2016-12-25

O Natal do Coração: Uma Celebração de União e Luz

Sagrado Coração de Jesus e Maria
O coração materno do judaísmo e do seu filho, o cristianismo universal.
No dia 25 de dezembro, em grande parte do mundo, é celebrado o nascimento de Jesus, filho de Maria, venerada como a Mãe de Deus, e José.  Esse casal judeu, ao acolher a Boa Nova, simboliza a profunda conexão entre o Judaísmo e o Cristianismo, representando a união entre o humano e o divino, a tradição que acolhe o novo e honra o passado, abrindo caminho para o florescimento do futuro. Maria e José, em seu matrimônio, ensinam sobre a centralidade da maternidade e a verdadeira paternidade, que cuida e ama, independentemente dos laços biológicos. A figura materna, representada por Maria,  é o berço do amor incondicional,  a fonte da vida que nutre e acolhe. José, por sua vez,  personifica o pai que protege, guia e ampara, demonstrando que a paternidade se manifesta na doação e no cuidado.

2016-12-08

Heartfulness em Movimento: A Meditação na Práxis Sintrópica (Haṃsa)

Haṃsagati, desse modo, nomeia o estado de meditação alcançado quando estamos em movimento, em marcha – “gati”, no sânscrito.
Francisco Barreto, na Fazenda Mãe Natureza e
em uma caminhada na Serra de Itabaiana.
Bhagavad Gītā nos revela que não há uma única situação concreta da vida em que a capacidade de cultivar em si mesmo o estado meditativo não possa ser praticado e desenvolvido. O texto descreve o movimento sintrópico da consciência de Arjuna nos campos objetivo (kuru-kṣetra) e subjetivo (dharma-kṣetra) da vida. No campo objetivo da ação concreta (kuru-kṣetra), Arjuna busca o conselho e a unificação com Krishna, que representa o observador (Dṛg), a testemunha (Sākṣī) do Espírito Supremo (Ātman), que não toma parte nas lutas efêmeras do mundo das aparências (saṃsāra). No campo subjetivo do diálogo da consciência de Arjuna (dharma-kṣetra), ele se torna tanto o observador (Dṛg) de si mesmo observando o mundo, como a própria coisa observada (Dṛśya). E é a isto, de acordo com este entendimento da Bhagavad Gītā, que se denomina como a Meditação na Práxis Sintrópica (Haṃsa), ou "Meditação em Movimento". 

2016-12-01

Coração Tranquilo: ressignificando a Haṃsa Tattoo


Hoje (01.12.16) faz seis meses que viajei para São Paulo para realizar a segunda cirurgia do câncer na língua. Internei na quarta-feira e fiz a segunda cirurgia1 na quinta, 02.06.16. No dia da internação, saímos cedo do Rio de Janeiro e fomos para o apartamento de minha mãe. Almoçamos no restaurante vegano Annaprem e seguimos para o ICESP.  Foi nesta cirurgia que ganhei a minha "Haṃsa Tattoo". O vídeo abaixo ilustra o que ela significa para mim: "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo", como  diz o mantra do socialista zen Walter Franco.

2016-11-02

Repensando a universidade com o coração

Viemos, Cássia e eu,  testemunhar o VIII Seminário Internacional e IX Assembléia Geral do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras & Primeiro Encontro de Reitores Brasil–Itália, na Università di Parma – Itália, que aconteceu de 24 a 28 de outubro de 2016. O Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB) foi constituído em 27 de novembro de 2008, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Coimbra. É composto por um conjunto de 72 instituições associadas, com 51 Universidades Federais, 15 Universidades Estaduais e 6 Universidades Comunitárias e Confessionais.

Este encontro no país onde foi cunhado o termo "universidade" contou com a  a participação de 54 reitores. No dia 25, o Reitor Loris Borghi (Università di Parma) realizou o discurso de abertura (veja aqui). Entre as autoridades presentes, a Ministra da Educação da Itália, Stefania Giannini, e o Embaixador do Brasil em Roma, Ricardo Neiva Tavares.

2016-10-15

A Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Bhagavad1 Gītā2 desenvolve a arte e a ciência da meditação sob a forma de um diálogo que tem como espinha dorsal o conceito de śraddhā – o compassivo sentimento sintrópico, que define a Cultura Sintrópica e a sua práxis e se traduz como o princípio da confiança e da prudência, a bússola interior e a amorosa energia que ilumina a razão em seu processo de convergência para a Verdade e o Absoluto (Brahma-sāmīpya). Śraddhā representa o Princípio da Confiança e da Prudência expresso no cogito cartesiano. Representa a razão esclarecida pelo coração tranquilo e pelo sorriso interior que orientam e aferem a conduta do herói em sua jornada. Denota, portanto, o processo racional e dialético para se alcançar o "estado de testemunha", este entendido como o resultado do encontro com as verdades últimas e o sagrado revelado nas Escrituras, fruto da superação da vontade e da fé exterior.

