2025-10-16

Ṛtadhvanī — A Voz de Ṛta (O Som Primordial e a Respiração do Cosmos)


(Śraddhā quaerens sonum)
O silêncio é o som do ṛta;
o som é o corpo do silêncio.


1. O Nome e o Som

“Ṛtadhvanī” — a vibração de Ṛta. O nome une dois princípios eternos: Ṛta, a ordem cósmica, e Dhvanī, o som primordial. Ṛta é o ritmo invisível que mantém o cosmos em coerência; Dhvanī é a voz que o manifesta. Toda forma que existe é uma onda na superfície desse diálogo. Quando a consciência toca o ponto de ressonância entre ambos, nasce o Verbo — não como discurso, mas como pulsação da realidade em si.

2025-10-15

A Ciência Sintrópica do Tempo


kālaḥ jīva-ākāśayor ābhāsaḥ
“O tempo é o reflexo que surge entre a consciência e o espaço.”

O tempo não é o que passa, mas o que permanece quando tudo o mais já partiu.
É nesse silêncio que śraddhā se revela como ciência e arte do amor em ação.

1. A Negação do Tempo Linear: Kāla e a Dissolução do Fluxo Absoluto

O tempo não é o que passa, mas o que permanece quando tudo o mais já partiu.

Com essa frase inaugural, rompe-se o paradigma entrópico que concebe o tempo como um rio universal. O aforismo abre uma nova ontologia: kāla não é dimensão física, mas propriedade emergente da consciência — vibração relativa às escalas fractais do ser. A seta do tempo é substituída por uma espiral: não há avanço, há intensificação. O tempo é consciência em movimento dentro de si mesma, não um fluxo externo de eventos. A eternidade fractal é o silêncio imóvel que sustenta todas as ondas do vir-a-ser.

2025-10-14

Memorial do Śraddhā Yoga — A Arte e a Ciência do Amor em Ação


Śraddhā-Smṛtiḥ: A Gênese da Tradição Sintrópica

I. Versão Canônica

Memorial do Śraddhā Yoga
A Arte e a Ciência do Amor em Ação

“O tempo não é o que passa, mas o que permanece quando tudo o mais já partiu. É nesse silêncio que śraddhā se revela como ciência e arte do amor em ação.”

1. O Princípio Vivo

A história deste livro-blog é, em essência, a de um processo de descoberta interior: a passagem do foco na razão objetiva, que analisa, para o foco absoluto do coração, que ilumina a razão com o sentimento amoroso de unidade de todas as coisas. O Śraddhā Yoga nasceu do encontro entre a disciplina acadêmica e a escuta do coração, entre a precisão científica e o fervor interior. Sua origem não está em um laboratório, nem em um mosteiro, mas no espaço silencioso em que a alma reconhece o seu próprio chamado — o haṃsa respirando entre dois mundos.

2025-10-12

A Noite Escura da Alma: Diálogo entre a Bhagavad Gītā e São João da Cruz


Ensaio do ciclo
Śraddhā Quaerens Intellectum:
A Ciência do Ser

Introdução

Este ensaio pertence à linhagem filosófico-devocional do Śraddhā Yoga Svatantra, no qual a busca por conhecimento (jñāna-mārga) se reconcilia com a entrega amorosa (bhakti-mārga) e a práxis sintrópica (karma-mārga).

A noite escura da alma é aqui interpretada como expressão ocidental de duḥkha adhyātmika, o sofrimento espiritual que marca a travessia entre entropia e sintropia — entre a depuração do eu e a emergência do Ser.

O presente texto propõe um diálogo entre São João da Cruz e o Ṛṣi Kṛṣṇadvaipāyana Vyāsa, a quem se atribui a autoria do Mahābhārata, mostrando que tanto a mística cristã quanto a sabedoria védica reconhecem, sob linguagens distintas, o mesmo rito de passagem interior: a depuração do coração como via de iluminação.

2025-10-09

Sintropocracia: o Regime do Equilíbrio Dinâmico e Fractal


Prefácio Introdutório

Toda civilização nasce de uma imagem do mundo.

Quando essa imagem se rompe, a história entra em crise — e o homem busca um novo centro onde o pensar e o agir, o sentir e o compreender, possam novamente respirar juntos.

O ensaio que se segue nasce dessa busca. Une os dois fluxos do livro-blog: o Śraddhā Yoga como ciência interior e disciplina espiritual; e a Filosofia Sintrópica como ciência exterior e cultura civilizatória. Ele não propõe um novo regime político, mas um novo olhar sobre a própria noção de governo: governo do coração, equilíbrio das asas, ritmo interior da razão que sente.

