2025-04-27

A Psicanálise como Fruto do Ateísmo Judaico-Cristão: A Anti-Psicanálise como uma Expressão do Śraddhā Yoga da Bhagavad Gītā

1. Introdução — Entre o Divã e o Assento da Consciência

O surgimento da psicanálise, ao final do século XIX, marca um ponto de inflexão na história da relação do Ocidente com o sofrimento humano. Em um contexto de crescente secularização, onde o questionamento da fé e a ênfase na razão individual ganhavam força, Freud, neurologista e homem de seu tempo, transformou o antigo confessionário religioso no novo divã secular, transferindo o espaço da busca pela redenção para o espaço da análise do desejo reprimido.

A escuta clínica substituiu a absolvição sacramental, e a narrativa biográfica passou a ocupar o lugar do exame de consciência, embora essa substituição, talvez inconscientemente, carregasse consigo algumas das dinâmicas de busca por sentido e alívio da angústia. Este movimento de laicização das dores da alma, porém, permaneceu enraizado em uma ontologia materialista, herdeira de um contexto cultural pós-religioso que poderíamos denominar ateísmo judaico-cristão moderno em que a experiência transcendente perde centralidade e o Eu, isolado em sua subjetividade, sente-se perdido.

2025-04-25

Śraddhā Yoga Svatantra: Viniyoga, Anti-Psicanálise e o Domínio da Luz Interior

“Quando sei quem sou, eu e você somos Um.​" 
(Hanumān, no Rāmāyaṇa)
Este artigo marca uma inflexão teórica no desenvolvimento do Śraddhā Yoga Svatantra, ao apresentar os cinco pilares de heartfulness como uma via espiritual que transcende o paradigma psicanalítico moderno.

Em vez de tratar os conflitos interiores como pulsões que precisam ser interpretadas, o Śraddhā Yoga propõe uma práxis sintrópica que antecipa as quedas e orienta o ser à luz da verdade interior (Ṛta).

Articulando de forma original cinco fundamentos1 do Śraddhā Yoga – saṃkalpa, ṛṣinyāsa, viniyoga, satya tyāga e upasthāna  – , este ensaio ilumina também o ponto de interseção e ruptura entre bhakti e śraddhā, revelando como a confiança ardente e o sentimento intuitivo de certeza testada racionalmente (cogito) não depende da devoção à forma, mas da escuta silenciosa do Ser.

2025-04-08

Śraddhā Yoga na Bhagavad Gītā: A Síntese Védico-Tântrica e as Origens da Cultura Sintrópica

A Bhagavad Gītā, frequentemente interpretada como um texto devocional, guarda em seus versos um segredo da mística que transcende as categorias convencionais de jñāna, bhakti e karma yoga. No coração do Mahābhārata - esse épico tântrico que desafia normas sociais ao apresentar Krishna como condutor de quadriga e estrategista de guerras moralmente ambíguas - o Śraddhā Yoga emerge como um ponto culminante implícito na Bhagavad Gītā. Este yoga personificado por Krishna não é simples fusão de caminhos, mas a manifestação viva da síntese que unifica conhecimento (jñāna), ação (karma) e entrega (bhakti) sob o princípio ordenador de Ṛta (ordem cósmica, equilíbrio sintrópico, lei, verdade)Krishna, longe de ser mero objeto de culto, encarna aqui a própria śraddhā: essa experiência íntima de fervor e convicção que transforma amor em clareza e ação. Seu ensinamento se traduz no Dhyāna Mantra Haṃsa, onde as tradições védica e tântrica convergem, transformando cada respiração em veículo de realização direta.