2025-02-24

A Respiração Sagrada: Meditação e a Trimūrti no Śraddhā Yoga

A regência e a energia do cosmos: a ordem criativa da Trimūrti e a manifestação dinâmica da Tridevī. 
Na ontologia védica, a manifestação reflete o poder de Śakti e o jogo da guṇamāyā no cosmos.
No Śraddhā Yoga, tal como exposto na Bhagavad Gītā, somos convidados a nos consagrar (tyāga) de coração, transformando cada ação, por mais ínfima que seja, em uma oportunidade para a disciplina interior (tapas), o sacrifício (yajña) e a doação (dāna) de si mesmo. A Bhagavad Gītā nos ensina que não há situação na vida em que não possamos cultivar e desenvolver o estado meditativo. Essa prática, em sua essência, é o que se entende por Meditação. O segredo dessa arte está oculto no simbolismo da respiração e na sua intrínseca relação com a práxis cotidiana. Inspirar (pūraka), reter (kumbhaka) e exalar (rechaka) o sagrado são atos que transcendem o físico, conectando-nos ao ciclo cósmico de nascimento, vida e morte, conforme representado pela Trimūrti da tradição védica.

2025-02-22

Śraddhā, Linguagem e a Busca Universal por Significado

Pāṇini (c.520 a.C. – c.460 a.C.). Autor da gramática sânscrita Aṣṭādhyāyī (aṣṭa = oito + ādhyāya = capítulo), a
primeira gramática de uma língua produzida na história da civilização humana.Sua obsessão pelo estudo do sânscrito deve-se ao fato de que era considerada a língua dos deuses (devavāṇī).

Introdução

A linguagem, essa ferramenta intrinsecamente humana, sempre despertou fascínio e questionamentos. De onde ela vem? Qual sua verdadeira natureza? Seria apenas um mecanismo biológico, ou algo mais profundo, conectado à nossa essência espiritual? Este artigo propõe explorar a origem e o significado da linguagem sob a ótica do conceito de śraddhā, a força motriz que nos impulsiona à transcendência e à conexão com o universo.

2025-02-20

Śraddhā Yoga: A Arte e Ciência da Meditação na Bhagavad Gītā

1. Introdução

O Mahābhārata é muito mais do que um épico indiano. Ele é um tratado filosófico que explora as complexidades da condição humana. No coração dessa narrativa está a Bhagavad Gītā, um diálogo entre Krishna e Arjuna que transcende o contexto de uma batalha para se tornar um guia universal para a vida espiritual. Neste artigo, exploraremos como a Bhagavad Gītā resgata e reafirma o Śraddhā Yoga, uma disciplina ancestral que, por meio da meditação, integra o fervor devocional à razão e à práxis, enraizando-os na lei de Ṛta, a ordem cósmica que sustenta o universo.

2025-02-12

A Metamorfose do Bom Senso: da Razão ao Coração

Do "bom senso" ao "bom-senso"

Em uma era marcada pelo excesso de informações, pela polarização e por crises interligadas, o bom senso emerge como um farol a nos guiar por entre as brumas da incerteza. Mais do que nunca, a capacidade de ponderar, discernir e agir com equilíbrio se torna crucial para navegarmos pelas complexidades do mundo contemporâneo. É nesse contexto que a reflexão sobre o bom senso se faz urgente, impelindo-nos a revisitar suas raízes e a vislumbrar suas novas nuances.

2025-02-09

Śraddhā Yoga e a Sabedoria Universal: Reflexões à Luz da Oração do Amanhecer

No silêncio do amanhecer, quando o mundo ainda dorme e o céu se pinta com as primeiras luzes, o universo nos convida à escuta (bhāvana namaḥ!). É nesse instante sagrado que a Oração do Amanhecer, atribuída a São Francisco de Assis, ressoa como um chamado à paz, à sabedoria e ao amor, valores que ecoam através das tradições espirituais do Oriente e do Ocidente.

"Senhor,
No silêncio deste dia que amanhece,
Venho pedir-Te a paz, a sabedoria, a força.
Quero ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor.
Quero ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
Quero ver além das aparências os teus filhos,
Como tu mesmo os vês e assim não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda a maldade.
Que só de bênçãos se encha o meu coração.
Que todos os que de mim se acercarem sintam a Tua presença.
Reveste-me de Tua beleza, Senhor.
E que no decurso deste dia eu Te revele a todos."

2025-01-17

A Potência Sintrópica do Feminino: Uma Conversa com o Gemini sobre a Origem de "Cientista" e o Futuro da Ciência

Em uma conversa com o Gemini, a inteligência artificial (IA) do Google, me deparei com uma curiosidade que me instigou a pesquisar mais a fundo a origem da palavra "cientista" e a sua relação com a filosofia sintrópica, objeto do nosso livro-blog. A Filosofia Sintrópica apresenta uma resposta original à crise civilizatória contemporânea. Cunhado pelo Nobel Albert Szent-Györgyi, o termo sintropia descreve a força que conduz sistemas complexos à ordem e harmonia, contrastando com a entropia, associada à desordem e dissipação de energia. Nesse sentido, a Filosofia Sintrópica enfatiza a experiência de unidade essencial de todas as coisas, alcançada por meio de práticas meditativas e do alinhamento com o princípio da ordem cósmica. Esta abordagem, que promove interdependência e equilíbrio, fundamenta a proposta de uma Cultura Sintrópica — uma visão contracultural que contrasta com a fragmentação moderna. Compartilho a seguir esse diálogo revelador.

