Cartão postal de Francisco Barreto, encarnação de śraddhā:
Existem mundos maravilhosos e fascinantes, mas existe um mundo
infinitamente mais misterioso e atraente: o céu que está dentro de nós.
(Enviado seis meses após minha visita ao Ashram Atma - 02.07.79)
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Como vimos anteriormente, cada um dos seguintes cinco estágios de Brahma-sāmīpya, o quíntuplo poder de convergência sintrópica, descritos no Śuddha Yoga, decorre de śraddhā, verdadeira bússola do processo natural de meditação:
1. Saṃkalpa (Decisão, Resolução), a firme resolução da faculdade da vontade de não se afastar da meta suprema, está associado à capacidade de projetar o comportamento futuro segundo a luz do sentimento sintrópico que se origina do coração. Saṃkalpa significa motivação e força de vontade para desenvolver a energia interior e alinhá-la, de forma definitiva (Ananta he!) com a escuta interior. Representa a firme resolução de vigiar os mais inocentes pensamentos, não permitindo que a mente se afaste do coração durante o cumprimento da nossa rotina;
2. Ṛṣi-nyāsa: Certificar-se de estar revestido pela Vontade Cósmica e Suprema (Brahma-śakti) no indivíduo, a marca característica da internalização da divindade e da expressão de śraddhā. Representa a capacidade de fazer de toda atividade uma Invocação de unificação, no coração, com a energia sintrópica do Ser Supremo (Brahma-śakti), que se manifesta nos seres humanos como śraddhā. Esta energia aparece personificada no Ṛgveda como a deidade Śraddhā, que, no épico Mahābhārata, é invocada em seu aspecto de Durgā (Invencível) por Arjuna, em conformidade com a orientação de Krishna. Como consequência e expressão de Ṛṣi-nyāsa nasce, então, o próprio diálogo da Bhagavad Gītā;
3. Viniyoga: Significa não se afastar do sentimento de Bhāvana. Todo o imprevisto deve ser visto apenas como uma oportunidade para se intensificar a disciplina de aproximação à unidade (Bhāvana Namaḥ), desenvolvendo e adaptando métodos específicos para enfrentar cada desafio que nos convide a dar um novo primeiro passo no sentido da convergência para a meta. Viniyoga representa a iniciativa e a iniciação que nos revelam o caminho sintrópico e nos capacitam a recomeçar de onde se está e a avançar, simplesmente empregando o primeiro minuto no sentido da convergência para a meta. O Yoga Sūtra afirma que a prática de saṃ-yama (conjunção de dhāraṇā [concentração e foco], dhyāna [meditação] e samādhi [êxtase]) favorece o desenvolvimento destas intuições relativas à formulação de viniyoga (Yoga Sūtra 3.6: "tasya bhūmiṣu viniyogaḥ" – o processo prático [viniyoga] para isto [tasya] ocorre gradualmente [bhūmiṣu]);
4. Satya Tyāga: Certificar-se de estar em sintonia com a Vontade Cósmica (Bhāvana Namaḥ), renunciando (samnyāsa) de imediato e de forma impessoal a toda e qualquer circunstância inibidora da consagração (tyāga) de si mesmo ao Supremo. Krishna explica a Arjuna na Bhagavad Gītā que tyāga pressupõe a renúncia (samnyāsa) à tudo que impeça o foco na consagração de si mesmo à Vontade Suprema, manifesta no coração, no instante presente. Representa a dedicação, de forma impessoal, de todas as ações à divindade, de forma que cada novo passo esteja sempre vinculado e em consonância com o processo gradual de construção e reforma íntima. E por fim;
5. Upasthāna: O agradecimento pelo sentimento interior (bhāvana) de sintonia e unidade com o sagrado (dhyāna). Quando nos lembramos de dar graças por tudo retomamos o nosso foco e ganhamos uma nova oportunidade de nos aproximar da práxis sintrópica e de quitar os três tipos de dívidas espirituais que todos herdamos: débito com a esfera das deidades que zelam pela nossa própria identidade espiritual; débito com os sacerdotes, gurus, sábios e santos que nos deixaram como herança o conhecimento espiritual; e débito com os nossos ancestrais, que possibilitaram o nosso nascimento neste mundo. Traz implícita a prece aos nobres seres do plano divino para que nos perdoem, caso haja, em nosso esforço diário para agir com śraddhā, algo de impuro, impróprio, inadequado, ou que seja excessivo.