2018-12-28

Movimentos de Convergência: (2) Rosa dos Ventos

O curso que Luiz Carlos Maciel gravou, nos dias 01 e 02 de setembro de 2017, sobre a essência da contracultura (veja aqui)  substitui, em parte, o seu desejo de escrever um livro, que se chamaria Rosa dos Ventos. Maciel organiza o seu pensamento em torno de quatro pensadores que, embora não tenham nenhuma relação entre si, explicam a sua trajetória e fornecem os fundamentos filosóficos da contracultura: Martin Heidegger (1889 - 1976), Norman O. Brown (1913 - 2002), Carlos Castaneda (1925 - 1988) e Philip K. Dick (1928 - 1982).

2018-12-22

037. Cozinhando com o Coração

 Bhāvana Namaḥ: Cozinhando com o Coração
RECEITAS DA SEMANA: lasanha de alcachofra, batata doce assada com alho e páprica, salada de grão de bico especial, bolo de frutas e suco de jabuticaba.


1. Lasanha de alcachofra (vegana)
A receita aqui apresentada é uma boa dica vegana para o jantar de Natal. É uma adaptação de outra, que leva “cream cheese”, desenvolvida pelo meu irmão, João Alberto.  

Rendimento: 8 porções

Ingredientes:

Para a lasanha:
500 g de lasanha, prefencialmente de massa fresca ou de semolina
300 g de coração de alcachofra picada
1 cebola grande fatiada
6 colheres (sopa) de azeite
Sal a gosto

2018-12-18

As Correntes Noúricas de Pensamento: dos Vedas até o Manuscrito do Purgatório e a ciência moderna

Quando se olha para o céu, tem-se um sentimento de unidade
que encanta e dá vertigem. (Ferdinand Hodler)
Na serie de artigos que compõem este capítulo introduzo a discussão sobre o estado de sonho e a sua relação com as correntes superiores de pensamento, implícitas, tanto no conceito védico de “Ṛṣi-nyāsa”, como no conceito das “noúres”. Este termo foi cunhado por Pietro Ubaldi a partir de duas palavras gregas, "nous" (pensamento) e "rhéo" (fluir), para expressar aquilo que os filósofos chamam sentimento intuitivo; os artistas, de inspiração; os religiosos de revelação e mediunidade; os xamãs, de estados alterados de consciência e percepção; e outros ainda, de innernet1

Segundo a lei universal da ressonância e da afinidade espiritual (Ātma-śakti dharma, fundada no funcionamento de tejas e śraddhā), que se encontra na base da ciência do espírito, podemos, tanto contagiar aos demais, como nos deixar contagiar pelos seus diferentes estados de ânimo. A mente humana é capaz de vibrar e de entrar em sintonia e ressonância com diversas correntes psíquicas, as quais dão origem a uma enorme gama de emoções, sentimentos e pensamentos. Daí a importância dos mantras, das orações e das disciplinas espirituais que nos convidam a elevar o nosso estado da alma, para que ela possa se nutrir dos nobres ideais e valores vividos por aqueles que alcançaram os planos superiores da consciência. Ṛṣi-nyāsa2 representa, basicamente, a disciplina de internalização e incorporação (nyāsa) do ideal de unificação com a esfera dos seres divinos e santos (Ṛṣi), tornando-nos aprendizes das hostes celestiais e instrumentos, portanto, da vontade cósmica. De acordo com a literatura sagrada da Índia, Ṛṣi-nyāsa representa a ancestral técnica védica utilizada pelos Rishis (videntes) na elaboração de textos sagrados, manifestando-se, em suma, como a capacidade de fazer de toda atividade humana um meio de acesso à energia sintrópica (brahma-śakti). No Ṛgveda esta energia aparece personificada como a deidade Śraddhā; no Mahābhārata, como Durgā, a encarnação do aspecto de invencibilidade da divindade. Tanto o Ṛgveda como o Mahābhārata nascem como expressão e consequência de Ṛṣi-nyāsa, que encontram, então, no diálogo entre Krishna e Arjuna na Bhagavad Gītā a sua representação paradigmática.