“Sintropocracia” não é ideologia nem programa, mas nome dado à harmonia possível entre o Oriente e o Ocidente, entre śraddhā e ratio, entre sabedoria e método. Ela é a expressão política da lei de Ṛta — o princípio que sustenta o cosmos e o ser —, traduzida à linguagem do tempo presente. É o momento em que a filosofia se reencontra com o silêncio do espírito, e a ciência com a fé lúcida que nasce da experiência interior.

Neste texto, o Haṃsa — o cisne das Upaniṣades — torna-se emblema da alma coletiva: ave de duas asas, símbolo da razão e do amor, do masculino e do feminino, da direita e da esquerda que só voam quando em perfeita sintonia. O ponto de interseção, onde as asas se cruzam, é o coração político e espiritual da Sintropocracia: o lugar da convergência viva entre todas as diferenças.

Que este ensaio seja lido não como doutrina, mas como meditação; não como promessa de futuro, mas como lembrança do que sempre fomos: seres chamados à harmonia. Pois governar, no sentido mais alto, é apenas isto — cuidar do ritmo invisível que mantém o mundo em respiração.

Śāntiḥ śraddhāyāḥ — a paz é confiança que respira.

2025-10-07

Do Verdadeiro Bom Senso: Da Razão ao Coração e à Confiança Sintrópica


Assim como Arjuna, entre a razão e o dever, reencontra no coração
a voz de Krishna, também o homem contemporâneo precisa
converter a inteligência em sabedoria amorosa
— o verdadeiro bom-senso do Ser.

1. A metamorfose do conceito de bom senso

O bom senso, tantas vezes reduzido à habilidade prática de julgar e agir sensatamente, é um conceito em permanente transformação, cuja profundidade excede a mera racionalidade cotidiana. Desde a Grécia Antiga, onde se vinculava à phronesis — a sabedoria prática orientadora da ação virtuosa —, até o Iluminismo, que o transformou em sinônimo de racionalidade equilibrada, o bom senso foi sendo compreendido como uma voz prudente da razão que impede decisões impulsivas.

2025-10-02

Consciência Fractal e a Natureza do Tempo: Uma Epistemologia Sintrópica

Introdução Editorial ao Ensaio

O presente ensaio, Consciência Fractal e a Natureza do Tempo: Uma Epistemologia Sintrópica, constitui o ápice reflexivo do Capítulo II —  Epistemologia e Experiência Interior. Depois de percorrermos os caminhos da verdade, da razão e da intuição, chegamos aqui a uma síntese criativa que articula tradição védica, matemática dos infinitos, geometria fractal, física quântica e filosofia sintrópica. A proposta é ousada: pensar o tempo não como estrutura física absoluta, mas como propriedade emergente da consciência fractal. Nesta visão, kāla (tempo), jīva (consciência individual) e ākāśa (espaço) aparecem como categorias fundamentais para religar ciência e espiritualidade, oferecendo uma chave para compreender o ser humano como parte refletida do todo. Assim, este texto prepara a transição do eixo epistemológico para o eixo civilizatório, em que a filosofia sintrópica se desdobra como práxis e cultura da síntese.

Nota metodológica: Desde tempos imemoriais, a humanidade se pergunta sobre a relação entre a unidade da existência e a multiplicidade da experiência. Este ensaio explora essa questão sob uma nova ótica. Ele não reivindica apresentar uma “nova teoria científica” no sentido estrito, nem pretende apropriar-se do discurso da física ou da matemática como ornamento. O que se propõe é uma metáfora epistemológica, um paradigma transdisciplinar que articula ciência, filosofia e espiritualidade sob a ótica da filosofia sintrópica. As analogias com fractais, alephs e física quântica devem ser lidas como pontes conceituais e heurísticas, não como demonstrações empíricas. Essa advertência visa distinguir claramente o propósito desta reflexão de modismos pseudo-científicos e situá-la no terreno do diálogo filosófico rigoroso e criativo.

2025-09-27

Ṛṣi-nyāsa: a bússola discreta da retomada na Bhagavad-Gītā (I)


Da agitação mental ao foco absoluto do coração

Nota editorial: este texto estabelece um diálogo íntimo com uma voz anterior, que em alguns momentos do quinto capítulo chamei de “sorriso interior”. Naqueles textos repousam as sementes, as bandas dos três guṇas; aqui, apresento uma floração circunstancial dessa jornada que devemos empreender, caminhando lado a lado com a herança de nossa própria tradição.

