2022-06-26

O Novo Paradigma da Ciência Política do século XXI

Não há dúvidas de que qualquer governo sempre elege o seu sucessor, ou seja, os governantes são sempre a causa direta da eleição dos seus sucessores. Se o índice de aprovação do governo é alto, os aliados apoiados pelo governo serão eleitos; se o índice de aprovação for baixo, quem se elege são os adversários do governo. Como os índices de um governo são de sua única responsabilidade, assim também o são as suas consequências, expressas no resultado das urnas. Em geral, se quer jogar esta responsabilidade toda na conta do eleitor, fazendo-o se esquecer de que, quando muito, ele permanece apenas como a causa indireta do resultado das eleições. O eleitor mal se dá conta que só dependeria dele a aceleração do processo natural e sintrópico que, aos poucos, vai tomando o seu lugar, superando o jogo de cartas marcadas, da cômoda e distinta alternância entre dois falsos opostos. Isto porque ele desconhece, por exemplo, as razões para que um governo aparentemente bom faça como sucessor o seu oposto. Os governantes, contudo, sempre conhecem muito bem estas razões, embora raramente admitam, ou estejam dispostos a fazerem a necessária “mea culpa”.

2022-06-13

Aprendendo a Meditar no Coração

O que é a meditação? Meditar não é pensar; não é articular o pensamento. Meditar é aquietar a mente para que a imaginação possa conduzir, livremente, o processo de contemplação. "Imaginar" aqui não é "visualizar" e sim cultivar a imagem intuitiva do objeto em que meditamos. A meditação é simples e o verdadeiro praticante passa para os leigos e os iniciantes a impressão de que jamais medita. Isto porque ele se torna como Arjuna, que aprendeu de Krishna a fazer da sua vida toda uma meditação no coração. Discreto, leva uma vida ativa, em meditação e, raramente, se deixa flagrar em suas práticas mais íntimas e solitárias de meditação silenciosa.

De forma breve, meditar é haurir śraddhā. E o que é śraddhā? Śraddhā é a expressão, tanto subjetiva como objetiva, da nossa capacidade de manifestar a amorosa luz do coração que nos orienta  para a unidade segundo o processo sintrópico quíntuplo*, conhecido como Brahmasāmīpya.

2022-06-12

ṚTADHVANĪ: A SÍNTESE DO ŚRADDHĀ YOGA SVATANTRA



Dinacaryā
(pronúncia aproximada: di-na-tcha-ryá)

A disciplina sintrópica (caryā) diária (dina) do Śraddhā Yoga consiste em responder ao chamado do universo a partir do foco absoluto no coração — fonte de śraddhā, energia espiritual que traz clareza interior, bom senso e lucidez amorosa à ação. Do coração irradia a luz da śraddhā; na mente clarificada, ela se torna eixo de consciência e ética.

Essa resposta não acontece em um tempo amorfo, mas pulsa na arquitetura viva dos seis períodos sagrados do dia (Ṣaḍ-kāla). Cada amanhecer, meio-dia, entardecer e noite carrega uma qualidade própria da śakti do Tempo, convidando o praticante a viver a disciplina não como lista de tarefas, mas como participação consciente na mandala temporal do universo. A dinacaryā é, assim, o modo humano de caminhar dentro do Ṣaḍ-kāla: ajustar a respiração, a intenção e o gesto à respiração maior de Brahman.

No silêncio do amanhecer, com os olhos suavemente fechados, voltamos a atenção ao Ājñā Chakra — sede do foco impecável — onde Iḍā e Piṅgala convergem e a dualidade se recolhe. Ali meditamos no Ātman como puro Espírito, e em sua pulsação viva, Brahma-Śakti, o dinamismo interior do Ser. Essa vibração é reconhecida na tradição como Śraddhā — poder amoroso de Śrī Yoga Devī, aspecto do sagrado feminino que guia a inteligência do coração.

O início e o selo da Dinacaryā – disciplina que reacende em nós o fluxo de Ṛta, a ordem viva do cosmos, ao longo dos seis tempos do dia – se dá através de um mantra que desperta a consciência relacional do ser:

OṂ MITRADEVĀYA NAMAḤ • ṚTADHVANĪ SVĀHĀ
quando a disciplina deixa de ser obrigação e se torna aliança espiritual 

Neste selo de comunhão, Mitradevāya invoca o Amigo Celeste (Mitradeva) — princípio universal da amizade divina que dissolve o isolamento do eu — enquanto Ṛtadhvanī consagra o som interior do Ṛta, a vibração que alinha o jīva ao ritmo cósmico. A expressão final svāhā sela a entrega do mantra como oferenda silenciosa, fazendo da palavra um gesto de alinhamento e confiança.

Assim, a Dinacaryā não começa apenas com uma recitação, mas com uma abertura relacional em que o jīva se coloca em ressonância com o ritmo do cosmos e o sopro do Infinito.

Ao entoar (ou silenciar) este mantra ao amanhecer, selamos nossa respiração com o ritmo do Ṛta e iniciamos a jornada diária como quem caminha acompanhado pela vibração do Ser. A disciplina deixa então de ser obrigação e se torna aliança espiritual — e a respiração converte-se no veículo da consciência sagrada que pulsa em nós.