida nos oferece. Ela nos ensina a aceitar com gratidão, e a enfrentar com coragem e confiança, os desafios que cada novo dia apresenta.

III. A CONSTRUÇÃO DA EGRÉGORA

A egrégora é um campo coletivo de energia formado pela soma — e elevação — das intenções, sentimentos e pensamentos do grupo. Sua construção exige a harmonização do ambiente externo (espaço, sons, aromas) e do ambiente interno (estado emocional e mental de cada um).

Alguns comportamentos que fortalecem essa egrégora:

Escolha do despertar:  
Cultive o hábito de acordar sem despertador, regulando o sono com horários mais serenos. Treine reconhecer o efeito reparador do sono, os sinais dos sonhos e o suave processo de retorno à vigília.

Consciência ao despertar: Observe o primeiro pensamento que surge ao acordar. Contemple o movimento de transição entre os mundos onírico e desperto. Realize uma breve invocação pelo bem-estar universal e uma curta reflexão sobre o dia que se inicia.

Ritual de renascimento diário:  
Ao abrir os olhos, renasça para o novo dia. Proceda à higiene pessoal e à purificação do ambiente da prática. Silêncio, ordem e ar puro favorecem a interiorização.

Prática matinal:
Estabeleça um horário fixo, regular. Sente-se com reverência, como se fosse a primeira e a última vez.  O momento da prática é um retorno à origem.

Alimentação consciente: 
Alimente-se de modo leve e consciente, com gratidão e presença.

Respiração e comunhão:  
Em todas as atividades do dia, respire como um ato de comunhão com o universo. Inspire paz. Irradie amor.

Saudação interior:
Antes de dirigir-se a alguém, faça uma saudação silenciosa:  “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você — namastê.”

Revisão noturna:  
Ao deitar-se, revise serenamente o seu dia. Programe o dia seguinte com intenção clara. E então, abandone-se à noite, como quem mergulha no oceano da consciência cósmica, até o novo amanhecer.

Rio de Janeiro, 19.06.24.
(Atualizado em 19.04.25)

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