2017-05-10

Sorriso Interior: o início da jornada de volta

Monsanto, São José dos Campos, SP (1986)
Monsanto, São José dos Campos, SP - 1986
(Estou de camiseta amarela) 
Deixei ainda muito jovem (1986) a Monsanto e uma brilhante carreira executiva para dar início a uma jornada épica rumo ao desconhecido, em busca dos instrumentos e das armas necessárias para interpretar a literatura sagrada e as filosofias do mundo. Foram inúmeras as dificuldades que enfrentei antes de compreender as bases fundamentais da ciência empírica da vida sagrada e concluir o ciclo iniciado ao abandonar aquele estilo de vida, fundado na subordinação a um ambiente corporativo, que entendia desequilibrado e fora de sintonia com os valores da nascente ciência socioambiental. Foram trinta anos, até que pudesse, com a obtenção da Hamsa Tattoo (2016), encerrar esta etapa e assim dar início, com o lançamento deste livro-blog, à minha jornada de volta.

Era ainda engenheiro trainee, na unidade de fibra acrílica que a Rhodia mantinha em São José dos Campos, quando percebi que a minha missão nesta vida era outra. Alguns anos mais tarde, já na Monsanto, dei-me conta de que não tinha mais como adiar a decisão de me afastar, ainda que provisoriamente, do exercício da minha profissão, para me engajar naquele movimento sutil e invisível aos olhos comuns, que pretendia a reforma e a refundação de todas as instituições deste mundo. Não atender àquele chamamento era me deixar morrer ainda em vida. Sentindo-me convocado pelo coração para trabalhar em torno da então incipiente cultura da paz, do ideal gandhiano da não-violência, do eco-feminismo e da espiritualidade pura, não deveria mais adiar o meu engajamento. Foi difícil, mas dei aquele primeiro passo e avisei aos meus superiores, com seis meses de antecedência, para evitar maiores transtornos, que iria apresentar, de forma irretratável e irredutível, o meu pedido formal de demissão. 

Era uma época conturbada e o cenário político nacional estava um tanto confuso, o que me causava uma profunda sensação de impotência. Por vezes me via discutindo com os colegas aquilo que realmente importava para mim: a consciência socioambiental e o estilo de vida de "paz e amor" propostos pela nascente contracultura.  Meus olhos brilhavam de um modo estranho quando ouvia falar em ecologia, vegetarianismo, virtude, justiça social, compaixão e outros conceitos-chave para a quebra dos padrões de comportamento e condicionamentos que nos impediam de nos libertar daquele modelo egocêntrico, consumista e opressor de sociedade. Queria a utopia percebida no colorido e alegria demonstrados nos movimentos sociais e nas comunidades alternativas dos anos sessenta, que pareciam reguladas, unicamente, pelo amor, cultivado em todas as relações, tornando-as mais abertas, sinceras honestas e livres. Por isto causara espanto em alguns de meus colegas de trabalho e superiores quando compartilhara com eles o que entendia constituirem os rituais de iniciação da classe política e empresarial. Ainda me ouço dizendo a eles: 
É nas festas e encontros sociais onde se inicia o processo de seleção dos representantes das classes política e empresarial.  Isto não é possível no ambiente de trabalho.  Os postos chave são, raramente, preenchidos por mérito ou por profissionais de carreira.  O ambiente de trabalho costuma ser regrado, apolíneo; o ambiente da classe dirigente, contudo, é o espaço da desmesura e do excesso, é altamente dionisíaco.  A classe dirigente é dionisíaca e, a ela, só podem pertencer aqueles que pactuem de seus valores, o que só é avaliado por meio de jogos e festas ritualísticas, em torno do vinho, do canto, das danças.  É bom que o líder seja também, minimamente, competente, apolíneo, mas, acima de tudo, ele deve ser dionisíaco.  Deve ser capaz de se embriagar até o ponto de não mais ter o direito de ser crítico dos seus pares e superiores.  Deve, sim, aprender a tornar-se cúmplice dos seus superiores.  São assim as festas e todos os eventos empresariais, sindicais e políticos, onde se bebe, onde se canta e onde se dança.  Como em todo ritual, uma vez neles, se é compelido a participar, a comungar da sua atmosfera, muitas vezes traiçoeira, e que mantém as relações de dominação e escravidão. Daí a legitimidade do movimento hippie.  Os hippies foram reprimidos pela sociedade porque esta percebeu neles um comportamento e um estilo de vida que põem em risco a hegemonia das formas de embriaguez socialmente aceitas. O papel de reprodução da classe política que os marxistas atribuem a instituições como escola, Igreja, etc., atribuo antes a estes rituais dionisíacos, em torno dos quais uma sociedade se organiza e estrutura as suas instituições políticas, e não o inverso.  Os marxistas, contudo, em geral, sequer se apercebem que de nada lhes adianta tomar as estruturas, como se deu na Rússia, se os seus líderes continuam tomando parte de rituais que garantem o capitalismo, mesmo que sob a forma de capitalismo de Estado, sem que disto se dêem conta, enebriados pela sede de poder e reconhecimento. Conviria antes a estes líderes, portanto, serem menos radicais em suas análises econômicas de todos os fenômenos e mais cuidadosos e comedidos em matéria de vinho e de todos os prazeres da carne, proporcionados pelos latifundiários do agronegócio, fruto do capitalismo que criticam. 
Monsanto - Identidade Funcional
Uma coisa já me parecia certa, desde então: a cultura de abuso do álcool e do vinho não se imporia neste novo milênio, onde a liberdade do espírito se tornaria o valor supremo. Desta forma, perderiam a sua força todas as instituições e corporações forjadas e modeladas segundo os valores oriundos de culturas religiosas decadentes que, além de negligentes em relação à crueldade animal, ainda estimulam o consumo excessivo de carne vermelha, de vinho e de álcool. Por isto, ainda que estivesse sentindo as pernas tremerem e os braços não mais me obedecerem, fizera a carta de demissão, definitiva e irretratável. Sentia-me convocado a refletir sobre os fundamentos da estrutura corporativa e toda aquela sua herança de fundo colonialista que trazia a reboque, como seu passivo, a lógica de inchamento e valorização dos quadros da estrutura sindical.

