2024-04-14

A Disciplina Interior do Gestor Sintrópico (06/08)

Deixando o escritório daquele segundo gestor o jovem começou a pensar como a consciência sintrópica expressava os sentimentos intuitivos, os quais representavam, em suma, a capacidade que todos podemos desenvolver de perceber as verdades e as soluções para os problemas sob a nossa responsabilidade, antes mesmo que se apresentem as razões para tal. Ele começava a compreender que o nosso sentido interno de identidade individual e coletiva (antaḥkaraṇa) é composto pela nossa mente (manas), pela memória (citta), pelo ego (ahaṅkāra) e pelo sentimento intuitivo (śraddhā), originário do Espírito (Ātman), o gênio da lâmpada do coração, que nos anima a todos. Percebia como o programa  de gestão sintrópica fora concebido para nos tornar mais conscientes e em sintonia com a nossa essência profunda, que nos conecta com todo o universo. O jovem começava a se dar conta sobre como podemos nos tornar eficientes e eficazes, de modo que os gerentes e os seus subordinados desenvolvam esta consciência superior. No dia seguinte, dirigiu-se à sala do terceiro diretor da sua lista. Este era surpreendentemente idoso. Deveria ter, praticamente, o dobro da idade do diretor que visitara no dia anterior e era bem mais velho que o gestor sintrópico que lhe concedera o estágio. Logo ao início da conversa, perguntou ao diretor:

“Como é trabalhar com um jovem dinâmico como o gestor sintrópico? Com que frequência o vê e que tipo de ajuda recebe dele para alcançar os resultados que ele espera de você?

Em resposta, ouviu:

“Raramente o vejo. Quase não necessito da sua ajuda. Passamos algum tempo juntos apenas quando vamos dar início a algum novo projeto que necessite da participação da minha equipe.”

“Sim”, interrompeu o jovem. “É quando estabelecem os saṃkalpas”. 

“Na verdade, é quando nos exercitamos na prática do dhyāna mantra Haṃsa, cuidando da nossa disciplina de manutenção da consciência sintrópica, que sustenta a nossa egrégora.

“Este seria o segundo degrau, então, dentro da trajetória para se chegar a ser um gerente sintrópico?”

“Perfeitamente”, confirmou o diretor. “Estou nesta empresa há mais tempo que ele e tenho que lhe agradecer por ter me dado a oportunidade de me apresentar ao programa de gestão sintrópica, que possibilitou que me reciclasse e recuperasse boa parte da minha juventude.” Hoje uso toda a minha experiência em benefício da empresa e a minha relação com os jovens da nova geração não poderia ser melhor. É como se eu estivesse vivendo uma segunda vida. Como se tivesse morrido e renascido em vida.”

“Poderia falar um pouco mais a esse respeito?”

“Quando ele adquiriu a empresa, eu estava para ser despedido. Todos o viam como a aposta no novo, enquanto eu representava aquilo que necessitava ser descartado, ou talvez, reciclado. Ele acreditou em mim. Desde o início, deixou bem claro o que queria e como agiria. Disse que eu poderia recuperar a minha capacidade de trabalho e alcançar níveis de excelência de desempenho, desde que aprendesse a cultivar a amizade com o gênio da lâmpada, tal como fizera Aladdin. Na verdade, este gênio invisível é o nosso principal Gestor Sintrópico. Sempre que estamos trabalhando em equipe e atendendo uns aos outros segundo as nossas atribuições, estamos atendendo ao gênio da lâmpada. O Gestor Sintrópico nada mais é que um representante seu.”

“E em que consistiu o seu novo aprendizado e treinamento?

“Aprendi sobre a meditação (dhyāna), oculta no mantra Haṃsa, e como ela cuida, naturalmente, da manutenção da egrégora. Eu era um gerente, exclusivamente, orientado para os resultados. Era muito duro e inflexível e raramente reconhecia os méritos e as qualidades dos membros da minha equipe. E ele me disse que seria mais fácil me sair bem, se eu aprendesse a cultivar o dhyāna mantra Haṃsa, que zela por todas as egrégoras sintrópicas, tal qual ele estava fazendo naquele exato momento. Ele me fez perceber que as reuniões onde estabelecemos os saṃkalpas nada mais representam que o passo inicial para o estabelecimento e manutenção do nosso senso de família, ou seja, manutenção da nossa egrégora da consciência sintrópica. Disse-me que acreditava em mim e desejava o meu sucesso. Queria me mostrar como modificar o ambiente de trabalho para que ele se tornasse mais agradável e saudável. Eu iria perceber que poderia gostar do meu trabalho e conseguir que todos em minha equipe pudessem aceitar grandes desafios e, ao mesmo tempo, ter esse sentimento interior de satisfação e contentamento. Lembrou-me que ao tomarmos consciência de que trazemos em nossa própria respiração o mantra que define a meditação, encontramos a harmonia interior e desenvolvemos a capacidade de trazer esta harmonia para o ambiente externo. Deste modo, a nossa consciência sintrópica sempre nos indicaria se estávamos progredindo ou nos afastando dos objetivos estabelecidos. Esta consciência que, de forma individual, está o tempo todo conosco, se manifesta de forma coletiva nas reuniões de manutenção da egrégora. E nestas reuniões temos a oportunidade de experimentar da verdadeira energia de aprovação ou de reparação, que emana da egrégora, na exata medida em que aprendemos a manter a nossa respiração suave e tranquila, em sintonia e sincronicidade com o alento vital que define cada um dos distintos grupos. Consequentemente, sempre sabemos, de forma inequívoca, se estamos nos saindo bem.”

