Nota explicativa — 17 ago 2025: Este texto nasceu de um sonho em 2016 (“Oh Unfathomable Sorrow”). Na noite de 16→17/08/2025, um novo sonho retomou o mesmo motivo e aprofundou a visão. Revisitei o ensaio para registrar essa continuidade — ver além do olhar.
Ver além do olhar. Padre Antônio Vieira dizia: não basta ver para ver; é preciso olhar. Hoje acrescento: não basta olhar — é preciso ver com vipaśyanā, o insight que dissipa a névoa e devolve cada gesto ao seu lugar no caminho do coração. Daí a frase, "O pior cego é aquele que não quer ver". Não faria muito sentido dizer "o pior cego é aquele que não quer olhar". Apesar do nosso olhar, é sempre mais fácil não ver do que ter que enxergar o que nos desagrada.
Em setembro de 2016, sonhei cantarolando: Oh Unfathomable Sorrow. Acordei e confirmei: a expressão existe — e ecoa a dor que atravessa o sagrado. Recordei então meus ancestrais, presentes na meditação do sonho, e contemplei a gravidade como metáfora do ciclo de expiração e inspiração de Brahman: do Big Bang ao retorno. Ao despertar, eu estava mais leve — como se a angústia, quando vista sem fuga, devolvesse ao espírito a sua gravidade própria: aquela que atrai tudo de volta ao Centro.