Destinada a introduzir o aspirante aos segredos e às chaves para a compreensão da realidade sintrópica, a disciplina "CMT 014 - Oficina de Estudos: a Arte e a Ciência da Meditação", oferecida no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ explora os grandes tópicos associados ao surgimento e ao desenvolvimento histórico da arte e da ciência da meditação ou contemplação. Diferencia-se, deste modo, das demais experiências realizadas até aqui em torno da ciência da meditação, em instituições como a UNIFESP, UFF e o próprio Centro de Ciências Médicas da UFRJ, que apresentam uma ênfase, não na história e constituição da arte e da ciência da meditação, mas, basicamente, em sua eficácia enquanto uma prática integrativa, ou “técnica terapêutica", complementar aos demais procedimentos da área de saúde.
A aprovação da disciplina A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā em meados de 2018 contemplou como ementa a espinha dorsal da apostila, inclusa neste livro-blog:
- As Primeiras Evidências dos Fenômenos Religioso e Espiritualista
- A Bhagavad Gītā no contexto do Mahābhārata
- A Bhagavad Gītā como a Grande Síntese das Escrituras Sagradas da Índia
- Śraddhā na Bhagavad Gītā
- A Meditação como a Escuta do Coração
- A Arte e a Ciência da Meditação Pura em seus Três Estágios
A disciplina CMT014 oferece uma visão crítica e prática sobre as distintas modalidades de meditação, incluindo seu impacto histórico-cultural, filosófico, científico e médico. A sua estrutura lógica está centrada na compreensão da Bhagavad Gītā como alegoria fundamental do processo de meditação, ilustrado a partir de três metáforas e três mantras principais da cultura védica: (1) a metáfora dos dois pássaros; (2) a metáfora do cisne; (3) a metáfora da quadriga; (4) o mantra AUṂ (OṂ); (5) o mantra Haṃsa; e (6) o mantra OṂ NAMO NĀRĀYAṆĀYA.
As aulas são complementadas com oficinas conduzidas por convidados, especialistas de diversas modalidades de meditação. Esta parte do curso, não considerada na apostila, varia de semestre para semestre em função dos palestrantes (quatro ou cinco ao longo do período), convidados para (1) apresentar e ilustrar os pontos de vista das suas respectivas tradições espirituais e escolas de pensamento e (2) possibilitar aos alunos o aprofundamento dos conteúdos desenvolvidos durante as aulas e as oficinas. O curso como um todo, deste modo, oferece uma pequena reconstrução do pensamento sintrópico.
O NASCIMENTO DA DISCIPLINA
No final de 2017 participei do Primeiro Congresso dos Colaboradores Anônimos da Universidade do Coração, realizado entre 30.12.17 e 01.01.18, na Fazenda Mãe Natureza – SE. Minha conferência teve como título, Mahābhārata: A história da manifestação do śuddha dharma (veja aqui a playlist que explora esse tema). A apresentação me levou à elaboração da ementa de uma nova disciplina acadêmica, inicialmente chamada de A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā. Os primeiros passos para a materialização deste projeto haviam sido dados entre 2008 e 2011, durante os três anos do meu pós-doutorado na Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFRJ (veja aqui), onde seria implementado o Laboratório de Estudos sobre a Índia e Ásia do Sul (LEIAS). De forma concreta a implementação do projeto teve início em 16 de agosto de 2017, por iniciativa do PsIQ/UFRJ, que apoiou a ideia da criação da nova disciplina (veja aqui). A partir de 2019 ela passou a ser oferecida como disciplina eletiva, semestralmente, pelo Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da UFRJ com o título CMT 014 - Oficina de Estudos: a Arte e a Ciência da Meditação. O vídeo abaixo mostra a aula de encerramento do período 2024-1:
Aula Final do Período 2024-1
As referências bibliográficas e videográficas do curso estão resumidas em Meditação e Espiritualidade: Referências para Estudo e Pesquisa. A realização interior começa com o cultivo da escuta interior (bhāvana), que nos conduz à contemplação (divyacakṣus) do Princípio Sintrópico (Ṛta) que rege o universo, conforme ilustrado no paradigmático capítulo XI da Bhagavad Gītā. Assim como as formigas e as abelhas operam sob a jurisdição de uma consciência coletiva, também operamos sob o campo de influência de uma consciência sintrópica maior e universal. Ao desenvolver a capacidade de trabalhar em sintonia com a lei de equilíbrio e bem-estar universal (Ṛta), que emana desta consciência superior (Ātman), o sujeito (Jīva, o ser animado) alcança o autocontrole necessário para harmonizar os processos entrópico (guṇa-para), característico do princípio material que rege o nosso corpo (ahamkāra, o ego), e sintrópico (ātma-para), característico do princípio espiritual que o anima (Ātman, o Ser). Este processo está descrito de forma rigorosa no meu texto "Śraddhā in the Bhagavad Gītā" (2007), que fornece os elementos para a representação da Bhagavad Gītā como uma meditação.
Rio de Janeiro, 27 de maio de 2018.
(Atualizado em 18.11.24)
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