O que vem primeiro, a percepção profunda (bhāva; bhāvanā; anubhūti; anubhava), que se manifesta como sentimento ou o pensamento (cintā; cittavṛtti)? A Bhagavad Gītā assume que o sentimento tem precedência sobre o pensamento. Os sentimentos de Arjuna são utilizados para representar a fenomenologia da consciência. O sentimento de impotência e incerteza, típico daqueles que se encontram desconectados da sua śraddhā (bússola interior), qualifica o seu emotivo estado de paralisia inicial. E o sentimento sintrópico de potência, convicção e certeza (śraddhā), posteriormente manifestado sob a forma de alegria espiritual e amor universal, o faz superar a sua condição inicial. "Sentir" (verbos “aṇūbhū” e “bhū”) denota a experiência de ser, significa “experimentar ser”, ou “vir-a-ser”. Os sentimentos expressam necessidades imediatas dos seres e a memória dos mesmos é conhecida como “rasa”. Quando o sentimento é o amor, diz-se que o resultado de rasa é a paz (śānti).
Uma reflexão canônica sobre a Arte e a Ciência da Meditação, inspirada na śraddhā da Bhagavad Gītā. Longe de ser mera fé, śraddhā é a confluência entre a fides e o cogito cartesiano, a experiência do fervor íntimo, da convicção profunda, e do poder de traduzir o amor em insight e ação, capaz de nos causar um arrepio profundo. Essa bússola interior, guiada pela confiança e prudência, ilumina a razão em direção à Verdade e ao Absoluto (Brahma-sāmīpya). Explore o SUMÁRIO abaixo.
2020-05-08
A epistemologia e a teoria da verdade da Bhagavad Gītā
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2020-05-01
Uma Tese de Filosofia sobre Śraddhā na Bhagavad Gītā
17.04.07. Foto com os colegas, logo após a defesa de tese. |
"Śraddhā in the Bhagavad Gītā":
uma tese de doutorado em filosofia
O longo processo de revalidação pelo Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) da tese "Śraddhā in the Bhagavad Gītā" (2007), desenvolvida no Instituto de Ciências Sociais da McMaster University, inicialmente sob a orientação da Dra. Phyllis Granoff (2001-4) e após a sua transferência para a Yale University, do Professor Emérito, Dr. Paul Younger (2004-7), envolveu o reconhecimento explícito (ver parecer) da existência de um pensamento verdadeiramente filosófico na Índia antiga. Isto pode, à primeira vista, parecer irrelevante, mas de qualquer forma, cabe salientar que se tratava da primeira tese doutorado, e até onde sei a única, sobre a Bhagavad Gītā, a ser reconhecida e aprovada no âmbito da filosofia ocidental. Isto posto, antes de passar à explicação das razões que me levaram a escolher um departamento de filosofia para revalidar o meu diploma no Brasil, necessito destacar que durante o período de mudança de orientador, contei com a ajuda inestimável do membro do meu comitê de tese, Dr. Graeme MacQueen, sem o qual a realização deste trabalho não teria sido possível. Além destes três orientadores, agradeço também ao Dr. Peter Widdicombe, membro da banca e do meu comitê de tese, ao Dr. Peter Travis Kroecker, chefe de departamento, e ao examinador externo, Dr. James Pankratz, pela leitura cuidadosa do texto. Em 2009 este texto foi reconhecido como uma tese de doutorado em filosofia, conforme o parecer da Comissão Especial de Revalidação de Certificados e Diplomas de Pós-Graduação do Departamento de Filosofia da UFRJ, constituída pelos professores Dr. Fernando José de Santoro Moreira, Dr. Franklin Trein e Dr. Gilvan Luiz Fogel. Após quase dois anos de luta justificando o meu pedido (veja aqui), considero uma vitória e um marco inédito para a área de estudos orientais ter a tese reconhecida como um tratado filosófico.
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