Antes de seguir, é importante esclarecer o uso metafórico da palavra “quântico” neste texto. Emprego-a para indicar a discretização da experiência em patamares ou degraus reconhecíveis, especialmente no que concerne à predominância dos guṇas (sāttvika, rājasa e tāmasa). Essa linguagem não pretende descrever fenômenos da física quântica, mas usar a metáfora para iluminar as nuances da dinâmica espiritual que exploramos aqui.

“samatvaṃ yoga ucyate.” 
Yoga é imparciabilidade amorosa.
(BhG 2.48)

“yogaḥ karmasu kauśalam.” (BhG 2.50)
Yoga é maestria sobre as ações.

"śraddhā kṣaye viniyogo ’pi muhyati;
ṛṣi nyāsaḥ tu prajñām ālokayati."
Quando śraddhā declina, até o viniyoga se confunde;
ṛṣi-nyāsa, porém, ilumina a inteligência do coração.
(Śraddhā Yoga Svatantra)

2025-09-13

Śraddhā e Kāma: A Regência da Shakti nos Cinco Corpos Sutis e nos Chakras

Uma Análise do Sagrado Feminino e da Energia Shakti à Luz da 
Bhagavad Gītā, Yoga Sūtras, Anu Gītā e Kāma Sūtra

Nota editorial de grafia
: neste artigo, optamos por shakti e chakras (grafias correntes em português), mantendo os demais termos sânscritos em IAST (ex.: kośa, kuṇḍalinī, suṣumṇā nāḍī, Ājñā, Anāhata, Ṛta). Adotamos Krishna (grafia consagrada) em vez de Kṛṣṇa.

INTRODUÇÃO 
A Alquimia do Desejo Sagrado e o Falso Dilema entre o Lótus e o Corpo

No coração da experiência humana, pulsa um antigo e persistente paradoxo: a aparente cisão entre o caminho da transcendência e o abraçar da nossa natureza imanente. De um lado, o lótus do espírito, símbolo da pureza, da renúncia e da busca ascética por uma realidade para além do véu da matéria. Do outro, o corpo, o domínio do desejo, da paixão e dos impulsos naturais que nos ancoram firmemente à terra e à nossa biologia. Esta dicotomia legou-nos um legado de conflito interior, pintando a espiritualidade como uma negação do corpo e o desejo como um obstáculo à iluminação. O Śraddhā Yoga, no entanto, questiona se esta separação é uma verdade fundamental da existência ou, talvez, a mais profunda e trágica das incompreensões sobre a força que nos anima: a energia primordial que a tradição védica chama de Shakti.

2025-09-11

O Śraddhā Yoga como Cultura Sintrópica

No vasto universo da espiritualidade indiana, o Yoga se revela não como uma tradição monolítica, mas como um delta fértil alimentado por ao menos duas grandes correntes ancestrais. De um lado, flui a corrente védica, cuja busca pela transcendência culmina na filosofia vedānta, nos Yoga Sūtras de Patañjali e na Bhagavad Gītā. Do outro, corre a corrente tântrica, cujas raízes pré-védicas talvez remontem às civilizações do Vale do Indo, e que floresce no Hatha Yoga e no complexo sistema de chakras, vendo o corpo não como uma prisão, mas como um microcosmo do universo sagrado. Embora a Bhagavad Gītā pertença inequivocamente à linhagem védica, ela representa um ponto de síntese tão revolucionário que seu ensinamento transcende as escolas, podendo ser compreendido em sua essência como Śraddhā Yoga — a arte de fazer do amor um ato cognitivo e a chave da ciência da meditação (heartfulness).

2025-09-05

O Coração que Pensa: Do Hardware Cerebral à Nuvem Cósmica

Um Ensaio sobre Sintropia, Consciência, Yoga e a Lógica Orgânica do Real

Introdução: Duas Imagens, Dois Paradigmas

Comecemos por uma imagem conhecida: o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Esta figura representa o paradigma ocidental fundamental, que enxerga o indivíduo como uma entidade isolada, anatômica e mestra de um universo mensurável. Nela reside a aposta metafísica do ideal renascentista que herdamos: o indivíduo proporcional, centro geométrico do mundo, porém desconectado do todo. Tudo é explicado por medidas, simetrias e leis que se impõem a partir do indivíduo‑métrica.

2025-08-23

Proêmio do Capítulo II — Hṛdaya e Buddhi: o Coração Pensa com Amor; a Mente traduz


Śraddhā quaerens intellectum é o coração que pensa. Não é fé (fides) pedindo prova na mente (manas), mas śraddhā — confiança luminosa — abrindo passagem em hṛdaya (o coração do Ser), de onde a luz se espelha em buddhi; só então a mente discursiva traduz em linguagem, com rigor. Buddhi não emite luz: acolhe a cidābhāsa — consciência refletida, luz participada do Ātman em hṛdaya —; a nitidez dessa aparição cresce com sattva, cultivado pela disciplina.

