2022-01-22

Celebração de trinta e nove anos de casamento

Celebração de casamento (22.01.83 & 06.02.83)
Hoje celebramos trinta e nove anos de casados. O ritual do nosso casamento, como um todo, desenvolveu-se em três etapas: a primeira, de afirmação da matriz da religiosidade ocidental, aconteceu na lua crescente de janeiro de 1983, no dia 22; a segunda, de afirmação da matriz da religiosidade oriental, na lua minguante de fevereiro, no dia 06; e a terceira, constituída pelo período de síntese laica e espiritualista do Śuddha Yoga, estendeu-se pela lua nova de fevereiro, até a nossa partida do Ashram Atma, onde estava sendo constituída a primeira célula do Śuddha Sabhā Ātma. 
Śuddha Gṛhastha

Enquanto um saṃskāra, um sacramento, o casamento expressa o compromisso, não apenas com o cônjuge, mas com a grande família estendida, representada pela humanidade. Como já discuti no texto Śuddha Gṛhastha: o casamento e a formação do lar vegetariano, ainda prestamos pouca atenção à relação entre os conceitos de "ambiente", "ambiente doméstico" e "meio ambiente". O ambiente doméstico regula-se, na literatura sagrada, pelo conceito referido pelo termo sânscrito "Gṛhastha"."Gṛh" significa "lar", "núcleo doméstico", "família"; e "astha", "esqueleto de sustentação". O ambiente doméstico representa, portanto, o esqueleto de sustentação da família e, consequentemente, de toda a sociedade. 

Também já vimos que a mente se filia a distintas correntes religiosas, filosóficas e políticas. O coração, não. O coração não tem corrente, porque não sabe viver acorrentado. Ele busca apenas o seu ritmo e procura se harmonizar, sem perder a cadência e o compasso. A práxis amorosa torna a vida toda uma meditação (dhyāna), promovendo o desenvolvimento gradual da visão espiritual, a visão divina (divyacakṣus), por meio da faculdade ióguica de síntese, chamada Dhṛti. Sem amor, em suma, quanto mais o mundo parece mudar, mais permanece o mesmo. Onde há mais amor, o mundo é melhor. Esta é a lógica e a lei do coração, a lei fundante do casamento e da Universidade do Coração.

Um Manifesto Eco-Espiritualista
La Belle Verte – “Turista Espacial” (1996) 


Como parte da celebração dos nossos trinta e nove anos de casamento, subi para a plataforma Internet Archive uma cópia caseira do filme La Belle Verte – “Turista Espacial” (1996), que foi praticamente banido do mercado, por razões óbvias. Dirigido por Coline Serreau, a diretora e também a protagonista Mila, o filme trata de hábitos simples e poderosos, como a dieta vegetariana, o cuidado com os nossos bebês, o respeito à natureza, a tudo o que é verde e ao elemento água, fonte de vida e energia.


O filme é um manifesto eco-espiritualista que redefine todas as relações com base no amor e na cooperação, pressupostos fundamentais dos casamentos verdadeiros. Ele ilustra como as relações verdadeiras nos auxiliam a transcender a carga darwinista que nos foi imposta ao longo da história, constrangendo-nos a viver a vida de forma polarizada e incompleta. Representa uma crítica muito bem-humorada ao nosso estilo de vida polarizado e materialista. Saúda a vida coletiva, a partilha, a ideia da economia colaborativa e a abolição das moedas de troca, fundadas na lógica do egoísmo.

Rio de Janeiro, 22.01.22
(Atualizado em 01.02.22)

4 comentários:

  1. Parabéns, professor! Gostei muito do texto e pretendo ver o filme recomendado em breve.

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    1. Grato, Gabriela. Este filme é um marco na história do ativismo ambiental.

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  2. Respostas
    1. Grato, Maria Veronica. O filme tem um humor fino e ainda é muito atual.

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