2018-12-08

Maha Saṃkalpa: a precedência de Śreyas (anseios altruístas) sobre Preyas (anseios passionais)

A escuta de Śraddhā
e a percepção do sagrado coração.
Namastê! Namastê! Namastê!
A disciplina espiritual e sintrópica do Śuddha Rāja Yoga, transmitida por Krishna a Arjuna na Bhagavad Gītā, compõe-se de três partes: Bhāvana (a escuta do Ser e a contemplação da unidade sintrópica), Karma/Kriyā (práxis sintrópica) e Dhyāna (meditação). Antes de cada amanhecer o Śuddha Yogue deve certificar-se de estar em estado de harmonia e unidade (Bhāvana) com o cosmos, de tal modo que a sua atividade (Karma/Kriyā) ao longo do dia, em qualquer ambiente, contribua para a harmonização do mesmo. A meditação (Dhyāna1), assentada na consciência de sagrado (Bhāvana) e unificada na práxis sintrópica (Naiṣkarmya), pavimenta esta via que, aos poucos, transforma a vida toda em uma forma de meditação, dedicada ao aprimoramento e ao aprofundamento da comunhão com a unidade sagrada da vida.

2018-12-04

Ṛṣi-nyāsa: a perfeita alegria de ser, antes de fazer e dizer

Ṛṣi-nyāsa: primeiro ser; depois fazer; e só então, dizer
Arjuna
A Invocação e a internalização de uma divindade arquetípica é conhecida na literatura sagrada como Ṛṣi-nyāsa1O termo "Ṛṣi" costuma ser traduzido como "sábio, vidente, aquele que vê a verdade". "Nyāsa", em geral, significa "entrega, confiança, colocação, depósito". A compreensão completa de nyāsa vem por meio da experiência pessoal e da prática espiritual. "Ṛṣi-nyāsa" costuma ser traduzido como "a invocação de bençãos aos sábios", ou "a confiança nos sábios", de uma dada tradição espiritual de mestre para discípulo (Guruśiṣyaparamparā). Contudo, Ṛṣi-nyāsa significa mais do que um ato de reverência e reconhecimento da autoridade espiritual dos preceptores espirituais de uma dada tradição. Não se trata, simplesmente, de fazer invocações para entrar em contato com a sabedoria e as bençãos acumuladas ao longo das eras, ou de recitar mantras e  realizar rituais (yajñas). No contexto do Śuddha Yoga, conforme ensina a tradição (Paramparā) de aprendizagem (Praśiṣya) dos discípulos (Ṡiṣya) dos grandes mestres da hierarquia espiritual (Śiṣya-Praśiṣya-Ṛṣi-Paramparā), somente aqueles que se dedicam ao aprendizado de ver em todos os seres  um instrutor2 (guru) podem, de fato, experimentar, para além da realidade objetiva, de Ṛṣi-nyāsa.

2018-12-02

A superação da tradição "guru śiṣya paramparā"

Bhagavad Gītā rompe com o entendimento tradicional da expressão "guru śiṣya paramparā", utilizada para qualificar a sucessão ininterrupta (paramparā) de transmissão do conhecimento, de mestre (guru) a discípulo (śiṣya), no hinduísmo, budismo e janismo. Prova é que Arjuna não fez discípulos. Surpreendentemente, o texto introduz a relação "mestre-discípulo" (guru śiṣya) entre dois kṣatriya-s, ou seja, dois príncipes da classe político-militar e, portanto, sem nenhum vínculo com qualquer linhagem de "instrutores religiosos".

Há um aforismo de Ralph Waldo Emerson que exprime com maestria esse sentido de superação da tradição védica que o texto da Bhagavad Gītā apresenta. Ele diz: "Todo o homem que encontro me é superior em alguma coisa. E, nesse particular, aprendo com ele." Somente aqueles que se libertaram dos vínculos com um instrutor religioso em particular podem, como Emerson, ver em todos os seres um instrutor (guru). E, ao fazê-lo, tornam-se, eles mesmos, em certa medida, novos instrutores. São de Emerson também os seguintes aforismos, inspirados no milenar texto da Bhagavad Gītā e que nos auxiliam a compreender a atualidade, importância e relevância da tradição, representada pela expressão "guru śiṣya paramparā", que contém, em si mesma, as sementes da sua gradual transformação e ressignificação: