2025-10-02

Consciência Fractal e a Natureza do Tempo: Uma Epistemologia Sintrópica

Introdução Editorial ao Ensaio

O presente ensaio, Consciência Fractal e a Natureza do Tempo: Uma Epistemologia Sintrópica, constitui o ápice reflexivo do Capítulo III — Śraddhā Quaerens Intellectum: Epistemologia da Bhagavad Gītā e a Ciência do Ser. Depois de percorrermos os caminhos da verdade, da razão e da intuição, chegamos aqui a uma síntese criativa que articula tradição védica, matemática dos infinitos, geometria fractal, física quântica e filosofia sintrópica. A proposta é ousada: pensar o tempo não como estrutura física absoluta, mas como propriedade emergente da consciência fractal. Nesta visão, kāla (tempo), jīva (consciência individual) e ākāśa (espaço) aparecem como categorias fundamentais para religar ciência e espiritualidade, oferecendo uma chave para compreender o ser humano como parte refletida do todo. Assim, este texto prepara a transição do eixo epistemológico do Capítulo III para o eixo civilizatório do Capítulo IV, em que a filosofia sintrópica se desdobra como práxis e cultura da síntese.

Nota metodológica: Desde tempos imemoriais, a humanidade se pergunta sobre a relação entre a unidade da existência e a multiplicidade da experiência. Este ensaio explora essa questão sob uma nova ótica. Ele não reivindica apresentar uma “nova teoria científica” no sentido estrito, nem pretende apropriar-se do discurso da física ou da matemática como ornamento. O que se propõe é uma metáfora epistemológica, um paradigma transdisciplinar que articula ciência, filosofia e espiritualidade sob a ótica da filosofia sintrópica. As analogias com fractais, alephs e física quântica devem ser lidas como pontes conceituais e heurísticas, não como demonstrações empíricas. Essa advertência visa distinguir claramente o propósito desta reflexão de modismos pseudo-científicos e situá-la no terreno do diálogo filosófico rigoroso e criativo.

2025-09-27

Ṛṣi-nyāsa: a bússola discreta da retomada na Bhagavad-Gītā (I)


Da agitação mental ao foco absoluto do coração

Nota editorial: este texto estabelece um diálogo íntimo com uma voz anterior, que em alguns momentos do quinto capítulo chamei de “sorriso interior”. Naqueles textos repousam as sementes, as bandas dos três guṇas; aqui, apresento uma floração circunstancial dessa jornada que devemos empreender, caminhando lado a lado com a herança de nossa própria tradição.

Antes de seguir, é importante esclarecer o uso metafórico da palavra “quântico” neste texto. Emprego-a para indicar a discretização da experiência em patamares ou degraus reconhecíveis, especialmente no que concerne à predominância dos guṇas (sāttvika, rājasa e tāmasa). Essa linguagem não pretende descrever fenômenos da física quântica, mas usar a metáfora para iluminar as nuances da dinâmica espiritual que exploramos aqui.

“samatvaṃ yoga ucyate.” 
Yoga é imparciabilidade amorosa.
(BhG 2.48)

“yogaḥ karmasu kauśalam.” (BhG 2.50)
Yoga é maestria sobre as ações.

"śraddhā kṣaye viniyogo ’pi muhyati;
ṛṣi nyāsaḥ tu prajñām ālokayati."
Quando śraddhā declina, até o viniyoga se confunde;
ṛṣi-nyāsa, porém, ilumina a inteligência do coração.
(Śraddhā Yoga Svatantra)

2025-09-13

Śraddhā e Kāma: A Regência da Shakti nos Cinco Corpos Sutis e nos Chakras

Uma Análise do Sagrado Feminino e da Energia Shakti à Luz da 
Bhagavad Gītā, Yoga Sūtras, Anu Gītā e Kāma Sūtra

Nota editorial de grafia
: neste artigo, optamos por shakti e chakras (grafias correntes em português), mantendo os demais termos sânscritos em IAST (ex.: kośa, kuṇḍalinī, suṣumṇā nāḍī, Ājñā, Anāhata, Ṛta). Adotamos Krishna (grafia consagrada) em vez de Kṛṣṇa.

INTRODUÇÃO 
A Alquimia do Desejo Sagrado e o Falso Dilema entre o Lótus e o Corpo

No coração da experiência humana, pulsa um antigo e persistente paradoxo: a aparente cisão entre o caminho da transcendência e o abraçar da nossa natureza imanente. De um lado, o lótus do espírito, símbolo da pureza, da renúncia e da busca ascética por uma realidade para além do véu da matéria. Do outro, o corpo, o domínio do desejo, da paixão e dos impulsos naturais que nos ancoram firmemente à terra e à nossa biologia. Esta dicotomia legou-nos um legado de conflito interior, pintando a espiritualidade como uma negação do corpo e o desejo como um obstáculo à iluminação. O Śraddhā Yoga, no entanto, questiona se esta separação é uma verdade fundamental da existência ou, talvez, a mais profunda e trágica das incompreensões sobre a força que nos anima: a energia primordial que a tradição védica chama de Shakti.

2025-09-11

O Śraddhā Yoga como Cultura Sintrópica

No vasto universo da espiritualidade indiana, o Yoga se revela não como uma tradição monolítica, mas como um delta fértil alimentado por ao menos duas grandes correntes ancestrais. De um lado, flui a corrente védica, cuja busca pela transcendência culmina na filosofia vedānta, nos Yoga Sūtras de Patañjali e na Bhagavad Gītā. Do outro, corre a corrente tântrica, cujas raízes pré-védicas talvez remontem às civilizações do Vale do Indo, e que floresce no Hatha Yoga e no complexo sistema de chakras, vendo o corpo não como uma prisão, mas como um microcosmo do universo sagrado. Embora a Bhagavad Gītā pertença inequivocamente à linhagem védica, ela representa um ponto de síntese tão revolucionário que seu ensinamento transcende as escolas, podendo ser compreendido em sua essência como Śraddhā Yoga — a arte de fazer do amor um ato cognitivo e a chave da ciência da meditação (heartfulness).

2025-09-05

O Coração que Pensa: Do Hardware Cerebral à Nuvem Cósmica

Um Ensaio sobre Sintropia, Consciência, Yoga e a Lógica Orgânica do Real

Introdução: Duas Imagens, Dois Paradigmas

Comecemos por uma imagem conhecida: o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Esta figura representa o paradigma ocidental fundamental, que enxerga o indivíduo como uma entidade isolada, anatômica e mestra de um universo mensurável. Nela reside a aposta metafísica do ideal renascentista que herdamos: o indivíduo proporcional, centro geométrico do mundo, porém desconectado do todo. Tudo é explicado por medidas, simetrias e leis que se impõem a partir do indivíduo‑métrica.

2025-08-23

Proêmio do Capítulo III — Hṛdaya e Buddhi: o Coração Pensa com Amor; a Mente traduz


Śraddhā quaerens intellectum é o coração que pensa. Não é fé (fides) pedindo prova na mente (manas), mas śraddhā — confiança luminosa — abrindo passagem em hṛdaya (o coração do Ser), de onde a luz se espelha em buddhi; só então a mente discursiva traduz em linguagem, com rigor. Buddhi não emite luz: acolhe a cidābhāsa — consciência refletida, luz participada do Ātman em hṛdaya —; a nitidez dessa aparição cresce com sattva, cultivado pela disciplina.

2025-08-13

Os Cinco Aspectos da Práxis Sintrópica e os seus Mantras



Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ.
Haṃsa, a respiração do Ser,
é a paz do amor em ação.

A disciplina sintrópica do Śraddhā Yoga é um circuito de cinco gestos que estabiliza o coração com  Ṛta: começa no saṃkalpa (o voto que orienta), consagra-se em ṛṣi-nyāsa (a internalização  reverente de um arquétipo da linhagem sagrada), aplica-se em viniyoga (a prática continuamente ajustada às necessidades do momento presente — seja no retorno após uma pausa, seja na personalização atenta), purifica-se em satya tyāga (a dedicação verídica às verdades [satya] experimentadas na aproximação à Consciência Sintrópica Universal) e se mantém em upasthāna (a presença sustentada, que faz de cada minúscula ação uma meditação). Não são etapas estanques: são órbitas que se reforçam mutuamente. O eixo respiratório (haṃsa/so’ham) dá ritmo às passagens; o mantra acende a memória do real; a ação retorna à fonte. Quando o gesto inteiro vibra na mesma clave — propósito, consagração, aplicação, renúncia e presença — a paz não é pausa: é paz em movimento, a clareza que age por amor.

2025-08-06

🕊️ O Śraddhā Yoga, a Meditação e a Ciência e a Arte do Amor em Ação (Heartfulness)

Convido você a conhecer e salvar entre seus favoritos esta importante referência acadêmica digital dedicada ao surgimento e ao desenvolvimento histórico da arte e da ciência da meditação.