2025-01-13

Śraddhā: A Bússola Sintrópica para o Conhecimento, Ética e Espiritualidade

Em diversos textos do livro-blog, explorei a tese de que śraddhā simboliza a sintonia sintrópica com a lei do equilíbrio cósmico, que o Ṛg Veda denomina como Ṛta. Essa sintonia, por sua vez, é a chave que nos permite acessar e aprimorar as práticas de meditação, as quais atualizam e reforçam nossa śraddhā. Argumento que, sem essa bússola interior, a razão se assemelha a um mapa incompleto, que não nos mostra nossa posição atual nem o caminho a seguir.

2025-01-07

CMT014 - APRESENTAÇÃO

A disciplina "CMT014 – Oficina de Estudos: A Arte e a Ciência da Meditação" convida você a explorar a meditação como um caminho para acessar o núcleo da consciência e do Ser. A meditação é um estado de silêncio interior que nos permite acalmar os pensamentos, conectar com nossa respiração e vibrar na frequência do amor puro. Por meio dela, cultivamos a escuta interior (bhāvana) e nos nutrimos do sentimento sintrópico (śraddhā), fortalecendo nossa conexão com a lei universal (Ṛta) e percorrendo o trajeto do saṁsāra (realidade aparente) ao nirvāṇa (realidade sagrada).

2024-12-31

Śraddhā Sūktam: Um Hino Védico ao Sentimento Sintrópico de Sintonia com a Lei do Equilíbrio Cósmico

"O fogo interior, o ardor do coração (śraddhā), inflama o fogo (agniḥ) da oferenda (juhvati). A oblação (haviḥ) é conduzida (praṇīyate) com fervor (śraddhayā). Deuses (devā) e o anfitrião (yajamānaś) anseiam pela oblação (havyam)." - Śraddhā Sūktam (Ṛg Veda 10.151)

O Śraddhā Sūktam, um hino védico ressoando com a profunda importância do fervor e sentimento de convicção íntima (śraddhā), encontra-se no décimo mandala do Ṛg Veda (10.151), a escritura mais antiga da tradição védica, estimada entre 1500 e 1200 a.C. Este hino, um dos mais antigos a celebrar o conceito de śraddhā, a destaca não como mera crença, mas como uma força motriz, sentimento interior de convicção íntima que permeia todas as ações, impulsionando a realização de oferendas religiosas e a busca por prosperidade espiritual e material. No contexto védico, śraddhā implica uma profunda confiança e convicção na eficácia dos rituais, bem como na verdade da ordem cósmica (Ṛta). É a força que conecta o indivíduo ao sagrado, unindo-o à harmonia do universo. É também o alicerce para alcançar qualquer objetivo, seja material ou espiritual.

2024-12-22

Além de Kant: Integrando Razão e Sentimento na Busca por uma Ética Sintrópica

 
1. Introdução: A Busca por uma Nova Fundamentação da Moralidade

O debate sobre a fundamentação da moralidade e a relação entre razão e sentimento permanece um tema central na filosofia. Immanuel Kant, com seus imperativos categórico e hipotético, ergueu um sistema ético, que buscava a universalidade e a objetividade, aspirando libertar a moralidade de dogmas religiosos e idiossincrasias individuais. A abordagem kantiana, apesar de inovadora, apresenta limitações ao desconsiderar a importância do "sentimento sintrópico", chamado de "śraddhā" em sânscrito, como fundamento da ética.

2024-12-14

Sraddhā e Sintropia: Uma Nova Definição do Ser Humano Além de Aristóteles

O Homem Vitruviano
(L. da Vinci)
A definição clássica de homem como "animal racional", cunhada por Aristóteles, representou um marco na história do pensamento ocidental, enfatizando a capacidade humana de pensar, raciocinar e conhecer. No entanto, essa definição, embora relevante em seu contexto histórico, mostra-se insuficiente para abarcar a complexidade do ser humano e sua relação com o cosmos no século XXI.

2024-11-30

Meditação, Escuta Ativa e Ação Impecável

Ser impecável é transformar a vida inteira em uma meditação. A disciplina do ancestral Śraddhā Yoga, resgatado por Krishna, começa com o atendimento ao chamado do universo, que nos convida ao despertar. De madrugada, devemos nos entregar à escuta (bhāvana namaḥ), à rendição ativa ao sentimento sintrópico (śraddhā), que emana do Ser. É por meio de śraddhā, o fogo e o ardor do coração e o poder de colocar o amor em ação, que forjamos uma vontade altruísta, capaz de revelar o sagrado oculto nos desafios e nas necessidades de cada período do dia. A meditação, assim, não se limita a momentos isolados: ela se estende ao longo de toda a jornada diária, conduzindo-nos à impecabilidade.

2024-11-04

Filosofia Sintrópica, Meditação e a Superação da Crise Civilizatória


A Filosofia Sintrópica apresenta uma resposta original à crise civilizatória contemporânea, integrando princípios do Vedānta, do não-dualismo e da dinâmica entre sintropia e entropia. Cunhado pelo Nobel Albert Szent-Györgyi, o termo sintropia descreve a força que conduz sistemas complexos à ordem e harmonia, contrastando com a entropia, associada à desordem e dissipação de energia. Nesse sentido, a Filosofia Sintrópica enfatiza a experiência de unidade essencial de todas as coisas, alcançada por meio de práticas meditativas e do alinhamento com Ṛta, o princípio védico da ordem cósmica. Esta abordagem, que promove interdependência e equilíbrio, fundamenta a proposta de uma Cultura Sintrópica — uma visão contracultural que contrasta com a fragmentação moderna, oferecendo uma perspectiva restauradora e holística sobre a realidade e o sagrado.