2024-07-10

A Disciplina Sintrópica do Śuddha Yoga

A disciplina sintrópica do śuddha yogi resume-se ao atendimento do chamado do universo para que despertemos de madrugada e nos dediquemos ao sagrado o tempo todo, em conformidade com as necessidades de cada um dos períodos do dia1.

1. A meditação (dhyāna). Antes de abrir os olhos, a saudação matinal e a reflexão sobre o propósito a ser vivido, reservando para os outros o direito de serem como são; e para nós, o dever de sermos cada dia melhor. Em seguida (antes das 06h00), a higiene pessoal, a meditação, o estudo da ciência sagrada e a reafirmação do compromisso diário de: comer a metadeandar o dobrosorrir o triplo e amar incondicionalmente e sem medida.

2. A práxis sintrópica (karma-phala-tyāga2). Durante o dia todo, exercitar o poder de agir pelo coração (naiṣkarmyasiddhi), com motivos puros e o ego inativo, em śuddha prāṇāyāma, transformando a vida toda em uma experiência sagrada.

3. A escuta (bhāvana namaḥ!) do sentimento sintrópico (śraddhā), que se origina do Ser. Durante o dia todo, exercitar a escuta e a entrega à vontade cósmica que coordena todas as ações e reações do universo. Ao se deitar (até as 22h), realizar a aferição do progresso, passando em revista o dia vivido e programando o novo dia. Em seguida, mergulhar no oceano infinito do Ser e deixar-se morrer no Ser para renascer D'Ele ao amanhecer. 

OṂ TAT SAT
NAMASTÊ
* * *
N O T A S

(1) Os seis períodos do dia. Cada novo dia simboliza um ciclo completo do processo cósmico de criação e dissolução do universo. Seis divindades arquetípicas dirigem o corpo humano, presidindo sobre cada um dos seis períodos de dez ghaṭīkās (1 ghaṭīkā = 24 min; 10 ghaṭīkās = 4 horas) que formam um dia:
02h - 06h: Brahma-kāla. Período regido pela figura arquetípica Sarasvatī, o aspecto feminino de Brahmā, o criador do mundo. Período propício à prática de meditação silenciosa, ao estudo da ciência sagrada, à busca da retidão e à interpretação e controle dos sonhos e das demais manifestações do inconsciente. 
06h - 10h: Śrī-kāla. Período regido pela figura arquetípica Lakṣmī, o aspecto feminino de Viṣṇu, que representa a força sintrópica de preservação do universo. Período propício ao entendimento da meditação como meditação na ação, ou seja, como maestria sobre as ações e boa gestão de todas as atividades cotidianas. 
10h - 14h: Jyeṣṭhā-kāla. Período regido pela figura arquetípica Jyeṣṭhā, a antítese de Lakṣmī e, portanto, a sua outra metade. Jyeṣṭhā representa o obstáculo entrópico que encontra, nesse período do dia, o momento mais propício para se instalar como um vício sutil e difícil de se perceber. Expressa-se nos seres humanos como a ausência da força e energia representada por Lakṣmī. Indica-nos, portanto, que é neste período que devemos estar mais atentos para impedir a manifestação de antigos maus hábitos, que nos afastam da práxis sintrópica. Superar a influência de Jyeṣṭhā significa obter o dom de se tornar incansável e, portanto, invencível
14h - 18h: Pārvatī-kāla. Período regido pela figura arquetípica Pārvatī, o aspecto feminino de Śiva, que representa a força entrópica de transformação e destruição do universo. Período propício ao exercício de convergência para a meta por meio da austeridade do corpo e da mente e do jejum de pensamentos, palavras e atos.
18h - 22h: Durgā-kāla. Período regido pela figura arquetípica Durgā, a divindade identificada como um aspecto de Pārvatī e também de Śraddhā, invocada por Arjuna no Mahābhārata, no instante imediatamente anterior ao início do episódio da Bhagavad Gītā. Período propício à programação do dia seguinte e ao esforço sintrópico de fixação dos hábitos, valores e conceitos relativos ao processo de convergência para a meta. 
22h - 02h: Bhadra-kāla. Período regido pela figura arquetípica Bhadrakālī, a divindade identificada com o auspicioso poder feminino do Senhor Tempo. Período dedicado à entrega de Si Mesmo aos braços do Senhor Tempo que, sob a forma do Sono, promove o processamento e a fixação na memória de todo o aprendizado do dia que se passou.

(2) Na Bhagavad Gītā, "karma-phala-tyāga" é frequentemente compreendida como "renúncia aos frutos da ação". "Karma" refere-se à ação; "phala" aos frutos ou resultados dessa ação; e "tyāga" à renúncia. Assim, "karma-phala-tyāga" implica realizarmos nossas ações sem apego aos resultados, aceitando-os com equanimidade, reconhecendo que estão além do nosso controle. Ao renunciarmos aos frutos de nossas ações, libertamo-nos dos grilhões do ego, transcendendo os desejos e apegos que nos prendem ao sofrimento. Agimos então de forma desinteressada, motivados pelo ardor do coração (śraddhā), em harmonia com a lei do equilíbrio cósmico (Ṛta), e não pelo desejo de ganhos pessoais. Ao nos desapegarmos dos resultados, nossa mente se purifica, e a paz interior floresce.

SUMÁRIO GERAL: A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Rio de Janeiro, 12.06.22.
(Atualizado em 09.08.24

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