Há sete virtudes principais segundo os teólogos da Igreja Católica: Prudência, Justiça, Temperança, Coragem, Fé, Esperança e Compaixão. Como nos alerta o Senhor Buda3, a fé sem prudência não conduz à realização final. Do mesmo modo, nos alerta a ciência moderna, a fé sem prudência está em contradição com a razão. A única fé digna deste nome, portanto, é a fé da razão esclarecida, ou seja, aquela fé interior, ou fé-em-si-mesmo, que se traduz como um sentimento e que contém como subprodutos todas as sete virtudes principais definidas pela Igreja. Esta fé-em-si-mesmo, que está em consonância com os requisitos do Senhor Buda, corresponde ao que, na  Bhagavad Gītā4, se denomina como śraddhā – aquele poder que empodera tudo mais, possibilitando-nos compreender a vida toda como sagrada.

Śraddhā opera como o termômetro espiritual da faculdade da vontade. Marca característica daqueles que já experimentam daquilo que antes era mero objeto de crença, śraddhā representa não a espera, mas o estado de encontro, ou descoberta da essência do real, de onde se origina a certeza interior. Enquanto a fé caracteriza os devotos (bhaktas) que, embora creiam no sagrado, o ignoram; śraddhā, a o sentimento de convicção interior, ou fé em si mesmo, ao se constituir como fonte de certeza, caracteriza aqueles (bhaktas ou não) cujo saber funda-se tanto na ciência, como na experiência mística com o sagrado. Não é por outra razão que é incorreto traduzir śraddhā no texto da Bhagavad Gītā conforme o sentido teológico designado pelo termo “fé”, embora esta continue sendo a opção utilizada pelos tradutores desavisados.

Shankara, Hegel, Marx e a Bhagavad Gītā

Bhagavad Gītā vale-se do conceito de śraddhā como meio para expressar a síntese da tese védica da via da ação (karma-mārga) e da antítese das Upaniṣades da via da não-ação (jñāna-mārga, ou a via EXCLUSIVA do conhecimento). A novidade da Bhagavad Gītā, em relação à tradição védica, está precisamente neste argumento em torno da via da síntese do yoga (BhG 4.1). O nome em sânscrito para esta síntese dos opostos, que permite à Arjuna superar a sua ilusão inicial e compreender distintos pontos de vista sobre a filosofia do SER, é jñāna-karma-samuccaya-vāda, ou seja, a teoria sobre a síntese (sam-uccaya) dialética (vāda) entre a via da não-ação (ou do conhecimento, jñāna) e a via da ação (karma). Esta teoria admite como axioma fundamental, ou premissa metafísica, a Unidade do Absoluto, simbolizada nos três componentes do Praṇava OM:  A-U-M. Esta trindade deixa-se representar por distintos ternos, como:  (1) Ser, (2) não-Ser e (3) relação de vir-a-Ser; (1) Espírito, (2) Matéria e (3) Vida; (1) Tese, (2) Antítese, e (3) Síntese; (1) Nascimento, (2) Morte e (3) Vida; (1) Positivo, (2) Negativo e (3) Neutro; (1) Presente, (2) Passado e (3) Futuro; (1) Rajas (natureza explosiva), (2) Tamas (natureza inerte) e (3) Sattva (natureza harmoniosa); (1) Kriya (atividade), (2) Icchā  (vontade), e (3) Jñāna (conhecimento) e assim por diante.

O método dialético de Hegel, leitor e crítico ferrenho da Bhagavad Gītā, expressa algo da tese jñāna-karma-samuccaya-vāda. A relação de interdependência entre os três constituintes da Trindade A-U-M se dá em torno da ideia de que cada um deles representa a negação da diferença entre os outros dois, em sentido bem próximo ao pretendido pela dialética hegeliana.  O exemplo clássico que traduz a dialética hegeliana pode ser colocado nos seguintes termos: a (1) semente é a negação da (2) planta que desabrocha e, ainda assim, ambos (3) se relacionam e se identificam, pois a planta surge da semente tanto quanto a semente, da planta. Isto significa dizer que todas as oposições existem apenas de forma relativa. A Terra pode ser considerada grande, se comparada à Lua, e pequena, se comparada ao sol. Do mesmo modo, o Praṇava AUM, símbolo por excelência do sagrado, representa a negação da diferença entre o múltiplo, percebido em Saṁsāra (universo fenomenológico) e o absoluto experimentado em Nirvāṇa. A Fenomenologia do Espírito (1807) de Hegel segue um esquema próximo a este presente na Bhagavad Gītā, texto que ele desqualifica, embora pareça imitar. A diferença é que, enquanto a Bhagavad Gītā sustenta a realidade e concretude do mundo, Hegel privilegia um entendimento de um tipo de subjetividade que dissolve a concretude do mundo. Mais tarde, Marx, ao se dar conta deste abandono da matéria por parte de Hegel, inverte os termos da fenomenologia hegeliana, corrigindo, deste modo o seu "erro epistemológico" e dando ênfase à concretude e realidade do mundo objetivo.  Marx reinaugura, deste modo, a dialética do concreto, introduzida originariamente por Krishna  na Bhagavad Gītā, quando este introduz Arjuna a via de síntese dos opostos, o yoga que se expressa como jñāna-karma-samuccaya-vāda.

