2024-04-14

A Gestão Sintrópica (04/08)

Em seu primeiro dia de estágio, o jovem foi chamado à sala do gestor que lhe mostrou o conhecido yantra Haṃsa e disse:

“Conservo este quadro para me lembrar do mantra norteador da práxis sintrópica e fractal do nosso programa: Haṃsa, o mantra que cuida da nossa energia interior e administra o desenvolvimento desta energia em sinergia e sincronicidade com o grupo. Todos os dias este yantra me recorda que devo cuidar e zelar pela egrégora que compõe o nosso ambiente, para estar certo de que estamos oferecendo as condições adequadas, necessárias e suficientes, para todos se sentirem bem e produzirem os melhores resultados.”

O jovem então perguntou:

“Ajudar as pessoas a se conectarem consigo mesmas constitui uma das chaves para se alcançar a sintropia do grupo?” 

“Sim”, respondeu o gestor. “A sintropia se traduz em alta performance e resultados de excelência. Ela considera o planeta todo como um ser vivo e imita a natureza, promovendo a regeneração e o equilíbrio de qualquer ambiente degradado, tal como se observa nas regiões devastadas pelo homem, que, após alguns anos, parecem se regenerar por si sós.”

“A sintropia reflete o perfeito equilíbrio entre a qualidade e a quantidade?”, pergunta o jovem.

“Claro. Qualidade significa simplesmente adequar os produtos às necessidades do meio ambiente onde se está inserido. Significa muito mais que simplesmente oferecer às pessoas os produtos e serviços que elas pensam que desejam, ou necessitam. Significa atender os protocolos, não do nosso ego, mas da nossa consciência mais profunda, que se expressa pelo equilíbrio da natureza, conforme a ecologia profunda que rege a vida de todo o planeta.

O gestor permaneceu em sua poltrona envolto em seus pensamentos. Lembrava-se do tempo em que a sua empresa e o seu núcleo espiritualista desconheciam a sinergia, a eficiência e a eficácia prática da gestão sintrópica. Naquele período, o desconhecimento e a dificuldade de manutenção da energia sintrópica da egrégora, de um lado, esvaziava as reuniões do núcleo; e de outro, impedia que a organização fosse produtiva e prosperasse.

“O segredo da produtividade está no perfeito equilíbrio da quantidade e da qualidade”, disse. E o jovem, então, perguntou:

“Mas o que significa ser um gestor que conhece e aplica esse conhecimento? Como o senhor descreveria o seu estilo de gestão?” O gestor, então respondeu:

“Eu sou um Gestor Sintrópico.”

Via-se estampada na face do jovem a sua surpresa. Esta categoria não constava ainda dos manuais de administração. Percebendo a perplexidade do jovem, ele prosseguiu:

“É assim que chamo a mim mesmo porque me ocupo da energia que orienta todas as interações e atividades. Como um guru, eu zelo pela energia que forma a “consciência” do ambiente. E uma vez que esta consciência esteja bem formada e implementada, só o que me compete é cuidar da sua manutenção, o que, praticamente, pouco exige da minha presença física, ou participação. Quando as pessoas operam segundo o nosso programa, dentro de uma dada egrégora, de forma sincrônica, sinergética e sintrópica, a consciência da egrégora se manifesta, conduzindo todo o processo de forma natural e espontânea, sem a necessidade de se interferir e de se cobrar a todo instante o cumprimento dos prazos, das metas e dos resultados. Tudo o que necessito é de uma reunião semanal breve, que consta de duas etapas: a primeira, para relembrarmos e aprofundarmos o nosso entendimento e exercitarmos, ali no grupo, na prática, os fundamentos do programa para despertar o gênio da lâmpada.”

“Gênio da lâmpada?”, perguntou o jovem.

“Sim”, respondeu o Gestor Sintrópico. “E assim que chamo a esta consciência sintrópica que nos possibilita atuar de forma sincrônica e sinergética. Assumi um compromisso integral, um saṃkalpa, com esta consciência universal, o gênio da lâmpada, e ela supre as nossas necessidades de forma sintrópica, na exata medida em que mantemos os nossos propósitos. Por isto, necessito das vinte e quatro horas do dia para viver este saṃkalpa, mas de poucos minutos semanais para conseguir gerir de forma sintrópica quaisquer egrégoras sob a nossa esfera de influência – sejam elas de natureza familiar, social, espiritual, empresarial ou política.”

O jovem parecia incrédulo, pois sabia como era difícil conseguir bons resultados dos distintos grupos. Jamais ouvira falar em Gestor Sintrópico – alguém que consegue bons resultados de forma harmoniosa, não predatória, saudável e que não demandava muito tempo de envolvimento direto com a gestão de todo o processo. Outra vez, percebendo a perplexidade do jovem, acrescentou:

“Agora você vai iniciar a sua semana de integração e treinamento. Você poderá, então, fazer todos os seus questionamentos e confirmar a eficácia do programa em uso em nossa empresa. Aqui está a relação dos nossos gestores e das áreas pelos quais eles são responsáveis. Considerando que este nosso diálogo se deu já de coração-a-coração, como saṃvāda, considerando que você já experimentou algo da egrégora aqui formada, é hora de você compreender o nosso mantra para poder despertar o gênio da lâmpada em você. Olhe para esta lista com atenção, permita-se auscultar a voz desse gênio em seu coração e atenda à sua orientação, decidindo-se por onde você deseja iniciar o seu treinamento. Esta primeira decisão sobre o seu aprendizado deve vir daquele lugar que melhor representa a essência mais pura do seu coração. Tome, portanto, a sua decisão.”

O gestor levantou-se da sua poltrona e conduziu o jovem até a porta e olhando-o bem fundo nos olhos, insistiu, uma vez mais, naquele ponto que definia o mantra e a primeira chave para o sucesso do programa de gestão colaborativa e sintrópica: com a respiração suave e tranquila, concentrado na luz, na lâmpada do seu coração, tome você mesmo a decisão que considera em sintonia com a presença do gênio em você e em todos os seres. O jovem sentiu-se acolhido e teve a certeza de que contava com a colaboração do gestor para ser bem-sucedido. Mas o próprio significado de “colaboração” começava agora a ganhar novo sentido para ele. O gestor, paradoxalmente, a um só tempo, parecia estar colaborando com ele na obtenção dos seus resultados, mas o fazia sem se envolver e sem, de fato, “colaborar”, concretamente. Competia a ele tomar a decisão sobre como seguir com o seu aprendizado, fundado nos saṃkalpas e no mantra Haṃsa. O jovem estava surpreso. Como ele poderia ser o responsável pelo seu próprio treinamento? Seguiu-se entre ambos um momento incômodo de silêncio. O gestor percebendo, complementou:

“Eu admiro o seu interesse e estou certo de que tomará as melhores decisões.”  Apertou-lhe a mão e se dispôs a tirar-lhe as dúvidas. Disse-lhe para voltar logo que tivesse concluído as suas conversas com os demais diretores. Estava disposto a orientá-lo a se tornar um Gestor Sintrópico. O jovem agradeceu e se despediu. Examinando a lista, escolheu o primeiro diretor com quem gostaria de conversar.

SUMÁRIO GERAL: A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Rio de Janeiro, 14.04.24.
(Atualizado em 18.04.24)

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