2025-08-13

Os Cinco Aspectos da Práxis Sintrópica e os seus Mantras



Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ.
Haṃsa, a respiração do Ser,
é a paz do amor em ação.

A disciplina sintrópica do Śraddhā Yoga é um circuito de cinco gestos que estabiliza o coração com  Ṛta: começa no saṃkalpa (o voto que orienta), consagra-se em ṛṣi-nyāsa (a internalização  reverente de um arquétipo da linhagem sagrada), aplica-se em viniyoga (a prática continuamente ajustada às necessidades do momento presente — seja no retorno após uma pausa, seja na personalização atenta), purifica-se em satya tyāga (a dedicação verídica às verdades [satya] experimentadas na aproximação à Consciência Sintrópica Universal) e se mantém em upasthāna (a presença sustentada, que faz de cada minúscula ação uma meditação). Não são etapas estanques: são órbitas que se reforçam mutuamente. O eixo respiratório (haṃsa/so’ham) dá ritmo às passagens; o mantra acende a memória do real; a ação retorna à fonte. Quando o gesto inteiro vibra na mesma clave — propósito, consagração, aplicação, renúncia e presença — a paz não é pausa: é paz em movimento, a clareza que age por amor.

2025-08-06

🕊️ O Śraddhā Yoga, a Meditação e a Ciência e a Arte do Amor em Ação (Heartfulness)

Convido você a conhecer e salvar entre seus favoritos esta importante referência acadêmica digital dedicada ao surgimento e ao desenvolvimento histórico da arte e da ciência da meditação.

Este livro-blog é fruto de décadas de pesquisa, contemplação e docência — e oferece um conteúdo canônico e original sobre a meditação à luz do yoga puro (śuddha yoga) resgatado pelo Senhor Krishna na Bhagavad Gītā: o Śraddhā Yoga — o Yoga da Convicção Sintrópica, da Escuta Interior e do Amor em Ação.

Aqui, a meditação é compreendida como expressão do foco absoluto do coração (heartfulness), e não apenas como técnica mental. O caminho proposto é sintrópico: integra sabedoria ancestral e rigor contemporâneo, sem abandonar a ternura. 🌿

Neste espaço, você encontrará diversas formas de aprofundar sua jornada:


🔸 1. O Tratado Canônico
Composto por quase 300 artigos organizados ao longo de mais de uma década, este tratado oferece uma abordagem exaustiva da meditação segundo o Śraddhā Yoga.
👉 Para acessá-lo, clique em Sumário no menu principal.


🔸 2. A Apostila da Disciplina UFRJ
Base da disciplina pioneira A Arte e a Ciência da Meditação (CMT014), oferecida desde 2019 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta apostila reúne textos introdutórios ideais para quem busca um alicerce sólido para sua prática.
👉 Clique em ‘Apostila.


🔸 3. Curso Online Aberto (RAS – CMT014)
O Roteiro de Atividades Semanais (RAS) funciona como um verdadeiro curso online gratuito, que estrutura a vivência prática e teórica da meditação ao longo de 12 semanas.
👉 Acesse a seção CMT014: RAS no menu principal.


🔸 4. Exploração Cronológica Livre
Se preferir acompanhar as postagens em sua ordem original, clique em Voltar e use a barra de rolagem vertical.
Ou acesse a coluna da direita, na seção ‘Arquivo do Livro-Blog’, onde as postagens estão organizadas por ano e mês de publicação.





📖 Bem-vindo ao Śraddhā Yoga — um campo fértil de estudo, prática e revelação, onde o foco absoluto do coração orienta cada gesto, cada palavra e cada silêncio.

🌺 Śāntiḥ Śraddhā — Paz & Amor em Ação.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2025
(Atualizado em 11.08.25)
Rubens Turci




2025-07-28

A Filosofia Sintrópica da Alta Performance

Introdução

Este ensaio inaugura o capítulo sobre a Filosofia Sintrópica da Alta Performance, investigando śraddhā — a convicção sintrópica — como força geradora do foco absoluto, no qual meditação, auto-hipnose e técnica se entrelaçam em uma pedagogia do Ser. Aqui, a performance deixa de ser mera conquista externa para se tornar um retorno ao centro luminoso da consciência.