A jñāna-karma-samuccaya-vāda, uma das teses centrais da Bhagavad Gītā, é quase ignorada pelos especialistas contemporâneos em função das críticas de Shankara (séc. VIII), como se sabe, um ardoroso defensor da tese rival, conhecida como “Kevala-Sāṁkhya” – a via exclusiva do conhecimento.  O comentário de Shankara à Bhagavad Gītā nada mais representa que uma estratégia desesperada de desqualificar o “Śuddha Sāṁkhya”, representado pela jñāna-karma-samuccaya-vāda. Esta discussão aparece, em especial, nos argumentos que Shankara apresenta na glosa ao verso BhG 18.17, quando procura minimizar o fato de Krishna estar pedindo à Arjuna para não renunciar à via da ação. Séculos se passaram e nem mesmo a crítica de Ramanuja (séc. XII) ao Kevala-Sāṁkhya de Shankara conseguiu resgatar plenamente o Śuddha Sāṁkhya. Somente nas últimas décadas, com os primeiros autores do incipiente neo-Vedanta, como Yogananda, Vivekananda, Aurobindo, Tilak, Gandhi, S. Radhakrishnan e, principalmente, Bhagavan Das, surgiram os primeiros movimentos nesse sentido. Como se sabe, Shankara rejeitava a jñāna-karma-samuccaya-vāda porque se filiava ao Kevala Sāṁkhya, que vê o mundo como ilusório (māyā). A ação no campo do ilusório, obviamente, não pode ter valor. O Śuddha Samkhya, entretanto, embora admita que as nossas percepções sejam enganosas, insiste na realidade do mundo e, consequentemente, na importância da práxis.

Se a Bhagavad Gītā tem início com Arjuna insistindo em renunciar à via da ação e afirmando o seu desejo de seguir o Kevala Sāṁkhya, ao longo do diálogo, Krishna o convence da superioridade do Suddha Sāṁkhya, expresso na jñāna-karma-samuccaya-vāda. Ilusão (māyā), ensina a Bhagavad Gītā, é acreditar que os opostos sejam mutuamente exclusivos, quando, em verdade, são complementares. Daí a convocação de Krishna para que Arjuna se engaje na luta dialética do concreto, com o ego (ahaṅkāra) sob o domínio e controle do coração (Ātman).

Quando executada a partir do coração (Ātman), desapegadamente e com ardoroso amor (śraddhā), toda ação torna-se, de certa forma, não-ação, pois quem se consagra (tyāga) ao Ser, deixa de ser agente, torna-se instrumento. Logo, submeter-se ao Ser que reside no coração (Ātman, Krishna, etc.) é o que nos libera para agir, pois nesse caso, agimos como se não estivéssemos agindo, livres dos impulsos da nossa personalidade egoica.

Arjuna, o príncipe guerreiro em seu processo externo (pravṛtti), e Arjuna, o discípulo em busca de auto-realização (nivṛtti), alcançam a unificação por meio da disciplina de síntese (yoga), que nada mais significa que estabelecer-se no coração (Ātman) para, a partir daí, agir pleno de amor. E é a revelação de Krishna para Arjuna deste puro (śuddha) yoga que se entende como jñāna-karma-samuccaya-vāda na Bhagavad Gītā.

Svatantra5: a genuína liberdade dos verdadeiros mestres

Krishna revela a Arjuna na Bhagavad Gītā o ancestral Śraddhā Yoga, superior aos demais yogas, chamados, conjuntamente, de yoga-garbhatva, ou seja, yogas em fase de gestação. Diferentemente destes, que representavam apenas sistemas acessórios (upacāra), o puro Krishna Yoga tem como marca característica o exercício da liberdade em todas as suas etapas, conforme a natureza e idiossincrasia (svabhāva) de cada praticante. Esta liberdade, característica do Śraddhā Yoga, contraria a disciplina rígida e inflexível dos sistemas que postulavam a sujeição absoluta a um guru. Estes orientavam os discípulos a cada passo, segundo um código de etiqueta que regulava como cada um deveria se comportar. Denomina-se a este tipo de relação e dependência absoluta a um guru externo como paratantra. O diálogo de Krishna com Arjuna é uma crítica a esses sistemas de yoga. De um lado, pode-se dizer que a maioria dos gurus e instrutores ainda desconhecem o sentido e a essência do ensinamento de Krishna acerca da genuína liberdade (svatantra), característica de todo o diálogo de coração a coração (saṃvāda). Por outro lado, contudo, também é verdade que o svatantra de Krishna influenciou os ensinamentos das mais distintas escolas de yoga, suavizando, consequentemente, o rigor autocrático, característico dos Instrutores Espirituais e dos seus respectivos códigos de etiqueta (veja aqui um exemplo). Em muitos casos, os iogues de tais sistemas submetiam-se a várias torturas e sacrifícios inúteis, permanecendo totalmente incapazes de apreciar a ampla liberdade que caracteriza o puro e autêntico Yoga. O Śraddhā Yoga revelado por Krishna na Bhagavad Gītā só pode ser plenamente compreendido por aquelas pessoas que cultivam a escuta do Serbhāvana, libertando-se de  toda a ideia de separatividade.

Política Brasileira e o Sonho Profético de Dom Bosco
Dom Bosco (1815-1888), Co-Patrono de Brasília.
Aclamado por João Paulo II o "Pai e Mestre da Juventude"

Ācārya-paramparā-vandanam:

Saudação (vandanam) aos mestres espirituais (Ācārya) das distintas tradições religiosas (paramparā)

***

अस्मत् गुरुभ्यो नमः।
Asmat gurubhyo namaḥ.

