Uma reflexão canônica sobre a Arte e a Ciência da Meditação, inspirada na śraddhā da Bhagavad Gītā. Longe de ser mera fé, śraddhā é a confluência entre a fides e o cogito cartesiano, a experiência do fervor íntimo, da convicção profunda, e do poder de traduzir o amor em insight e ação, capaz de nos causar um arrepio profundo. Essa bússola interior, guiada pela confiança e prudência, ilumina a razão em direção à Verdade e ao Absoluto (Brahma-sāmīpya). Explore o SUMÁRIO abaixo.
Oração do Pai Nosso, gravada em pedra de mármore no Monte das Oliveiras,
na Igreja do Pai Nosso em Jerusalém.
Recebemos na quinta-feira, 14.09.17, em nosso Grupo de Estudos a visita do Jñāna Dāta Francisco Barreto, idealizador do projeto da Universidade do Coração, que, antes do almoço de confraternização, fez a consagração dos alimentos com a oração do Pai Nosso em aramaico, idioma utilizado por Jesus. Esta oração (traduzida aqui) está gravada em uma pedra de mármore branco na Igreja do Pai Nosso, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, na Palestina.
O vídeo acima faz referência a minha intenção e compromisso, desde a infância, de quitar antigos débitos, por meio do enfrentamento e superação dos meus próprios demônios interiores, os quais impedem o aprimoramento na arte e na ciência da Meditação, herdada dos grandes sábios, e que tem o poder de nos colocar em sintonia com o sagrado.
O Ṛgveda (8.32.16; 6.61.1) menciona três débitos (Ṛṇa trayi) que todos temos o dever de pagar durante o decorrer de nossas vidas. Estes débitos, que todo ser humano herda ao nascer, aparecem melhor detalhados no Yajurveda (Taittiriya Samhita:VI.3. 10. 5), descritos como:
(1) Deva ṛṇa, o débito com a esfera das deidades das quais herdamos a nossa própria identidade espiritual;
(2) Ṛṣi ṛṇa, o débito com os sacerdotes, gurus, sábios e santos que nos deixaram como herança cultural o conhecimento espiritual; e
(3) Pitru ṛṇa,o débito com os nossos ancestrais, que possibilitaram o nosso nascimento neste mundo.
Tais obrigações encontram a sua justificativa na lei do karma. O primeiro débito é quitado por meio do serviço desinteressado a toda humanidade e do atendimento e respeito às Escrituras Sagradas; o segundo, por meio da reverência aos grandes santos, tornando-nos exemplos vivos das suas doutrinas e, o terceiro, prestando tributos aos nossos ancestrais (ritos funerários e homenagens), mostrando consideração pelos nossos familiares e respeito pelos seus valores morais e éticos. Daí o sentido e significado destas três "dívidas".
“Há dois pássaros, dois bons amigos, que habitam a mesma árvore do Ser. Um se alimenta dos frutos desta árvore; o outro apenas observa em silêncio.” (Ṛigveda 1.164.20 e Muṇḍaka Upaniṣad 3.3.1)
O discurso de Krishna na Bhagavad Gītā contém, desenvolvidas de forma assistemática e respeitando a psicologia e o estado de confusão e dúvida de Arjuna, a Arte e a Ciência da Meditação, simbolizadas na metáfora dos dois pássaros, descrita no Ṛigveda (1.164.20):
Dois pássaros com belas asas, companheiros inseparáveis, encontraram refúgio e abrigo na mesma árvore. Um deles se alimenta dos doces frutos da figueira; o outro, sem se alimentar, apenas observa...
As práticas de meditação desenvolvem-se a partir desta metáfora do "pássaro testemunha" (veja aqui um vídeo ilustrativo do vedanta). A árvore representa o nosso corpo, enquanto os dois pássaros, referem-se à nossa dupla natureza, material e espiritual: de um lado, temos a materialidade da mente emocional, racional e lógica, que constitui o nosso consciente, subconsciente e inconsciente (Jīva); de outro, a imaterialidade da consciência universal (Ātman) que anima o corpo, representada pelo coração espiritual. De um lado, inconstante, imperfeito e finito, o ser corpóreo (natureza humana) permanece em movimento, experimentando de todas as coisas. De outro lado, contudo, estático, perfeito e infinito, o Ser (nossa natureza sagrada; Espírito de Deus em nós) apenas observa e aguarda pelo reencontro – é a este processo dialógico de descoberta e unificação da alma (Jīva, o ser) com o Espírito (Ātman, o Ser) que se chama de meditação.
RECEITAS DA SEMANA: Manouche de zatar, Sopa de rúcula, Batata e ervilha, Salada de lentilhas com alho poró e tomate cereja, Risoto de aspargos, Bolo integral de banana com abacaxi.