“Você poderia dar um exemplo prático de como tudo isto funciona?”

“Claro”, disse. E prosseguiu. “Assim que resolvi abraçar a oportunidade que me estava sendo dada, notei que uma vez que estabelecíamos os nossos saṃkalpas, o contato dele conosco se estreitava. Primeiro, ele participava conosco do desenvolvimento das nossas atividades. Estava sempre ajudando, deixando um exemplo, mostrando como cultivar a energia da consciência sintrópica, fazendo de cada minúscula atividade uma oportunidade de meditação na ação. Mesmo quando não estava presente, parecia estar por perto. Segundo, estabeleceu reuniões específicas para lidar com tudo o que acordáramos, mas, principalmente, para ir nos revelando que a prática do mantra Haṃsa representava uma instância profunda, presente em nós mesmos, do acordo que firmáramos em torno da realização das nossas metas, tanto pessoais como institucionais. Terceiro, falou-nos do diário pessoal, o diário da consciência, onde deveríamos registrar, não as experiências banais envolvidas com os registros dos nossos progressos em cada tarefa, mas as experiências extraordinárias, derivadas da oportunidade de zelar pelos itens sob a nossa responsabilidade. O diário deveria contemplar apenas a lista dos nossos saṃkalpas e aquelas experiências decorridas desses saṃkalpas que nos levassem a compreender e perceber o desenvolvimento da egrégora e sobre como ela era capaz de fazer o gênio da lâmpada se manifestar.”

        "Isto quer dizer que, em outras palavras, nada pode nos trazer mais satisfação de que esta oportunidade de compreender e participar do pleno funcionamento de uma egrégora fractal e sintrópica!" 

        "Isso mesmo. Nada supera o sentimento desse contato cada vez mais íntimo com o gênio da lâmpada. Daí o lema do nosso programa de gestão sintrópica: “Primeiro ser; depois fazer; e só então dizer.” Compreender a egrégora significa compreender o bom funcionamento do grupo. Deste modo, a ênfase deixa de ser naquilo que se faz de errado. Este era o meu problema com a minha equipe. Agora, quando flagro algum erro, procuro corrigi-lo colocando a ênfase no zelo que precisamos ter com a egrégora, com o compromisso que todos assumimos de fazer a coisa certa.”

“O que acontece agora quando o senhor flagra alguém fazendo a coisa certa, ou a coisa errada?”

“A coisa certa nos coloca em um mesmo estado de sintonia e satisfação e isto fica visível para toda equipe, que experimenta esta energia da egrégora. Basta um olho-no-olho para se compartilhar o que deu certo e para se sentir a alegria de fazer parte desse processo. Assim como no futebol, depois de uma boa jogada, depois de um gol, toda a equipe vibra, inclusive o técnico, que não toma parte na partida. Não há a necessidade de elogios, nem de nenhuma das estratégias da psicologia comportamental. Basta que compartilhemos a luz e a vibração do nosso coração, que nesta hora parece arder mais forte, mostrando o quanto, de fato, estamos todos unidos em torno de um mesmo ideal. É esta atuação dentro do time como um todo que nos traz a certeza de que estamos progredindo dentro da empresa. Não há que se esperar por qualquer avaliação anual de desempenho, quando se compreende a consciência da egrégora e se atua em conformidade com ela. Toda a equipe, desta forma sente a alegria de saber a boa situação onde se encontra, independentemente de que a situação da empresa como um todo ainda não seja tão boa. Este é o segredo da gestão sintrópica. Ela é de natureza local, mas tem a capacidade de se multiplicar e regenerar todo o entorno onde ela começa a ser cultivada. Logo que aprendemos a nos flagrar fazendo as coisas certas, começamos a sentir satisfação com nós mesmos. E esta satisfação é algo que se irradia, é contagiante. Foi assim que aprendi como o dhyāna mantra Haṃsa auxilia as pessoas a se informarem sobre o seu próprio desempenho. Para isto mantemos a nossa reunião de manutenção da egrégora, onde temos a oportunidade de atualizar a sintonia com o nosso mantra e de estabelecer, deste modo, o diálogo olho-no-olho e de coração-a-coração.

O jovem estava perplexo com a disponibilidade e boa vontade de todos, apesar dos inúmeros afazeres de cada um. Eles o recebiam e o tratavam sem cerimônias, quase de igual para igual. Era nítido que este gestor também havia se tornado um gestor sintrópico. Satisfeito, despediu-se do diretor, depois gastou algum tempo refletindo sobre as anotações que fizera, já preparando para a sua próxima entrevista, na manhã seguinte: uma diretora ainda jovem, mas cujo brilho e fama ultrapassavam os muros da organização. 

SUMÁRIO GERAL: A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Rio de Janeiro, 14.04.24.
(Atualizado em 19.04.24)

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