O Sublime Canto do Senhor sobre Śraddhā Yoga e a Arte e a Ciência Sintrópica da Meditação
(ŚRADDHĀ-YOGA DHYĀNA-BINDU ŚRĪMAD BHAGAVAD-GĪTĀ)
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Dedico este trabalho, com amor e reverência,
a todos os grandes mestres da humanidade,
em especial, aos Gurudevas
Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Veda Vyāsa,
compilador do Mahābhārata, e
Śrī Haṁsa Yogi, o seu mais misterioso
e enigmático comentador.
e enigmático comentador.
Mentalizo em meu coração a imagem
de puro resplendor dos pés de lótus dos Mestres
e me curvo, invocando a sua orientação para cruzar o
oceano da ilusão e alcançar a intuição da verdade.
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OM, Saudações aos Grandes Sábios e Santos.
Que haja bem estar em todos os mundos e planos.
औं नमः श्रीपरमर्षिभ्यो योगिभ्यः।
auṁ namaḥ śrī-parama-rṣibhyo yogibhyaḥ.
शुभमस्तु सर्वजगताम्॥
śubhamastu sarva-jagatām.
Saudações aos gurus,
Saudações aos gurus dos gurus,
Saudações a todos os gurus.
अस्मत् गुरुभ्यो नमः।
Asmat gurubhyo namaḥ.
अस्मत् परमगुरुभ्यो नमः।
Asmat parama-gurubhyo namaḥ.
अस्मत् सर्वगुरुभ्यो नमः॥
Asmat sarva-gurubhyo namaḥ.
OM HRIM ŚRIM KLIM AIM SAUḤ
(OM ŚRĪ) YOGA DEVYAI NAMAḤ
OM TAT SAT
NAMASTÊ
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Imagem que me levou a intuir a centralidade de śraddhā na Bhagavad Gītā. |
Esta reflexão canônica em forma de livro-blog recebeu o seu título definitivo somente em 04.02.24, sete anos após a publicação do primeiro artigo no blog, em 15.10.16. Ela expõe a concepção filosófica de que a Bhagavad Gītā constitui-se como a Escritura Sagrada, por excelência, sobre a filosofia sintrópica e a arte e a ciência da meditação. A sua fundamentação teórica baseia-se na tese "Śraddhā in the Bhagavad Gītā" (2007), desenvolvida no Instituto de Ciências Sociais da McMaster University, inicialmente sob a orientação da Dra. Phyllis Granoff (2000-4) e após a sua transferência para Yale University, do Professor Emérito, Dr. Paul Younger (2004-7). Durante o período de mudança de orientador, contei com a ajuda inestimável do membro do meu comitê de tese, Dr. Graeme MacQueen, sem o qual este trabalho não teria sido possível. Além destes três orientadores, sou grato também ao Dr. Peter Widdicombe, membro da banca e do meu comitê de tese, ao Dr. Peter Travis Kroecker, chefe de departamento, e ao examinador externo, Dr. James Pankratz, pela leitura cuidadosa do texto. Em 2009 este trabalho foi reconhecido como uma tese de doutorado em filosofia, conforme o parecer da Comissão Especial de Revalidação de Certificados e Diplomas de Pós-Graduação do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, constituída pelos professores Dr. Fernando José de Santoro Moreira, Dr. Franklin Trein e Dr. Gilvan Luiz Fogel. Construída a partir da experiência pessoal, na práxis, com a tradição de aprendizagem Śiṣya-Praśiṣya-Ṛṣi-Paramparā, bem como da análise textual das Escrituras Sagradas da Índia, esta reflexão procura trazer à luz o insight original (dikṣā) que deu origem à tese sobre a centralidade de śraddhā (o amoroso sentimento sintrópico) na Bhagavad Gītā, onde representa a intersecção não vazia entre a fides medieval e o cogito cartesiano. Ela se sustenta no equilíbrio entre as duas forças de natureza oposta em que se funda Ṛta, a lei universal que rege os processos entrópicos da realidade material e inorgânica e os processos sintrópicos da realidade espiritual e orgânica.
Esta reflexão sobre a filosofia sintrópica e a arte e a ciência da meditação, descritas na Bhagavad Gītā, tem o seguinte formato; (1) de um diário antropológico (blog), com os registros da jornada interior e (2) de um compêndio canônico (livro) sobre a filosofia sintrópica e a arte e a ciência da meditação, que nos convida a operar no mundo como dínamos, convertendo a energia da disciplina em ações sintrópicas. O formato de blog possibilita a atualização permanente desta reflexão canônica, desenvolvida em tempo real ("a perennial work in progress") e organizada segundo a sequência de capítulos estabelecida no SUMÁRIO GERAL. O livro-blog trata das verdades vivas, que foram se constituindo e lançando luz no caminho dos discípulos (Ṡiṣya) dos grandes Rishis (Śiṣya-Praśiṣya-Ṛṣi-Paramparā) da tradição (Paramparā) de aprendizagem (Praśiṣya) do Śuddha Yoga. Um estudo crítico da arquetipologia sugerida nesta via pode ser encontrado no consagrado O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell.