अस्मत् परमगुरुभ्यो नमः।
Asmat parama-gurubhyo namaḥ.

अस्मत् सर्वगुरुभ्यो नमः॥
Asmat sarva-gurubhyo namaḥ.

Saudações aos mestres,
Saudações aos mestres dos mestres,
Saudações a todos os mestres.

***

Em celebração ao Dia do Professor, hoje (15.10.16), publico as primeiras reflexões que irão dar forma ao compêndio sobre a arte e a ciência da meditação segundo a Bhagavad Gītā". Pretendo utilizar este instrumento para refletir sobre o desenvolvimento: (1) da pedagogia maiêutica, oposta às atuais tecnologias da deseducação; e (2) da arte e da ciência da meditação, as duas vigas mestras da nascente Cultura Sintrópica da qual somos colaboradores. Nossa missão é contribuir para materializar o plano revelado a Dom Bosco em seu famoso Sonho Profético e fazer florescer no coração do Brasil o berço da civilização sintrópica.

Foi  em um 15 de outubro que D. Pedro I baixou o Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil (1827). Cento e vinte anos mais tarde, em 1947, aconteceu o primeiro encontro de docentes. Nascia então a ideia de se reservar o dia 15 de outubro para o estabelecimento de encontros anuais de professores, estudantes e pais, com o intuito de se discutir os rumos da educação no Brasil. Em 1948 um projeto de lei da educadora Antonieta de Barros institui o Dia do Professor e o feriado nesta data no Estado de Santa Catarina. Alguns anos mais tarde, em 14 de outubro de 1963, o presidente João Goulart assinaria o Decreto Federal 52.682, que oficializa o dia 15 de outubro como feriado escolar com a seguinte justificativa: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias".

Quando chegamos ao Rio, em janeiro de 1991, Cássia e eu ainda não sabíamos exatamente porque estávamos vindo para cá e não para São Paulo, de onde partíramos para nos juntar ao projeto pioneiro desenvolvido por Francisco Barreto, em Sergipe. Pouco tempo depois, entre 3 e 14 de junho de 1992, aconteceria aqui, vinte anos após a realização da primeira conferência sobre o meio ambiente, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO 92. Representantes de cento e setenta e oito países reuniram-se para refletir sobre as medidas que deveriam ser tomadas para se reverter o processo de degradação ambiental e garantir às gerações a possibilidade de uma existência digna. Soube naquele momento que não fora acidental a nossa vinda para o Rio de Janeiro. O vídeo abaixo, com o discurso ainda tão atual de Severn Cullis-Suzuki, de 12 anos de idade, durante a ECO 92, ilustra este nosso ideal de materializar a Filosofia Sintrópica na práxis. Alguns anos mais tarde,  durante o período em que residi no Canadá, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o pai dela, David Suzuki, que mantinha um programa de grande audiência no Canadá sobre o tema "The Nature of Things". Cássia e eu ficamos, inclusive, de divulgar os seus vídeos educativos aqui no Brasil. Mas naquela época era tudo mais difícil e não conseguimos aprovar, junto à universidade, o projeto para  legendar os vídeos. Este estudo, de qualquer modo, nasce como uma forma de trabalhar por estes mesmos ideais universalistas, presentes nos mestres espirituais das distintas tradições religiosas.


N O T A S

(1) Para conhecer melhor como a Bhagavad Gītā está sendo interpretada aqui, veja também:  


(2) Para conhecer a pronúncia das palavras sânscritas veja o nosso resumo do Guia de Transliteração e Pronúncia das palavras sânscritas.

(3) "Não acredite em nada;
não importa onde você tenha lido,
ou quem tenha dito, nem mesmo se eu tiver dito,
a não ser que esteja de acordo com o que lhe revela
a sua própria razão quando iluminada pelo coração".
Esta é uma tradução livre de uma passagem do Kalama Sutta, onde se discutem as limitações da razão que não se deixa iluminar pelo coração.

Bhagavad Gītā editada pela organização externa Śuddha Dharma Maṇḍalam
Bhagavad Gītā editada pela organização religiosa

Śuddha Dharma Maṇḍalam

(4) Não fiz menção na tese à Bhagavad Gītā editada pela organização externa Śuddha Dharma Maṇḍalam senão indiretamente, em notas de rodapé, visto que o seu conteúdo é praticamente equivalente ao da Bhagavad Gītā de 700 versos. Além do mais, há um extenso debate na academia onde se questiona a autenticidade (veja aqui) da edição com 745 versos e vinte e seis capítulos. É o meu entendimento, de qualquer modo, que os dois textos da Bhagavad Gītā se complementam e que é impossível desqualificar qualquer um deles. Um tem valor histórico e foi utilizado por inúmeros sábios e santos de todos os séculos; o outro tem valor pedagógico – a sua metodologia elucida a essência mesma do texto. É também o meu entendimento que toda a controvérsia com a Bhagavad Gītā editada pelo Śuddha Dharma Maṇḍalam teria sido evitada se o texto tivesse sido apresentado como o que de fato é, um extrato da Śrī Bhagavadgītā Bhāṣyopetā de Haṁsa YogiAs críticas que a Bhagavad Gītā de 745 versos, do Śuddha Dharma Maṇḍalam, tem recebido podem ser resumidas em dois pontos principais: (1) não foi encontrado um único manuscrito considerado autêntico sobre esta recensão; e (2) o texto nada mais faz que rearranjar os versos, renomear os capítulos e acrescentar outros versos do ​Mahābhārata. Trata-se, basicamente, do mesmo texto acrescido de algumas passagens do Mahābhārata (Hino a Durgā, etc.).


