2024-04-14

O Início (03/08)

Era uma vez um jovem executivo que buscava a excelência em tudo o que fazia. Queria tornar-se um guru do ambiente empresarial. A busca o fez interromper por muitos anos a sua carreira e a percorrer os lugares mais distantes e os seus principais centros de pesquisa. Conversou com inúmeros executivos com toda a espécie de formação e background e também com diversos sábios e eruditos de distintas áreas e tradições. Conheceu templos longínquos, na Índia, Tibete e outros países do oriente e também os espaços luxuosos das modernas corporações ocidentais. Começava, aos poucos, a compreender a essência única que se manifestava em todo aquele espectro de estilos de gestão de pessoas, recursos e produtos.

Entrou em contato com muitos líderes aparentemente bem-sucedidos, mas que faziam a organização crescer de forma predatória, explorando os funcionários e servidores, o ambiente e o seu entorno. Eram gestores autocráticos, práticos, realistas, orientados para o lucro. E conheceu também muitos gestores democráticos, bonzinhos, humanos, participativos, que tinham o apoio de suas equipes, mas que não produziam os resultados esperados pela organização. Logo percebeu esta nítida polaridade que os dividia, a baixa eficácia que os caracterizava e o estilo de vida em desarmonia com a natureza.  Alguns privilegiavam os interesses corporativos; outros, os dos seus funcionários mais próximos. Soube, então, o que procurava: um gestor que fosse capaz de gerenciar a si mesmo e ao seu ambiente de forma integral, que beneficiasse igualmente a organização, os seus funcionários e o entorno onde estava inserida.

O que poderia tornar um gestor, verdadeiramente, pleno, feliz e eficaz? Ao visitar um monastério nos Himalaias conheceu um líder espiritual que era também muito engajado em todas as atividades econômicas e políticas da sua região. Era um empreendedor muito hábil e próspero, que dividia o seu tempo na condução dos serviços da sua comunidade espiritual e das suas atividades econômicas. As pessoas gostavam, não apenas de aprender com ele, mas, principalmente, de trabalhar para ele. 

Ouviu dizer coisas incríveis e incomuns sobre este líder. As pessoas sob o seu comando, se transformavam em grandes talentos, produziam excelentes resultados e logo se tornavam líderes, ou novos executivos de sucesso, estreitando ainda mais as relações de parceria com o seu mentor.

Começou a sentir o desejo de conhecê-lo mais de perto e perguntou-se se este líder não aceitaria os seus serviços em troca da sua orientação. Curioso, buscou entrar em contato com ele. No templo, ficou na primeira fila, fixando atentamente o seu olhar enquanto aquele guru espiritual falava. Após o encerramento, procurou um dos colaboradores e perguntou como poderia contatá-lo. Para a sua surpresa, foi recebido de imediato. 

Que tipo de líder, espiritualista ou não, se dispõe assim a dar atenção a um estranho, sem nenhum protocolo? Foi recebido em uma sala pequena e simples, mas muito limpa e com várias plantas e flores. Ao entrar na sala, o guru estava sentado em uma poltrona. Ao vê-lo, sorriu e o convidou a se sentar. Logo em seguida, perguntou-lhe:

“Como posso ajudá-lo?” 

O jovem disse que gostaria de aprender com ele sobre o seu estilo de gestão, que muito o impressionara. Quis saber se poderia realizar alguma espécie de estágio. O guru, então, cordialmente, perguntou o que exatamente, ele gostaria de saber. E o jovem replicou: 

“Como o senhor gerencia produtos e pessoas? Mantém reuniões regulares? Como o senhor conduz as reuniões? Qual deve ser a finalidade de uma reunião? Como trata dos problemas que necessitam ser solucionados? Como gerencia os seus produtos, o cronograma de atividades e o desenvolvimento dos planos e estratégias estabelecidos para se alcançar os resultados desejados? Como o senhor administra os diferentes conflitos? O senhor participa da tomada de decisão do seu pessoal?”

“Mantenho uma reunião semanal com cada equipe, onde atualizo o foco no nosso programa de Gestão Sintrópica”, respondeu o guru. “Para isto, preparo a egrégora e entro em sintonia com os mantras da nossa corporação. Uma vez na reunião, faço a abertura, me certifico de que todos estão na mesma sintonia e estabeleço o processo de escuta de coração-a-coração, conhecido como saṁvāda. A partir daí, escuto enquanto o pessoal relata e analisa as dificuldades encontradas, as realizações e os resultados da última semana. Em seguida, fazemos o saṃkalpa, onde cada um assume o seu compromisso com os planos e estratégias que traçamos juntos para a próxima semana.”

“Pelo que soube, saṃkalpa seria o nome do comprometimento com o firme propósito de realizar o que foi acordado, certo?”, perguntou o jovem uma vez mais.

“Perfeitamente!”, respondeu o gestor. “Os saṃkalpas são parte essencial do nosso programa. Sem eles, as reuniões perderiam todo o sentido e a objetividade”.

“O senhor toma parte ativa no saṃkalpa, comprometendo-se, igualmente, com materialização dos resultados da sua equipe?”. 

“De forma alguma! O meu saṃkalpa consiste em emancipá-los da necessidade de terem que contar com a minha participação e orientação. A nossa finalidade é a maximização da energia sintrópica do grupo e esta só ocorre quando todos os membros atuam de forma espontânea, autônoma, sincrônica e sinergética. Sendo sintrópicos, otimizamos a qualidade do nosso ambiente e maximizamos os nossos resultados.”

“Entendi”, disse o jovem. “O senhor é totalmente orientado pelos resultados.”

“De forma alguma”, retrucou o gestor. “Os resultados são obtidos por meio de pessoas. A sintropia é máxima quando aprendemos a equilibrar as necessidades das pessoas e os resultados esperados pelas organizações. A gestão sintrópica cuida para que as pessoas se desenvolvam e aprendam a estarem satisfeitas consigo próprias. E estas, à medida em que se aprimoram e se sentem mais realizadas, otimizam os seus resultados e, consequentemente, da organização.” 

Depois de parar por uns instantes, concluiu: 

“Eu vou lhe dar a oportunidade de ver por você mesmo. Você será nosso estagiário e terá a oportunidade de experimentar na prática os resultados do nosso programa de gestão sintrópica.”

(Atualizado em 18.04.24)









Nenhum comentário:

Postar um comentário