2025-12-14

Namastê — Dinacaryā da Escuta e da Amizade Universal

O foco absoluto do coração como gesto relacional

Namastê.

Não como fórmula social, mas como aforismo gestual e ontológico da escuta.

Yadā hṛdayena anyaṃ namāmi,
pañca-kośān praṇamāmi;
na kevalaṃ annamāya-kośaṃ,
yaḥ rūpa-mātraḥ.

Quando saúdo o outro pelo coração, saúdo seus cinco kośas (corpos);
não apenas o annamāya-kośa (corpo físico), feito de mera aparência.

Namastê é o reconhecimento silencioso de que toda relação verdadeira não se dirige apenas ao corpo visível, mas à totalidade do ser manifestado em camadas — corpo, energia, mente, inteligência e bem-aventurança. É o foco absoluto do coração reconhecendo o outro como presença integral, e não como objeto.

Assim compreendido, namastê torna-se o símbolo da amizade universal entre todas as formas de inteligência que habitam os diferentes corpos e mundos. Não é gesto de submissão, mas de convergência; não é saudação exterior, mas alinhamento interior.

OṂ MITRADEVĀYA NAMAḤ • ṚTADHVANĪ SVĀHĀ

Neste selo de comunhão, Mitradevāya invoca o Amigo Celeste — o princípio universal da amizade divina que dissolve o isolamento do eu. Ṛtadhvanī consagra o som interior de Ṛta, a vibração que alinha o jīva (alma individual) ao ritmo do real. Svāhā sela a palavra como oferenda silenciosa, entregando-a ao fluxo do cosmos.

Assim, a Dinacaryā não começa apenas com uma recitação, mas com uma abertura relacional: o jīva  se coloca em ressonância com o outro, com o mundo e com o Infinito.

Antes de toda prática, antes de toda palavra, antes mesmo do diálogo — namastê.



Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2025.