(5) O Instrutor Espiritual Sri Janardana trata deste assunto em diversas de suas cartas a Sri Vajra Yogi Dasa, seu discípulo, e em especial, daquela datada de 03.09.1959 e de posse da seção chilena da organização externa do Suddha Dharma Mandalam.


SUMÁRIO GERAL

Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2016.

(Atualizado em 21.01.25)

2016-10-13

O que é a Ação (Karma) no contexto dos Seis Deveres Diários?

Krishna explica a Arjuna na Bhagavad Gītā como a prática fervorosa do conhecimento adquirido conduz à realização suprema.
Os Seis Componentes da Atividade Diária do Yogi
Krishna explica a Arjuna na Bhagavad Gītā como a prática fervorosa do conhecimento adquirido conduz à realização suprema. Tal disciplina, que pressupõe a renúncia (samnyāsa) ao fruto das ações e  o desligamento de todas as coisas que impedem a consagração de si mesmo à manifestação da Vontade Suprema, está representada no paradigmático verso BhG 18.66, que trata da genuína dedicação e entrega (satya tyāga) de si mesmo e, consequentemente, de todas as ações (karma), ao Supremo. Esta entrega ao Supremo tem sido expressa ao longo dos séculos dos mais variados modos pelas distintas religiões e sistemas de filosofia. Um exemplo clássico do hinduísmo é o que ocorre na passagem X.75 do Mānava Dharma Śāstra,  onde se descreve o Ṣaṭkarman – os seis componentes da atividade diária do discípulo:

अध्यापनमध्ययनं यजनं याजनं तथा।
दानं प्रतिग्रहश्चैव षटूकर्माण्यग्रजन्मनः॥
adhyāpanam/adhyayanaṁ yajanaṁ yājanaṁ tathā.
dānaṁ pratigrahaś/caiva ṣaṭūkarmāṇyagrajanmanaḥ.
(1) Estudo e (2) ensino; (3) realização de sacrifícios e
(4) condução de rituais; e a (5) realização e
(6) aceitação de doações são as seis principais atribuições das pessoas
de nascimento brâhmane.  (Mānava Dharma Śāstra X.75)

Satya Tyāga: a arte de despertar para a consciência sintrópica

Satya Tyāga representa, tanto a renúncia (samnyāsa) de todas as coisas que impedem a consagração (tyāga) de si mesmo à Vontade Suprema, como a dedicação plena às verdades (satya) experimentadas nesta relação de aproximação à Consciência Sintrópica Universal.

Conforme exposto no puro e ancestral Śraddhā Yoga de que trata a Bhagavad Gītā1, devemos nos consagrar (tyāga), de coração, ao exercício de ver em cada minúscula ação uma oportunidade de disciplina interior (tapas), sacrifício (yajña), e doação (dāna) de si mesmo. Este puro yoga, que quita as três dívidas espirituais (débito com a esfera das deidades das quais herdamos a nossa própria identidade espiritual; débito com os sacerdotes, gurus, sábios e santos que nos deixaram como herança cultural o conhecimento espiritual; e débito com os nossos ancestrais, que possibilitaram o nosso nascimento neste mundo), funda-se nas cinco formas do pensamento sintrópico, derivadas de śraddhā (a bússola do processo de meditação): Saṃkalpa, Ṛṣi-nyāsa, Viniyoga, Satya Tyāga e Upasthāna. Esta base quíntupla de śraddhā, que expressa os cinco pilares do dharma, orienta a disciplina quíntupla do pensamento  (cintā; pronuncia-se “tchintaa”):

2016-10-08

Prefácio: Uma obra em constante evolução ("A perennial work in progress")

Śraddhā-Yoga Dhyāna-Bindu Śrīmad Bhagavad-Gītā
O Sublime Canto do Senhor sobre o Śraddhā Yoga e a Ciência e a Arte do Amor em Ação

Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Veda Vyāsa, compilador do Mahābhārata.
Natural de uma ilha do rio Yamuna, em Kalpi, é neto do
Rishi Vashistha e filho do asceta Parashara e Satyavati.

Em memória de todos os ancestrais da família.
Em memória de meu avô materno, Edison Barretto.
Em memória de minha avó paterna, Angelina Medicci.
Ele ensina aos filhos o amor às coisas do espírito.
Ela, a coragem para recomeçar no novo mundo.

Aos filhos que refletem sobre a obra dos pais.
Aos que não julgam, mas apenas mudam.
Aos que não mudam, mas apenas são.