Levou algum tempo, contudo, até que eu anunciasse a minha decisão de deixar o ambiente corporativo. Não fosse por aquela voz interior, que despertara em mim mesmo e me enchera de coragem, teria sido mais fácil permanecer, fingindo que nada via e sentia de errado.  Contudo, embora o meu corpo parecesse se recusar a levar em frente aquela ideia, dei voz à minha consciência que me incitou para o exercício da ação necessária:

– De onde vem essa fraqueza, indigna da pessoa guerreira que você sempre foi? Não te entregues a ela! Levanta-te resoluto e sem medo!

– Como posso – respondi para mim mesmo, de início –, como posso? Não consigo perceber o que é o melhor neste momento. A dor e a angústia consomem o meu coração e a minha mente vacila. Como devo agir? Esta é a resposta que gostaria de ter. Sempre procurei seguir o coração, mas nunca soube, ao certo, como fazer para ouví-lo, sem me enganar. E neste momento, ainda mais confuso está o meu entendimento. Nada parece haver que acalme a minha aflição e esse estado febril em que me encontro. Temo abandonar o que conquistei e desagradar a família, os amigos e os colegas.  Receio ficar desamparado e isolado. 

Krishna e Arjuna na Bhagavad Gītā
Krishna e Arjuna na Bhagavad Gītā
– Estas palavras têm um fundo de verdade e sabedoria, mas ainda exprimem a visão de mundo das pessoas comuns e ignorantes – ouvi outra vez de mim mesmo. – Parece sem necessidade essa lamentação que só te entristece e aflige. Lembra-te do que diz a Bhagavad Gītā que costumavas ler antes das aulas de yoga e meditação. Nunca houve um tempo em que não exististes em espírito e, igualmente, nunca haverá um tempo em que deixarás de existir. Pois este corpo que agora padece nada mais é que uma vestimenta para o teu espírito que é eterno. É próprio do corpo o sentimento de calor e frio, prazer e dor, porque o corpo pertence ao que é temporário, impermanente. Sabendo disto, como não enfrentar com coragem os desafios que a vida nos apresenta? Aquilo que é, verdadeiramente, nunca cessa de ser; e aquilo que não é, nunca passa a ser, senão de forma ilusória. Ninguém pode causar dano ao que é. O Ser é Absoluto, é indestrutível, imperecível. Os corpos são meros envoltórios daquilo que é o Ser. No seu devido tempo eles perecem como todas as coisas finitas. Sabendo disto, prepara-te para enfrentar o teu desafio, pois tens aí a tua missão. O Espírito não pode ser ferido por armas, nem queimado pelo fogo; a água não o molha, o vento não o resseca. Ele é impermeável, incombustível, imutável e eterno. Se já sabias disto, como te entregas ao desânimo e desalento? Porque agora ignora o teu dever? Teu dever é lutar com todas as tuas armas para alcançar a tua meta, pois somente isto lhe acalmará a consciência e te devolverá a paz de espírito. Tu vieste a este mundo para aprimorar arte de amar, que representa o mais sagrado conhecimento.  