Diferentemente da alta performance movida pelo esforço competitivo, este caminho propõe um florescimento silencioso, fundado na escuta interior e na confiança profunda. É o coração que foca, não o ego; a alma que se unifica, não o “eu” que se afirma. Por isso, denominamos este percurso como uma filosofia sintrópica da alta performance: uma prática integrativa e contemplativa, onde corpo, mente e técnica convergem no retorno ao Ser.

Foco Absoluto do Coração: Síntese Aforismática sobre a Convicção Sintrópica e a Filosofia da Alta Performance


Prólogo:
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Śraddhā é convicção sintrópica; um saber por
ressonância, não por dedução. Não exige provas,
pois é a própria prova em forma de paz interior.
(Haṃsānugata Sūryadāsa)

Do coração que confia brota o foco autêntico — e da quietude, a maestria. Esta síntese aforismática não propõe uma tese, mas traça um caminho entre sutilezas, onde o sentido floresce em vez de se impor. Não busca convencer, mas iluminar. Cada aforismo é uma respiração; cada comentário, um gesto contemplativo. Aqui, nada se demonstra — tudo se vivencia. Cada frase é uma chave que descerra um espaço interior. Cada espaço revelado, um retorno ao Ser.

Este texto é escuta. Delírio sensato: a intuição que revela imagens quando os pontos se unem. Não é loucura — é fogo nascido da confiança. Jīva, ahaṃkāra, jīvātman: da fragmentação à unidade. Heartfulness é o pulso desse retorno. Por isso, aqui não há argumentos — só um convite. Meditar com palavras. Confiar no Ser. O coração revela o que a mente não vê.

Foco Absoluto do Coração: Aforismos para a Alta Performance Integrada

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 Do coração que confia, nasce o foco autêntico e a maestria silenciosa. Este ensaio não oferece uma tese, mas desenha um caminho por entre sutilezas, onde o sentido emerge em vez de se impor. A intenção não é convencer, mas irradiar, agindo como um tecido vivo de palavras que revela fragmentos soltos, para que o leitor una os pontos. Cada aforismo é uma respiração, e cada comentário, um gesto contemplativo. O conjunto não se prova, mas se experimenta, pois cada aforismo é uma chave para abrir um espaço interior, e cada espaço revelado é um retorno ao Ser.

2025-07-26

O Coração em Foco: Meditação, Auto Hipnose e a Arte da Alta Performance

Anúncio Metodológico:
Uma Abordagem Aforismática do Foco Absoluto do Coração

1. Este ensaio desenha um caminho de palavras soltas para juntar os pontinhos. Cada aforismo é um gesto contemplativo, uma chave para abrir um espaço interior. 

2. O que guia esta apresentação não é o rigor da razão linear, mas a escuta do coração. Chamo isso de "delírio sensato": uma pedagogia da intuição, onde a imagem só se revela depois que se unem os pontinhos. Um método sutil: não se trata de loucura, mas de foco. O  foco absoluto do coração é a maiêutica da alma, a prática que nos permite dar à luz a uma verdade que não pode ser ensinada, mas apenas revelada por meio da intuição. Trata-se de um caminho que se funda na lógica superior do coração, heartfulness, a via para quem deseja afinar corpo, mente e alma com a vibração do Ser. É essa sintonia que transcende a mera técnica, permitindo que o artista infunda sua performance com a essência de sua própria natureza, manifestando, assim, a verdadeira maestria.

2025-07-20

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (IV)

(Parte I: veja aqui)

IV. Estilo e a Expressão da Essência

IV.1. Estilo: a assinatura da svabhāva purificada

Na estética moderna, “estilo” é a identidade visível de um artista ou escola. No entanto, essa identidade é frequentemente compreendida como um produto cultural — um acordo, uma tendência, uma marca registrada. A Bhagavad Gītā, ao contrário, propõe uma ontologia do estilo: estilo é a forma sensível manifesta sob o selo de qualidade de nossa própria śraddhā. Sua essência não é o ego; é a svabhāva purificada, isto é, a natureza do ser libertada das flutuações dos atributos da natureza material, guṇas, e reorientada pelo dharma. O estilo autêntico, portanto, não é escolha estética nem modismo — é a "expressão inevitável do alinhamento entre o criador e o real".

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (III)


III. Talento, Inspiração e Gênio:
da Natureza à Transcendência

III.1. Talento: a eficácia do svadharma em ação

No vocabulário moderno, “talento” é frequentemente associado à aptidão inata — uma capacidade natural que diferencia certos indivíduos dos demais. Na Bhagavad Gītā, essa ideia encontra um equivalente mais profundo: svabhāva, a natureza constituinte do indivíduo, moldada por suas tendências (saṃskāras), pelas qualidades da matéria (guṇas) e pelo dharma específico a que está atrelado (svadharma). Talento, então, não é mero dom. Ele é a eficácia sintrópica com que o indivíduo realiza sua natureza. Não é estático, nem puramente genético — é uma “potência dinâmica, latente, que se manifesta à medida que a consciência se purifica e alinha-se a Ṛta”.