E aos que sabem deixar de ser.
Enfim, a todos deste jardim,
Embaixo e acima dos
Edens da ilusão.
(10.12.2003)


***
Dedico este trabalho, com amor e  reverência,
a todos os grandes mestres da humanidade,
em especial, aos Gurudevas
Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Veda Vyāsa, 
compilador do Mahābhārata, e
Śrī Haṁsa Yogi, o seu mais misterioso
e enigmático comentador.

Mentalizo em meu coração a imagem
de puro resplendor dos pés de lótus dos Mestres
 e me curvo, invocando a sua orientação para cruzar o 
oceano da ilusão e alcançar a intuição da verdade.

***
OM, Saudações aos Grandes Sábios e Santos.
Que haja bem estar em todos os mundos e planos.

औं नमः श्रीपरमर्षिभ्यो योगिभ्यः।
auṁ namaḥ śrī-parama-rṣibhyo yogibhyaḥ.
शुभमस्तु सर्वजगताम्॥
śubhamastu sarva-jagatām.

Saudações aos gurus,
Saudações aos gurus dos gurus,
Saudações a todos os gurus.

अस्मत् गुरुभ्यो नमः।
Asmat gurubhyo namaḥ.
अस्मत् परमगुरुभ्यो नमः।
Asmat parama-gurubhyo namaḥ.
अस्मत् सर्वगुरुभ्यो नमः॥
Asmat sarva-gurubhyo namaḥ.

OM     HRIM     ŚRIM     KLIM     AIM     SAUḤ
(OM ŚRĪ) YOGA DEVYAI NAMAḤ


OM TAT SAT
NAMASTÊ

***

2016-10-03

Ensaio Autobiográfico

Este Diário é a bússola anti-psicanalítica de que me valho para alcançar o porto seguro do Ser.
Ashram Ātma
Até onde consigo me recordar, foi em 1972, após completar quinze anos de idade, que despertei para a espiritualidade pura e os valores do sagrado coração. Nesse ano, se não me falha a memória, assisti Siddhartha e, em seguida, li o livro homônimo de Hermann Hesse, que deu origem ao filme. A partir de Hermann Hesse, descobri Krishnamurti, Vivekananda e vários outros expoentes da Teosofia e do neo-Vedanta então em voga. Foi, contudo, por intermédio do meu falecido tio Sérgio Barretto, que vim a conhecer as práticas de meditação. Costumava passar as férias escolares em Ribeirão Preto e gostava de conversar sobre espiritualidade com ele. Percebendo o meu interesse crescente no assunto, ele logo me indicou o antigo Ashram Sarva Mangalam, dirigido pela Marinês Peçanha de Figueiredo e que funcionava em um casarão, na esquina da rua Aurélia com as ruas Heitor Penteado e Cerro Corá, no bairro da Pompéia, em São Paulo. Ali conheci o saudoso Sri Vajera, que estava de passagem pelo Brasil. Algumas semanas depois, mais precisamente em 25 de agosto de 1974, fui iniciado por ele no Śuddha Rāja Yoga. A partir desta data as práticas de meditação passaram a ocupar um lugar central em minha vida pessoal e acadêmica. É desta simbiose entre a teoria, entendida em seu sentido original, e a experiência pessoal com as práticas de meditação que pretendo tratar, brevemente, nas linhas que se seguem. O entendimento mais superficial e raso, que persiste até hoje, opondo de forma radical a teoria e a práxis, surge apenas com ​a filosofia do hilemorfismo,​ proposta por Aristóteles, segundo a qual todas as coisas ​seriam compostas, exclusivamente, de matéria (hyle) e forma (morphe)​.​ ​Para Aristóteles, a teoria representa a busca de conhecimento por mero prazer e deleite pessoal, enquanto a práxis envolve a aplicação dos conhecimentos teóricos em consonância com uma conduta moral e ética. A teoria estaria restrita ao domínio da forma; e a práxis, ao domínio da vida material. Originalmente, contudo, o termo grego "theoria" já denotava ​a ​contemplação ​amorosa ​e desapaixonada, acessível, unicamente, àqueles capazes de subjugar as suas emoções e desejos, de modo que o intelecto pudesse funcionar, na práxis, sob a luz do Espírito. 

Upasthāna: a via de síntese do puro Yoga

Śraddhā e a unidade essencial das religiões
(Interpretação de maio de 2004)
Este artigo encerra e conclui a serie dedicada à meditação na práxis do cotidiano. Não há um único texto da literatura sagrada que trate, explicitamente, desta classificação quíntupla do ritual de imersão na meditação na ação. A classificação aqui adotada (Saṃkalpa, Ṛṣi-nyāsa, Viniyoga, Satya Tyāga e Upasthāna) é oriunda da tradição oral  do Śraddhā Yoga e se funda em uma síntese de diferentes elementos do Yajña, encontrados na literatura védica. Tradicionalmente, os yajñas representam distintos rituais realizados diante do fogo (por exemplo: Agnihotra, Soma Yajna e Aśvamedha), geralmente acompanhados de mantras. Aqui o yajña é entendido, unicamente, como uma preparação interior para a comunhão com o sagrado, onde o fogo é internalizado para representar o fogo do sagrado coração. 