Se desistires da luta por covardia, que mau exemplo não deixarás para todos que te admiram e respeitam? Contudo, ainda que sucumbas, terás a paz dos céus como recompensa pelo esforço empreendido. Coragem, ó guerreiro! Decide-te por lutar até o fim com ânimo firme! Nenhum esforço se perde nesse caminho que revela o Ser. Cumpre tranquilo e resignadamente o teu dever, como ensina a Bhagavad Gītā. Yoga é maestria em cada minúscula decisão e ação. Somente quem alcança o poder de somente agir a partir do coração é senhor de si mesmo, dos seus desejos e dos seus sentidos. Quem anseia os objetos dos sentidos é atraído por eles; desta atração nasce o desejo e do desejo, a paixão. A paixão promove a confusão mental e a perda da memória das verdades anteriormente reconhecidas; e da perda da memória resulta a perda da razão e com isto o homem se perde completamente. Lembra-te sempre disto: aquilo que é noite para o homem escravo das paixões é dia para o homem que alcançou o domínio sobre os sentidos e vice-versa. Isto quer dizer que o mundo percebe como real e verdadeiro o que, para o sábio, é ilusão; de igual modo, aquilo que o mundo julga ser ilusão, o sábio reconhece como real. 

– Contudo – perguntei a mim mesmo – como diferenciar entre o que é dia para o sábio e para o tolo? Existiria, mesmo, um caminho para a Paz e a Plenitude?

– Engana-se quem pensa que se esquivando dos enfrentamentos da vida escapa de suas consequências – ouvi em resposta. – A renúncia à ação necessária e legítima não conduz à Paz. Tudo neste universo está em movimento e o que nos cabe é encontrar a harmonia com o fluxo de todas as coisas. É hipocrisia se colocar acima do bem e do mal, alheio e alienado do mundo, fingindo que ele não tem realidade suficiente para nos exigir um posicionamento claro e firme. É sábio aquele que controla os impulsos e consegue expressar o seu pensar em ações retas, cumprindo assim o seu dever. Além disto, para o sábio, sempre é possível ver ação naquilo que parece inação e, do mesmo modo, ver inação na ação. Quem confia no Espírito em seu coração, age como instrumento do Espírito unicamente. E assim, também se pode dizer que já não age, pois as suas ações se converteram em oferendas no altar do Amor Divino. Quem recebe dons do universo e não os exercita é como um ladrão. É vã e vergonhosa a vida daquele que, embora vivendo neste mundo de ação, prefere a covardia e a servidão. Esse é um parasita, um ladrão, que toma o que deseja do mundo sem nada lhe dar em troca. Quando uma pessoa de caráter faz alguma coisa, os outros imitam e o exemplo que a pessoa dá é seguido pelo povo. Toma os grandes seres como exemplo. Nunca se omitiram de agir em nome das causas justas, para o bem de todos. Cada ser age em conformidade com a sua natureza; também o sábio procura o que se harmoniza com a sua própria natureza, de acordo com aquilo que tem de mais elevado em seu caráter. O caráter é obra de cada um. Está aí a resposta para o segredo da força misteriosa que parece obrigar o homem a praticar um mal, aparentemente, até contra a sua vontade. Essa força é a essência dos maus hábitos e desejos que o homem acumulou em si mesmo. O nome dessa força que nasce do império dos sentidos é Paixão. 