Um diário, um compêndio e um livro-blog

A construção do texto como uma reflexão canônica
Antes da escrita a transmissão do conhecimento sagrado era oral, por recitação. Este expressava o que teria sido "ouvido" (Śruti) diretamente de Deus. Tratava-se de um conhecimento fixo e inalterável, de origem divina, sem autoria humana e que por isto deveria ser transmitido fielmente, sem alterações, dentro de uma tradição de recitação de mestre a discípulo. Com o advento da escrita, surgem os textos sagrados de autoria reconhecidamente humana, embora inspirados (Smṛti) nos conhecimentos da tradição oral. Estes textos tinham uma autoridade menor, quando comparados com os ensinamentos transmitidos dentro da tradição oral. Por muito tempo, acreditou-se que não se deveria permitir o registro escrito dos ensinamentos de origem divina. Para que o ensinamento pudesse ser, verdadeiramente, incorporado ao discípulo, ele deveria ser decorado segundo um processo ritualístico de internalização, fundado em movimentos corpóreos e técnicas sinestésicas de memorização oral muito bem definidas. Com o tempo, contudo, o valor atribuído ao cultivo da memória oral também foi atribuído à memória textual e logo o corpo de conhecimentos da tradição oral ganhou a forma escrita.
Os livros sagrados tornaram-se objeto de veneração e respeito e alcançaram um lugar de destaque no próprio altar. E logo alguns textos de autoria humana (Smṛti), como a Bhagavad Gītā, passaram a gozar de status semelhante ao das Escrituras Reveladas (Śruti). Mais recentemente, com o advento da máquina de impressão tipográfica (1430) de Gutenberg (1400 - 1468) e do primeiro livro impresso do mundo, a Bíblia (1450), o texto impresso também se impôs como sagrado, embora com um status inferior ao dos manuscritos originais, escritos em pergaminhos, folhas de palmeira, casca de bétula, etc. Nos últimos anos, o livro sagrado passou a ser reconhecido, não apenas pela forma da sua veiculação (texto escrito, impresso, digital, etc.), mas principalmente pelo seu conteúdo.
Embora seja inegável que o livro sagrado em sua forma impressa ainda goze de mais prestígio que a sua versão digital, é de se esperar que isto mude com o tempo. O livro digital deverá se impor ante o livro impresso, do mesmo modo que este se impôs frente ao manuscrito que lhe deu origem e este à recitação oral que o precedeu. Se a recitação oral perdeu o seu papel fundamental com o advento da palavra escrita e esta, do mesmo modo, foi substituída pela palavra impressa, não há porque ser diferente com a plataforma digital, que torna a palavra sagrada outra vez etérea, fluida, como o fora para a tradição oral. A diferença agora é que a palavra digitalizada encontra-se disponível a todos, e não para uma pequena elite de guardiões do conhecimento sagrado.
O manuseio de uma Escritura Sagrada costuma exigir uma série de rituais de purificação. Dentro de algumas religiões, os praticantes mantêm o costume de lavar as suas mãos antes de manipular o seu texto sagrado, mas não costumam ter esse mesmo cuidado quando se trata da versão digital da mesma escritura. Atualmente, não é incomum acessar a Bhagavad Gītā, por exemplo, no celular, enquanto se está no metrô, restaurante, ou qualquer outro lugar. O mesmo não acontece com a versão impressa do texto, que ainda é manuseada segundo regras e convenções que exigem, basicamente, uma demonstração externa de respeito e reverência. Do mesmo modo, é comum encontrar um livro sagrado sobre um altar indicando a sua importância, mas é impensável ter nesse mesmo altar um laptop com o correspondente arquivo digital posicionado entre as imagens das deidades. Para o verdadeiro espiritualista, entretanto, o respeito e a reverência estão antes na atitude interna que deve animar todo e qualquer ritual das distintas tradições religiosas que na própria ritualística, conforme ilustra o evangelho de Mateus, na passagem que faz referência aos "sepulcros caiados" (Mateus 23:27). É a estes espiritualistas, em suma, que me dirijo neste esforço de trabalhar o texto digital como um objeto sagrado.
Sistema de Transliteração IAST
A tabela abaixo apresenta um guia de pronúncia e do sistema de transliteração IAST utilizado no livro-blog. A linha 14, por exemplo, apresenta a palavra casa ("c"sublinhado) para ilustrar a pronúncia do "k" e a palavra "cara"("r" sublinhado) para ilustrar a pronúncia do "r".
Desse modo, vemos que, segundo a convenção IAST, a palavra sânscrita "Krishna", escreve-se "Kṛṣṇa" e a palavra "chakra" (pronuncia-se "tchakra") escreve-se "cakra", pois o "c" representa o "tch", conforme exemplifica a linha 19 da tabela ("c" como em "tchau"). Por fim, repare que, sem a convenção IAST escreveríamos "mani" para representar duas palavras totalmente distintas: "mānī" (medida) e "maṇi" (pérola). O Sistema de Transliteração IAST, em suma, é o seguinte:
Saṃskṛta-varṇa-mālā
(sequência ou série de letras do sânscrito)
Svara (vogais)
Vyañjana (consoantes e semi-consoantes)
Saṃkhyā (números)
SUMÁRIO GERAL
Rubens Turci
Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2016.
(Atualizado em 02.01.25.)
(Atualizado em 02.01.25.)
Achei muito interessante a ideia do Livro blog voltado aos ensinamentos antigos e voltado para os conhecimentos da meditação. Como agora estou podendo acompanhar os conteúdos dados nas aulas, pretendo ser uma leitora avida deste livro inovador. Gratidão...
ResponderExcluirAgradeço pelas palavras gentis e por estar deste modo contribuindo para o fortalecimento desta egrégora em torno da essência do sagrado. Você captou perfeitamente o espírito de interação que gostaria de alcançar com todos. Críticas e sugestões são sempre bem vindas.
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