Upasthāna, dentro do contexto dos cinco movimentos (angas) conduzentes à meditação na ação, representa o momento em que nos encontramos aptos para dar início ao nosso dia, fazendo de cada minúscula ação uma meditação. Representa a conclusão, o agradecimento final e o momento culminante do processo de conexão espiritual que nos faz instrumentos e representantes da divindade em cada minúscula ação do dia-a-dia.

2016-10-02

Itihāsa: a mentoria segundo o cânone

A práxis sintrópica da filosofia do coração, revelada  na Bhagavad Gītā1, episódio central do Mahābhārata2, é discutida ao longo deste livro-blog a partir das experiências do autor. A cultura sintrópica não é algo que se transmite de forma passiva. Pelo contrário, é algo que se aprende de forma ativa quando se está disposto a ser o protagonista, na práxis, do seu próprio aprendizado. A maestria é antes uma habilidade prática que um conhecimento teórico. E o caminho para a maestria é feito de pequenos, mas constantes, passos. É deste entendimento que se segue a licença poética para utilizar o termo "Itihāsa" com o sentido de mentoria. "Itihāsa" indica, neste caso, o processo prático que objetiva emancipar o mentorado do seu mentor por meio da cultura sintrópica do Śraddhā Yoga, que se funda na arte e na ciência da meditação, expostas por Krishna na Bhagavad Gītā. 

A marca característica fundamental e distintiva dos Itihāsas (iti-ha-āsa: literalmente, "assim, de fato, se deu") é o fato destas narrativas de caráter histórico mitológico representarem relatos testemunhados diretamente pelo autor, presente na trama como personagem. Itihāsa representa um estilo de narrativa em versos, de certa forma, semelhante ao Os Lusíadas, de Camões. Neste grande poema épico (8.816 versos simples) sobre o povo Luso, Camões narra a viagem às Índias, por "mares nunca dantes navegados", dos argonautas portugueses liderados por Vasco da Gama, mesclando elementos de história, religião e mitologia.  Para a Igreja, o poema serve-se da mitologia e do "politeísmo" dos indianos, unicamente, com o intuito de manter as verdades da santa fé. Daí ela entender Os Lusíadas como um instrumento da fé cristã e do seu ideal evangelizador. Contudo, é inegável que a narrativa poética de Camões acrescenta ao espírito católico o sentido histórico mitológico do ecletismo religioso, presente na cultura grega e também nos Itihāsas indianos – compostos, fundamentalmente, pelo Rāmāyaṇa (24.000 versos duplos) e pelo Mahābhārata (100.000 versos duplos).

2016-10-01

O que é Sākṣī?

“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser.
Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.”
(Ṛigveda 1.164.20 e Muṇḍaka Upaniṣad 3.3.1)
Sākṣī (sa, “com”; e akṣa, “centro da roda, olho”) significa, “observador”, “testemunha”. Quando a roda gira, seu centro (aka) permanece imóvel. O estado de Testemunha, Sākṣī (pronuncia-se "sá-kshí"), expressa a capacidade de observar e sentir, impassivelmente, os eventos que fazem o mundo girar.

2016-09-30

Lidando no Mundo dos Sonhos com a Insondável Angústia

"Unfathomable Sorrow" -- Insondável Angústia: assim denominei esta angustia excruciante que, vez por outra, assume o papel de farol e bússola deste meu processo de individuação (funcionamento ātma-para).
Padre Antonio Vieira dizia que não bastava ver para ver. Era necessário olhar para o que se via. Hoje, dizemos o mesmo de outro modo, pois entendemos que olhar é dirigir a nossa atenção com os olhos, movimentando-os até se formar a imagem do objeto. Se você não olha para o objeto, você não vê a sua imagem. Não é o olhar, e sim o ver, que significa o reconhecimento da imagem pelo sentido da visão. Daí a frase, "O pior cego é aquele que não quer ver". Não faria muito sentido dizer "pior cego é aquele que não quer olhar". Apesar do nosso olhar, é sempre mais fácil não ver do que ter que enxergar o que nos desagrada.

O que é a Prática da Saúde do Śuddha Rāja Yoga?

Quem alcançou a décima e última das lições introdutórias1, estabelecidas no passado pela seção chilena da instituição religiosa denominada ŚUDDHA DHARMA MANDALAM (SDM), sabe que o conteúdo destas lições coincide, praticamente, com aquele do ritual da Prática da Saúde, onde se contemplam os exercícios introdutórios às três formas de meditação que compõem o Yoga de que trata a Bhagavad Gītā: meditação externa (Saguṇa Dhyāna), meditação interna (Nirguṇa Dhyāna) e meditação pura (Śuddha Dhyāna). Organizada por Sri Vajera a partir de algumas passagens do Sanātana Dharma Dīpikā, a Prática da Saúde divulgou e popularizou estas formas de meditação em toda a América Latina.

O que é a Meditação Sintrópica?

Diário da Consciência de Si

A meditação tem relação com a cultura sintrópica e o processo do autoconhecimento, autocontrole, autonomia e individuação do Ser, que nos permite interagir com a sociedade e com o meio ambiente, segundo as leis universais do amor. O objetivo principal das práticas de meditação é aprimorar a nossa escuta do Ser (Bhāvana) e nos nutrir do amoroso sentimento sintrópico (śraddhā) que nos conduz do saṁsāra ao nirvāṇa, na exata medida em que aprofundamos o nosso entendimento de Ṛta, a lei universal que rege os processos entrópicos da realidade material e inorgânica e os processos sintrópicos da realidade espiritual e orgânica.