2025-07-19

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (II)


II. Śraddhā como Motor
do Conhecimento e da Criação

II.1. Śraddhā: a energia do ardor do foco absoluto do coração e a certeza intuitiva daí derivada

No âmago da Bhagavad Gītā pulsa uma palavra que não é apenas conceito, mas vibração ontológica: śraddhā. Muitas vezes traduzida por “fé”, esse termo carrega implicações muito mais profundas que a simples crença em algo invisível ou a adesão a uma doutrina. Śraddhā é, antes de tudo, uma expressão do foco absoluto do coração, o sentimento de certeza interior e confiança luminosa, que não exclui o intelecto, mas o alimenta e o conduz.

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (I)

Introdução — A criatividade e a necessidade de uma revolução epistêmica

Criar, no vocabulário corrente, é produzir algo “do nada”. Esta expressão, carregada de um misticismo secularizado, remonta tanto à ideia teológica de creatio ex nihilo, quanto à noção romântica do gênio espontâneo, que transcende as regras e impõe ao mundo sua assinatura [1]. Porém, a ciência moderna, guiada por um paradigma materialista, não reconhece este “nada” como um vazio fértil, mas como ausência, ruído ou ilusão. Ao mesmo tempo, a mesma ciência se distancia cada vez mais da experiência viva da criação, reduzindo-a a processos cerebrais, algoritmos adaptativos ou replicações sofisticadas.

2025-07-13

Da disciplina quíntupla (pañca-aṅga) da Bhagavad Gītā aos três gestos de reparação (upalakṣaṇas) da Anu Gītā

Ahiṁsā, anutāpa, kṣamā — três flores
da mesma raiz do fogo do coração
.
“Sou a morada dos erros,
sem posses, sem direção.
Sê Tu o meio da minha salvação.”
(Anu Gītā, Mahābhārata, 14.16.17)

Este artigo aprofunda a compreensão da disciplina quíntupla (pañca-aṅga) do Śraddhā Yoga, denominada śraddhā-vṛtti,  à luz dos momentos de crise e queda, revelando os três gestos característicos (upalakṣaṇas) — ahiṁsā (inofensividade), anutāpa (arrependimento purificador) e kṣamā (a disposição interior de absorver, sem julgar ou se abalar, as turbulências externas) — do processo de reparação da perda do foco amoroso do coração.

2025-07-07

HEARTFULNESS: O Foco Absoluto do Coração


Quando se retira os sentidos dos objetos dos sentidos,
assim como a tartaruga recolhe seus membros
para dentro do casco, então se alcança
o Foco Absoluto do Coração.

यदा संहरते चायं कूर्मोऽङ्गानीव सर्वशः ।
इन्द्रियाणीन्द्रियार्थेभ्यस्तस्य प्रज्ञा प्रतिष्ठिता ॥ २.५८॥
(yadā saṃharate cāyaṃ kūrmo'ṅgānīva sarvaśaḥ |
indriyāṇīndriyārthebhyas tasya prajñā pratiṣṭhitā ||)
Bhagavad Gītā 2.58

Quando este (yogin) retira completamente os sentidos
dos objetos sensoriais, assim como a tartaruga
recolhe seus membros para dentro do casco,
então sua prajñā (percepção/sentimento intuitivo)
está firmemente estabelecida.
Bhagavad Gītā 2.58

2025-07-02

A Roda e o Eixo: O Foco Absoluto de Śraddhā

Quando a mente encontra o eixo do coração

A mente é uma roda em movimento. Ela gira, com seus múltiplos raios, revelando as direções da vida material, os caminhos da existência humana e os sentidos que se abrem para a alma. Essa roda é a vṛtti — flutuação, atividade, rotação interior. Movimento inevitável.

Mas há também um centro, um ponto imóvel em torno do qual tudo gira. Esse centro não é vazio. É a sede onde se aloja a presença silenciosa, estabilidade viva, o fogo sutil que ilumina sem se mover: śraddhā, o foco absoluto do coração espiritual.

Assim se inicia a contemplação do eixo e da roda. O eixo é  Ṛta, a ordem do real. A roda são as experiências, os pensamentos, os gestos, os desejos — tudo aquilo que se movimenta e se transforma no fluxo da existência. A espiritualidade não está na negação da roda. Está na sabedoria de conhecer o eixo.

