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2025-04-25

Śraddhā Yoga Svatantra: Viniyoga, Anti-Psicanálise e o Domínio da Luz Interior

“Quando sei quem sou, eu e você somos Um.​" 
(Hanumān, no Rāmāyaṇa)
Este artigo marca uma inflexão teórica no desenvolvimento do Śraddhā Yoga Svatantra, ao apresentar os cinco pilares de heartfulness como uma via espiritual que transcende o paradigma psicanalítico moderno.

Em vez de tratar os conflitos interiores como pulsões que precisam ser interpretadas, o Śraddhā Yoga propõe uma práxis sintrópica que antecipa as quedas e orienta o ser à luz da verdade interior (Ṛta).

Articulando de forma original cinco fundamentos1 do Śraddhā Yoga – saṃkalpa, ṛṣinyāsa, viniyoga, satya tyāga e upasthāna  – , este ensaio ilumina também o ponto de interseção e ruptura entre bhakti e śraddhā, revelando como a confiança ardente e o sentimento intuitivo de certeza testada racionalmente (cogito) não depende da devoção à forma, mas da escuta silenciosa do Ser.

2023-07-01

Sintese da Práxis e da Meditação Sintrópicas em Dezoito Passos

​1. Tudo no universo é constituído por duas forças, dois princípios, ou leis, que se manifestam como energia: a entropia e a sintropia. O Oriente expressa o equilíbrio destas duas potências por meio de dois símbolos: um chinês, o Tao, que  expressa estas duas forças como Yin/Yang ([);  e o  AUṂ (\), que as expressa como o equilíbrio (M) entre o Espírito (A) e a Matéria (U).

​2. Há autores que aproximam estas duas representações. Um exemplo notável é encontrado no livro The Gospel of Sri Ramakrishna. O texto é uma compilação das conversas e ensinamentos do santo indiano Sri Ramakrishna, registrado por seu discípulo Mahendranath Gupta.

3. Ele utiliza o símbolo indiano pouco conhecido de dois peixes invertidos, similar ao símbolo chinês, para representar a dualidade entre o aspecto manifestado (aparente) e o aspecto não manifestado (essencial) do universo – um peixe branco, com olhos pretos; e outro preto, com olhos brancos:

"Aquele é o ser supremo,
E esta alma individual é o mesmo ser supremo.
Este ser supremo é quatro-quartos,
E esta alma individual também é quatro-quartos.
Estes dois peixes separam-se de onde a linha se encontra com a água
Da mesma forma, estas duas porções
Deste ser supremo separam-se quando este mundo se manifesta."

2022-08-28

O significado da Gītopadeśa

Como reconhecer a verdade e os mestres? Como alcançar a percepção do Ātman? A Bhagavad Gītā expressa esse método de reconhecimento que, a um só tempo, valida e transcende o antigo método védico, fundado: (1) na escuta (śravaṇa), (2) na reflexão (manana) e (3) na reiteração meditativa da reflexão (nididhyāsana).

A figura conhecida como Gītā-Upadeśa, ou melhor, Gītopadeśa, revela a essência da Bhagavad Gītā. O entendimento de que espiritualidade representa algo que transcende a mera esfera religiosa é a marca característica da Gītopadeśa. Ela mostra a Bhagavad Gītā como expressão da metáfora da unificação dos dois pássaros descritos no Ṛigveda (1.164.20), na Muṇḍaka Upaniṣad (3.3.1) e na Māntrika Upaniṣad. Expressa, portanto, como desenvolver o discernimento, ou a visão espiritual (Divyacakṣus), por meio da arte e da ciência da meditação. A Gītopadeśa mostra o Senhor Krishna e Arjuna sentados na quadriga puxada por quatro corcéis brancos. A quadriga simboliza a mente e o corpo humano; Arjuna, a consciência individual (o “si mesmo”, o ser individual, o jīva) condicionada pelo processo objetivo do mundo (saṁsāra); e Krishna, o Espírito que exerce o controle das rédeas, ou da mente emocional (com jurisdição sobre os sentidos). Quando o ser individual (Arjuna, Nara) se deixa dirigir pelo Supremo Espírito (Krishna, Nārāyaṇa), presente em si mesmo, avança pelo caminho que nos conduz do saṁsāra ao nirvāṇa. Esta metáfora, conhecida como Gītopadeśa, representa a síntese da Bhagavad Gītā a partir de sete versos (conhecidos como Saptaślokī Gītā ou a Gītā de Sete Versos: BhG 2.2, BhG 2.3, 2.11, 18.61, 18.62, 18.64 e 18.66). 

2021-12-31

A Jornada do saṃsāra ao nirvāṇa em quarenta movimentos


​A Bhagavad Gītā no Mahābhārata:​
Sanjaya narra para o rei cego Dhritarashtra a revelação do Śraddhā Yoga

As quarenta proposições a seguir ilustram como o Śraddhā Yoga, revelado na Bhagavad Gītā, nos conduz, por meio da arte e da ciência da meditação, do saṃsāra ao nirvāṇa. 

01. Cada novo dia é uma oportunidade de iniciação na heroica jornada do saṃsāra ao nirvāṇa. Para que esta iniciação ocorra e/ou se atualize, temos que tomar a resolução firme de não cair ante o desânimo e todas as demais dificuldades que forem se apresentando como provas, ou obstáculos, ao desabrochar de nossa śraddhā. Colocado em termos da filosofia grega, este desabrochar guarda semelhanças com o processo descrito na Alegoria da Caverna de Platão.

2021-10-15

Onde quer que você esteja, seja a alma do lugar . . .

Quando chegamos ao Rio, em janeiro de 1991, Cássia e eu ainda não sabíamos exatamente porque estávamos vindo para cá e não para São Paulo, de onde partíramos para nos juntar ao projeto pioneiro desenvolvido por Francisco Barreto, em Sergipe, fundado em uma práxis que, hoje, chamamos de sintrópica. Não sabíamos, até então, que iríamos colaborar para plantar os Upadeśas, ou sementes da cultura sintrópica no Rio de Janeiro. As linhas que se seguem discorrem sobre alguns aspectos da disciplina que nos orientou neste longo processo e que é nosso tema principal desde o artigo inaugural do livro-blog, "A Meditação segundo a Bhagavad Gītā", que celebrava o Dia do Mestre. Em seu sentido mais profundo o termo "mestre" denota o  "Ācārya", o mentor ou guru espiritual, cuja missão de vida pode ser resumida na máxima: "Eu não vim para te ensinar, eu vim amar. O amor te ensinará". 

2018-06-18

Gītā-Upadeśa: o ensinamento iniciático sobre a via luminosa do coração

A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
Representação do Anāhata:
o coração espiritual, sede do Espírito.
Vi outro dia num portal a seguinte recomendação: “você deve seguir sempre o seu coração”. O portal também sugeria que o conceito de espiritualidade iria, no futuro, ocupar o espaço hoje reservado à “religião” do homem dividido: “Um dia os homens não terão mais rótulos religiosos. Ninguém se dirá católico, protestante, hindu, (...) ou qualquer outra coisa, porque a única identificação que trará consigo será o amor.”  Isto me fez pensar na ancestral técnica védica utilizada pelos Rishis (videntes) na elaboração de textos sagrados, conhecida como Ṛṣi-nyāsa e chamada de Noúres por Pietro Ubaldi. Ṛṣi-nyāsa expressa a capacidade de fazer de toda atividade uma Invocação da energia divina e sintrópica (brahma-śakti).  Esta energia aparece personificada no Ṛgveda como a deidade Śraddhā, que, no  épico Mahābhārata, é invocada em seu aspecto de Durgā (Invencível) por Arjuna, em conformidade com a orientação de Krishna. Como consequência e expressão de Ṛṣi-nyāsa nasce, então, o próprio diálogo da Bhagavad Gītā.

2017-02-03

O que é a Cultura Sintrópica de Paz e Amor?

O śuddha (essência, puro) dharma (sagrado) constitui a matéria, por excelência, de que trata a Bhagavad Gītā.
Gītopadeśa: O ensinamento da Gītā
1. A Bhagavad Gītā como uma expressão da Filosofia Sintrópica na práxis

Presente em todas as culturas, a discussão sobre a práxis da Filosofia Sintrópica tem início com os antigos Ṛṣis1 do período védico da Índia e encontra o seu clímax no diálogo da Bhagavad Gītā, quando Krishna revela a Arjuna a arte (yoga) e a ciência (vidyā) da meditação no Absoluto (Brahman). O objetivo deste ensaio é mostrar que o sentido deste ensinamento (Gītopadeśa) sobre a natureza essencial (śuddha) do sagrado (dharma) é a instauração lenta e gradual de uma cultura universal e sintrópica, capaz de conciliar e harmonizar todas as demais.

Bhagavad Gītā chegou ao Ocidente em 1785, traduzida para o inglês por Charles Wilkins. Constitui-se, não propriamente como uma Escritura Sagrada – visto ser um Poema Filosófico –, mas como a Escritura das Escrituras Sagradas, ou seja, aquela capaz de revelar, nas demais, a presença das mesmas sementes da Filosofia Sintrópica universal. Por estruturar-se como um poema filosófico, a Bhagavad Gītā não estabelece, de forma rígida, a dicotomia entre o sagrado e o profano. Pelo contrário, expressa-a, sob o prisma de śraddhā2, o sentimento sintrópico que se constitui como o tema transversal dos textos sagrados da grande maioria das diferentes tradições religiosas.