Quando nos identificamos com o fogo ardente do coração, a nossa vida toda se torna uma meditação. Este é o sentido do diálogo entre Krishna e Arjuna na Bhagavad Gītā. Meditar, em essência, significa aquietar o pensamento, testemunhar o ritmo da respiração e fazer o coração vibrar (śraddhā) na frequência de amor puro da energia sintrópica de onde surgiu o universo (Brahma-śakti) e que nos unifica à nossa transcendente origem, possibilitando-nos afirmar, com convicção: "Eu sou o fogo ardente do coração em ação; eu sou a presença da paz e do amor em ação". Nesse sentido, não é algo totalmente estranho à cultura ocidental. Pelo contrário, representa o ensinamento simbolizado no primeiro dos Dez Mandamentos da tradição judaico-cristã. Representa o ideal de sintonia com o Sopro Universal, a fonte de onipotente poder de onde procedem todas as formas de Vida, e que levou Jesus a dizer, "eu e o Pai somos Um". 

2016-09-29

Viniyoga: a sintonia integral com a luz natural do coração

A expressão "viniyoga" evoca a ideia de adaptação e individualização da disciplina espiritual, permitindo que a prática seja retomada a partir do ponto em que o praticante parou, respeitando suas condições atuais e favorecendo uma progressão gradual e consciente.

Sua etimologia pode ser assim compreendida: "vi"- expressa diferenciação, adaptação; "ni"- remete à ideia de intensificação; "yoga"- significa integração, conexão ou união. A justaposição dos prefixos "vi" e "ni" intensifica a noção de aplicação diferenciada e adaptativa, realçando a importância de personalizar a prática do yoga para atender às necessidades singulares de cada pessoa. Assim, viniyoga pode ser traduzido como “aplicação diferenciada da disciplina espiritual” ou “adaptação do yoga ao indivíduo”.

2016-09-26

Os três níveis da Meditação Sintrópica (Prática Coletiva)

A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
Apresentamos a seguir o roteiro da prática coletiva de Meditação, conhecida como "As Três Dhyānas". Esta prática pode ser adaptada, ou resumida, e incluída em nossa rotina diária. O ideal é que ela seja realizada logo após o asseio matinal, durante o Brahma-Kāla (período de Brahman: entre as 02h00 e as 06h00), período que antecede o nascer do sol, em um local adequado, limpo e especialmente decorado para esta finalidade. Aqueles que quiserem, podem preparar o ambiente fazendo uso de mantras e canções elaboradas, especialmente, para esse fim.

As Três Dhyānas

INÍCIO (Sete toques no gongo. A voz firme, forte, clara, harmoniosa e agradável. Deixar certo intervalo entre cada frase, para que todos tenham tempo de assimilá-las.)

2016-09-16

Coração Tranquilo


Como disse o socialista zen Walter Franco no programa do Jô (1990): "Eu condeno o ódio ideológico" ... "Para que este país volte a ter alegria"..."Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo"...

O Fogo Ardente do Coração

O Fogo Ardente do Coração
O sagrado coração materno do judaísmo e do seu filho,
o cristianismo universal.
O poema animado  "Keepers of the Flame" (Guardiões da Chama), de Paul Reynolds, reproduzido abaixo1, exemplifica que não é necessário pertencer, especificamente, a nenhuma instituição religiosa, para acender e manter acesa a chama interior e o ardor do coração que definem a espiritualidade pura, tanto na Bhagavad Gītā, como na Bíblia. (Lucas 24:32). Segundo o ancestral e puro Yoga revelado por Krishna na Bhagavad Gītā, este ardor surge como expressão do sentimento amoroso e inflamado que brota do coração (śraddhā), quando nos aproximamos racionalmente2 da essência (śuddha) do sagrado (dharma). Esta mesma representação da chama interior e do ardor do coração também está  presente na tradição bíblica judaico-cristã, que enfatiza e unifica, inclusive, os valores judaicos, representados pelo sagrado coração de Maria, e os valores cristãos, representados pelo sagrado coração do seu filho, Jesus. 

2016-09-03

Śuddha Pañjikā: o diário da consciência

Diário do Iogue em Śuddha Yoga

Śuddha Pañjikā1 denota o diário da consciência sintrópica no qual os praticantes do Śraddhā Yoga exercitam a sintonia fina com a energia amorosa do coração. Na antiguidade védica, dizia-se que a pañjikā era o registro das ações humanas mantido pot Yama, o Senhor da Morte. Em sua forma essencial (śuddha), porém, ela se transforma em espelho do esforço de viver segundo a filosofia da práxis sintrópica do coração.

A Śuddha Pañjikā procura expressar o desabrochar gradual de śraddhā e, com ele, o nascimento da visão sintrópica (divya-cakṣus), pois o coração não conhece correntes — simplesmente porque não sabe viver acorrentado. O coração espiritual busca apenas seu ritmo sintrópico, desejando harmonizar-se, sem perder a cadência nem o compasso.