2025-06-30

A Śraddhā-Vṛtti e o Outro de Si Mesmo: O Foco Absoluto como Espelho da Alma

O outro de Si Mesmo como expressão
de um Rṣi do Amigo Divino, de um Siddha de Mitradeva
sem nome fixo, sem dogma.
A Epifania do Arquétipo Sintrópico

A figura é jovem, ocidental, silenciosa. Não carrega turbante nem manto — mas traz um brilho no olhar e, para aqueles que podem perceber, uma luz clara no centro da testa e do peito.

Mais do que um mestre tradicional, ele representa algo além de você mesmo: é aquilo que, em você, olha para você mesmo.

Sua presença é pós-axial — pertence ao tempo da cultura sintrópica, de síntese. 

No Ṛgvedaa divindade da aliança e da harmonia sintrópica universal é Mitra, o amigo solar. Deva, por sua vez, representa a luz, a vibração brilhante do cosmos que se manifesta como consciência.

2025-06-28

Heartfulness: uma releitura radical da auto-hipnose

Dois exemplos de "pombinhos" unidos
pelos laços do matrimônio

Quando o foco se torna amor,
a hipnose se transfigura em escuta.

Este artigo propõe uma reflexão sobre o foco espiritual a partir da metáfora do casamento: o foco técnico, entendido como uma união por interesse, e o foco absoluto, concebido como um matrimônio do coração. Passamos do casamento por interesse — realizado a partir da mente egóica e calculista — ao casamento por amor, que nasce do coração. Quando o foco se transforma em amor, a hipnose deixa de ser mera sugestão para se transfigurar em escuta verdadeira. Navegamos, assim, pelo delicado fio entre a sugestão que cega e a escuta que liberta, explorando referências que vão de Moreira da Silva à Bhagavad Gītāde The Corporation (2003) ao What the Bleep Do We Know!? (2004). A auto-hipnose, quando alicerçada em śraddhā — o fervor lúcido que atua como bússola do foco absoluto, guiando a mente ao coração e à verdade — pode deixar de ser repetição mecânica para tornar-se uma invocação profunda.

2025-06-25

A Escuta Interior na Musicoterapia: Śraddhā e Neurociência

“A arte não muda os fatos; muda os corações.
E corações mudam o mundo.” (Insp. em Leonard Bernstein)

A Música é a Ponte

Há um ponto de convergência onde os saberes se silenciam e escutam uns aos outros. Onde a ciência começa a pressentir o invisível, e a espiritualidade reconhece o valor do método. A arte — especialmente a arte da escuta — é essa ponte, esse antarātmā, esse interstício onde se cruzam a razão e o mistério. E é nesse lugar sutil que floresce a musicoterapia como caminho: um yoga contemporâneo que se serve do som para revelar a luz do coração.

2025-06-09

Anu Gītā — A Perda do Foco Absoluto, A Sabedoria da Retomada e o Ritmo de Viniyoga

Quando a chama se retrai,
o coração aprende a soprar as brasas:
śraddhā é o fogo que jamais se apaga.
Interlúdio: A Perda do Foco Absoluto

Ao abordar viniyoga como sintonia integral com a luz natural do coração, tocamos o ponto sensível do caminho: aquele em que a conexão com o foco se enfraquece, a luz parece se apagar, e o praticante experimenta a queda silenciosa da escuta interior. É nesse intervalo, onde a śraddhā vacila e a presença se dilui, que a Anu Gītā revela sua importância.

O texto a seguir interpreta esse momento como parte essencial do ritmo da retomada. Assim, antes de avançarmos para satya tyāga e upasthāna — os gestos de oferta e reintegração —, deixemo-nos conduzir pela sabedoria da pausa, da ausência e da escuta reacesa. É pela intimidade com o próprio eclipse que o sol interior reaprende a nascer.

SINOPSE

Este artigo retoma o fio invisível entre a Bhagavad Gītā e a Anu Gītā, interpretando a transição da revelação ardente à pedagogia da retomada. Por meio da śraddhā, da respiração e do viniyoga, delineia-se o caminho da restauração interior: do foco absoluto à disciplina viva do Śraddhā Yoga.

2025-06-03

A Meditação como Alento do Ser

Quando a respiração encontra sua origem,
a alma repousa no coração silencioso do real.