Bhagavad Gītā trata, não de uma religião em particular, mas do fenômeno da religião e da espiritualidade em geral. Ensina que o Iogue, tendo se libertado de todo apego, executa as ações físicas e intelectuais com o fim de harmonizar a mente e se harmonizar com a Natureza. Meditando no Ātman (Alento Vital, Espírito Absoluto, Mônoda de Amor Divino) alcançam-se os planos mais elevados e não se retorna mais para este mundo inferior. Com base nesta certeza, pede Krishna a Arjuna que este não se deixe abater, nem perder o ânimo em função dos acontecimentos desagradáveis, pois a realidade deste mundo, que nos parece tão colossal e avassaladora, é insignificante quando comparada à realidade cósmica. Por isto Krishna ensina a Arjuna a ciência da meditação, preparando-o para o seu encontro místico com o sublime, quando a sua mente irá contemplar o Ser e experimentar daquela paz inabalável que nada consegue perturbar.  Do mesmo modo, experimentava um movimento parecido, de atenção plena ao momento presente e à decisão que estava me preparando para tomar ali naquele meu campo de batalha, o ambiente corporativo da Monsanto. Daí ter ouvido de mim mesmo:

– Quem fixa a sua atenção no Espírito que reside no coração, o Ātman, encontra a chama do amor e da sabedoria e, sempre agindo e tudo decidindo a partir daí, alcança esse mesmo Espírito e com ele se unifica. Todos os caminhos de todas as escolas religiosas são galhos e ramificações da grande árvore invertida, cujas raízes ligadas aos céus são este Yoga, que nos unifica ao Ser Absoluto. O fervor e a fé (latim: fides; sânscrito: bhakti) dos homens que adoram a Deus como uma pessoa representada por vários santos e divindades também se originam do Ātman, ainda que este não lhes seja acessível, nem compreensível. A fé, tanto dos ateístas, como dos teístas, que têm diferentes concepções da deidade adorada, e cujas crenças são contraditórias entre si, não é senão o alvorecer do ardor do coração,  da convicção interna e do sentimento sintrópico da comunhão (śraddhā) com o Ser (Ātman).  Adorando pessoas consideradas divinas e suas imagens os homens se exercitam na ciência da adoração que, no seu devido tempo, conduz à adoração em seu estado mais puro (śuddha), que é a adoração do Ātman. Deste modo, quem faz o melhor que pode receberá a sua recompensa na exata medida dos seus esforços. Todas as recompensas emanam do Ātman. Tal é a lei do amor e da justiça. Aqueles que cultuam deidades, delas se aproximam, mas somente aquele que cultua o Ātman alcança a Suprema Morada. 

– Como pode o Ātman habitar neste corpo – pensei – e como ele se apresentará na hora de nossa morte?  Que significa dizer que a vida universal emana do Ātman? E o que faz com que os seres vivos nasçam, se movam e ajam? 

–  Ouve as instruções – disse a mim mesmo em resposta. – Fecha bem as portas dos seus sentidos e concentra a tua mente no coração, onde, em todos, habita o Ser Universal, permanece concentrado e experimenta o estado de meditação por meio deste ancestral e puro Yoga transmitido por Krishna a Arjuna. Escuta atentamente o OM e não permita que a tua mente se distraia. Esta multidão de seres manifestada a partir do início do universo cessa de existir quando cessa o universo. Porém o Ātman, que é eterno, não é destruído nem mesmo quando o universo é destruído.  Todo o universo nada mais é que uma emanação do Ātman. O Ātman é o que dá sustentação ao universo. As pessoas comuns, contudo, não o reconhecem. A vaidade, o egoísmo, a ignorância e a falta de amor turvam a percepção daqueles que se deixam dominar pela malícia e pela brutalidade. Mas os homens iluminados pelo amoroso reconhecimento da unidade de todas as coisas percebem o Ātman como a semente imperecível do todo, a testemunha e aquele que é sempre o mesmo em todos os seres. 

Todos os sábios falam do Ātman. E de alguma maneira agora o ouvia reverberando a Bhagavad Gītā em mim: 

– Sou o que está no coração de todos os seres, sou o início, o meio e também o fim de todos os seres. Dentre os órgãos dos sentidos, sou a mente; nos seres vivos, sou a própria Vida. Entre as águas, sou o oceano; entre os sábios, a sabedoria; entre as palavras, a sílaba AUM. Entre os iluminados, sou a luz; na música sou a harmonia e nos santos a santidade.  De toda a criação, sou o princípio, o meio e o fim. Sou a Morte que não poupa ninguém e também o Renascimento, que dissolve a Morte. Entre os Pândavas, sou Arjuna; dentre os sábios, sou Vyasa! Não há ser vivo que exista sem mim. 

Se mil sóis brilhassem no firmamento ao mesmo tempo, a luz deles não haveria de empalidecer a Glória desta visão luminosa que Arjuna experimentou na Bhagavad Gītā. Observara todo o Universo, variadíssimo, em suas múltiplas aparências, formando uma Unidade no Corpo do Ser Absoluto, e manifestando-se como muitíssimas partes nos corpos das distintas deidades. Falanges numerosas de anjos, arcanjos, querubins e serafins e todos mais seres celestiais. Ante esta visão cósmica Arjuna sentira vertigem, tal como estava experimentando também. Daí ter dito:

Grande Síntese: Estabelecendo a Pedra Fundamental para a Constituição da Universidade do Coração
Fazenda Mãe Natureza: Estabelecimento da Pedra Fundamental da
Universidade do Coração (31.12.2011)
– Ó Espírito Supremo que a tudo conhece e agora me inspira! Ó Espírito de infinita coragem que a tudo permeia! Conhecia Krishna apenas pela Bhagavad Gītā, mas não conhecia esta glória de que ele fala! Por causa de minha ignorância, via a Bhagavad Gītā e as demais Escrituras religiosas quase como ficções. Por isto eu peço perdão aos grandes seres que falam nas Escrituras, como falou Krishna agora ao meu coração. Tendo contemplado toda esta manifestação sagrada, estou contente e convencido, porém o temor me invade, pois ainda não estou acostumado a estes estados alterados de consciência, do mesmo modo que Arjuna também não estava. 

Ashram Atma
Ashram Atma  (1986)
Sabia que estas experiências práticas não podem ser alcançadas de forma teórica pelo estudo de quaisquer textos sagrados. Nem pela simples participação em cerimônias religiosas, nem mesmo por atos de caridade pode-se chegar a este estado de contemplação do terrível mistério divino. Com a carta de demissão já assinada sobre a minha mesa, percebi que chegara a hora de me dirigir à sala do meu diretor. E foi assim que, saindo da Monsanto, iniciei esta grande jornada, passando quatro anos no antigo Ashram Atma, que já conhecia desde 1979, oito anos na UFRJ, seis anos na McMaster University e outros mais interagindo com a Grande Síntese, até  alcançar no ICESP, em 2016, o que considero o meu triunfo final, que me permitiu fechar este ciclo e iniciar, com a publicação deste Diário da Consciência, a minha viagem de volta. Sinto-me grato pelo que a vida me possibilitou realizar.  Não alcancei ainda a paz verdadeira e duradoura, mas já posso concebê-la em meu horizonte. A vida pode ser compreendida como uma preparação para a morte do ego e a unificação da alma individual com o Espírito Supremo. Parece ter sido este o exemplo e ensinamento deixado pelos grandes seres que pisaram nesta terra. Krishna, Buda, Sócrates e Jesus enfrentaram com dignidade a própria morte. Nenhum deles seguiu religião alguma, contudo, porque atenderam ao chamado do Espírito, tornaram-se o próprio caminho e assim nos ensinaram que, depois de concluída a jornada, temos também que nos tornar o próprio caminho, como sugere a Oração do Amanhecer, prece franciscana que me serviu de guia ao longo desta jornada, e que por isso escolho para concluir este registro rumo ao encontro comigo mesmo:

Hamilton, ON
Pausa da tese para esfriar a cabeça...
Senhor,
No silêncio deste dia que amanhece,
Venho pedir-Te a paz, a sabedoria, a força.
Quero ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor.
Quero ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
Quero ver além das aparências os teus filhos,
Como tu mesmo os vês e assim não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda a maldade.
Que só de bençãos se encha o meu coração.
Que todos os que de mim se acercarem sintam a Tua presença.
Reveste-me de Tua beleza, Senhor.
E que no decurso deste dia eu Te revele a todos.

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2017.
(Atualizado em 03.10.17)

Nenhum comentário:

Postar um comentário