Eu sou a presença da Paz e do Amor em Ação
O poder sintrópico da alma de convergir para a unidade (Brahma-sāmīpya1) relaciona-se com o nosso esforço para renascer a cada novo dia disposto a vivê-lo de forma tão ou mais intensa que o dia anterior. Isto significa que devemos exercitar, constantemente, a renúncia (saṃnyāsa) de tudo que é distinto de nossa natureza essencial e marca-uniforme característica. Devemos renunciar a todo alimento e estímulo, recebido pelos cinco sentidos e pela mente, que se caracterize pela desmedida ou pela violência. Devemos renunciar ao consumo supérfluo de todo e qualquer aparato, tecnológico ou cultural, que esteja gerando impedância, interferência e ruídos em nossas vidas.
Eu Sou o Fogo Ardente do Coração em Ação
“Haṃsa” simboliza o processo sintrópico de individuação do Ser: Haṃ-sa, “Eu sou (‘haṃ) o Ātman (sa)”, onde tudo o que fazemos, fazemos de boa vontade, para agradar a Deus e não aos homens. (São Paulo: Colossenses 3:23) Devemos nos consagrar (
tyāga), de coração, ao exercício de ver em cada minúscula ação uma oportunidade de disciplina interior (
tapas), sacrifício (
yajña), e doação (
dāna) de si mesmo. A busca da perfeição em cada minúscula ação é a mais elevada forma de escuta e contemplação do sagrado. A escuta e o atendimento aos nossos deveres e dons pessoais nos possibilitam contemplar a verdade de que só há duas classes de objetos sagrados: (1) tudo o que respira e (2) tudo o que não respira. A respiração é o alento sagrado, que anima todas as ações, unificando os seres vivos e os seus processos, por meio do ar, da terra, da água, do sol e da capacidade sintrópica de realizar o círculo virtuoso da fotossíntese.
a meditação, minimalista (saṃnyāsa) e impecável (tyāga), na ação em marcha
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Maio de 2004: śraddhā e a unidade essencial das religiões. |
De acordo com a Bhagavad Gītā a sabedoria ióguica (prajñā; oriunda de buddhi-yoga) manifesta-se de forma objetiva como a capacidade de agir no mundo com maestria (yoga), ou seja, sintropicamente, em conformidade com a precedência dos anseios superiores (Śreyas) sobre aqueles de origem emocional (Preyas) (BhG 2.49 e 2.50 e BhG 2.58 a 2.67). Daí a importância de se reconhecer e avaliar corretamente, em cada minúsculo movimento da consciência, a fonte dos estímulos e dos motivos que orientam a nossa conduta. Cada trabalho que realizamos, cada pensamento que estimulamos, produz uma impressão mental chamada saṃskāra e é a soma total de tais impressões que chamamos de caráter. Logo, o caráter é obra de cada um. No dizer de Aristóteles, para o bem ou para o mal, o homem se torna aquilo que ele repete repetidas vezes repetidamente. Nascemos em mistério, vivemos em mistério e morremos em mistério (Huston Smith). E, no entanto, semeamos o nosso próprio destino. Semeamos as nossas ações em nossos pensamentos; os hábitos, em nossos atos; o caráter, nos hábitos; e o destino, no caráter (Marion Lawense). Quem não vive como pensa, acaba pensando como vive (Paul Bourget), afastando-se, portanto, do sagrado que reside no coração. Daí, enfim, o alerta de Lao Tzu em relação à nossa conduta:
1. vigiar os nossos pensamentos, pois estes se tornam palavras;
2. selecionar as nossas palavras, pois estas se convertem em ações;
3. cuidar das nossas ações, pois estas formam hábitos;
4. ficar atentos aos nossos hábitos, pois estes formam o nosso caráter; e
5. zelar pelo nosso caráter, pois ele modula a nossa vida e forma o nosso destino.
“Entrarás no seio da luz, mas jamais tocarás a chama”, ensina, sabiamente, Mabel Collins, em Luz no Caminho. No dizer da novelista esta Imutável Luz da Verdade e da Virtude "governa o mundo e até as folhas tremulando nas árvores”. É a este fulgor do Ser Infinito que Santo Agostinho reconhece como o Verbo, a “Luz do Coração”. Ele representa o termômetro espiritual da faculdade da vontade e a capacidade sintrópica, designada na Bhagavad Gītā1 como śraddhā.
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