Este livro-blog é fruto de décadas de pesquisa, contemplação e docência — e oferece um conteúdo canônico e original sobre a meditação à luz do yoga puro (śuddha yoga) resgatado pelo Senhor Krishna na Bhagavad Gītā: o Śraddhā Yoga — o Yoga da Convicção Sintrópica, da Escuta Interior e do Amor em Ação.

Aqui, a meditação é compreendida como expressão do foco absoluto do coração (heartfulness), e não apenas como técnica mental. O caminho proposto é sintrópico: integra sabedoria ancestral e rigor contemporâneo, sem abandonar a ternura. 🌿

Neste espaço, você encontrará diversas formas de aprofundar sua jornada:


🔸 1. O Tratado Canônico
Composto por quase 300 artigos organizados ao longo de mais de uma década, este tratado oferece uma abordagem exaustiva da meditação segundo o Śraddhā Yoga.
👉 Para acessá-lo, clique em Sumário no menu principal.


🔸 2. A Apostila da Disciplina UFRJ
Base da disciplina pioneira A Arte e a Ciência da Meditação (CMT014), oferecida desde 2019 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta apostila reúne textos introdutórios ideais para quem busca um alicerce sólido para sua prática.
👉 Clique em ‘Apostila.


🔸 3. Curso Online Aberto (RAS – CMT014)
O Roteiro de Atividades Semanais (RAS) funciona como um verdadeiro curso online gratuito, que estrutura a vivência prática e teórica da meditação ao longo de 12 semanas.
👉 Acesse a seção CMT014: RAS no menu principal.


🔸 4. Exploração Cronológica Livre
Se preferir acompanhar as postagens em sua ordem original, clique em Voltar e use a barra de rolagem vertical.
Ou acesse a coluna da direita, na seção ‘Arquivo do Livro-Blog’, onde as postagens estão organizadas por ano e mês de publicação.





📖 Bem-vindo ao Śraddhā Yoga — um campo fértil de estudo, prática e revelação, onde o foco absoluto do coração orienta cada gesto, cada palavra e cada silêncio.

🌺 Śāntiḥ Śraddhā — Paz & Amor em Ação.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2025
(Atualizado em 11.08.25)
Rubens Turci




2025-07-28

A Filosofia Sintrópica da Alta Performance

Introdução

Este ensaio inaugura o capítulo sobre a Filosofia Sintrópica da Alta Performance, investigando śraddhā — a convicção sintrópica — como força geradora do foco absoluto, no qual meditação, auto-hipnose e técnica se entrelaçam em uma pedagogia do Ser. Aqui, a performance deixa de ser mera conquista externa para se tornar um retorno ao centro luminoso da consciência.

Diferentemente da alta performance movida pelo esforço competitivo, este caminho propõe um florescimento silencioso, fundado na escuta interior e na confiança profunda. É o coração que foca, não o ego; a alma que se unifica, não o “eu” que se afirma. Por isso, denominamos este percurso como uma filosofia sintrópica da alta performance: uma prática integrativa e contemplativa, onde corpo, mente e técnica convergem no retorno ao Ser.

Foco Absoluto do Coração: Síntese Aforismática sobre a Convicção Sintrópica e a Filosofia da Alta Performance


Prólogo:
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Śraddhā é convicção sintrópica; um saber por
ressonância, não por dedução. Não exige provas,
pois é a própria prova em forma de paz interior.
(Haṃsānugata Sūryadāsa)

Do coração que confia brota o foco autêntico — e da quietude, a maestria. Esta síntese aforismática não propõe uma tese, mas traça um caminho entre sutilezas, onde o sentido floresce em vez de se impor. Não busca convencer, mas iluminar. Cada aforismo é uma respiração; cada comentário, um gesto contemplativo. Aqui, nada se demonstra — tudo se vivencia. Cada frase é uma chave que descerra um espaço interior. Cada espaço revelado, um retorno ao Ser.

Este texto é escuta. Delírio sensato: a intuição que revela imagens quando os pontos se unem. Não é loucura — é fogo nascido da confiança. Jīva, ahaṃkāra, jīvātman: da fragmentação à unidade. Heartfulness é o pulso desse retorno. Por isso, aqui não há argumentos — só um convite. Meditar com palavras. Confiar no Ser. O coração revela o que a mente não vê.