Respirar é existir. Mas respirar com consciência é aproximar-se do Ser. A prática do Haṃsa Prāṇāyāma, como apresentada no Śraddhā Yoga, revela que a meditação não começa com o silêncio da mente, mas com a escuta do coração. Meditar, nesse contexto, é abrir-se à amorização universal, designada, tecnicamente, como "bhāvana namaḥ". Em poucas palavras, é disciplinar-se (namaḥ) na escuta do Ser (bhāvana) que nos conduz à realização espiritual. O sopro, então, torna-se comunhão e a vida se transforma em liturgia viva.

O Prāṇāyāma como Três Gestos do Ser

Prāṇaḥ śuddhaḥ satyaḥ dharmaḥ;
“O sopro é pureza, verdade, e dharma.”

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma é mais que respiração consciente: é liturgia do Ser. Cada ciclo é um gesto completo de amor. Inspirar é acolher o Uno; reter é integrar sua luz; expirar é devolvê-la ao mundo. Esses três gestos — pūraka, kumbhaka, rechaka — formam o corpo respiratório da a bússola interior (śraddhā) que traduz o amor em clareza e ação lúcida (dharma).

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma se traduz na arte de amar, expressa como Bhāvana Namaḥ — a prática sutil da escuta do alento vital e da entrega (namaḥ) à vibração do amor universal (bhāvana), que depura o ego ao reconhecer a unidade em todas as coisas. Esse cultivo se inicia com a identificação do prāṇāyāma com o Dhyāna Mantra “Haṃsa”, que pulsa em nossa respiração e nos convida à escuta da voz silenciosa do fogo interior — uma presença que se revela como reconhecimento imediato da realidade sintrópica, Ṛta. Ela nos ensina que não basta apenas conhecer a verdade, mas que é preciso vivenciá-la com fervor, desenvolvendo e adaptando métodos específicos para enfrentar cada novo desafio que a vida nos apresenta. 

Śraddhā Yoga: A Ciência e a Arte do Amor em Ação

Há um sentimento inteligente no alento. Uma consciência que pulsa com cada inspiração, que sustenta a vida como uma oferenda invisível, mas presente em tudo. No Śraddhā Yoga, essa inteligência é denominada prāṇa, mas não como mera energia vital — e sim como vibração viva da brahma-śakti, a potência do Ser em movimento. Respirar é dançar com o cosmos.

Essa dança, no entanto, carece de direção. É aí que surge śraddhā, o impulso do coração que reconhece o sentido da vida mesmo antes de formulá-lo. Onde prāṇa é o fluxo, śraddhā é a direção amorosa. Onde prāṇa é o sopro, śraddhā é o ritmo interior que harmoniza sua música. Juntas, essas forças compõem uma ciência sutil e radical: a ciência do amor como ação vital, silenciosa e transformadora.

2025-06-02

O Haṃsa Prāṇāyāma como o Dhyāna Mantra: A Respiração que nos Revela

Respirar não é apenas viver;
é lembrar-se de quem se é.

1. O voo do cisne e a origem da respiração sagrada

Na tradição védica, o Haṃsa — o cisne branco — é símbolo do Ser que atravessa os mundos sem se manchar. Ele é o paramahasa, aquele que distingue o real do irreal, que nada nas águas da dualidade, mas vive da luz da unidade. 

Mais que uma ave mitológica, o haṃsa é um arquétipo do reconhecimento: o momento em que a alma individual (jīva) desperta para sua identidade com o Espírito universal (Ātman).

Quando respiramos com escuta amorosa, ouvimos esse cisne. Ele pousa no lago do coração e canta: haṁ... saḥ... — o som silencioso da respiração viva. Não se trata de uma técnica criada pela mente, mas do dhyāna-mantra, o mantra natural da meditação no Ser. Todo ser vivo o entoa, mesmo sem saber. O haṃsa-mantra é śuddha dhyāna: meditação pura, espontânea e sagrada.

O Haṃsa Prāṇāyāma e o Dharma: A Respiração como Alinhamento Interior


Respirar não é apenas viver.
É alinhar-se à inteligência do cosmos
em cada gesto do alento.

1. Respirar é sintonizar: Haṃsa Prāṇāyāma como meditação sintrópica

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma não é uma técnica de controle respiratório, mas um rito de alinhamento. Respirar não é apenas manter-se vivo: é participar conscientemente da inteligência que pulsa em tudo.

Essa respiração consciente — descrita na Bhagavad Gītā como oferenda sagrada — alcança sua forma mais pura no Haṃsa Prāṇāyāma: a prática de meditação sintrópica em que o ego é depurado e o alento se consagra ao Ser.

A Síndrome do Impostor e o Teatro da Alma

Karpaṇya-doṣaḥ — a névoa do coração
que anuncia a alvorada da śraddhā.

1. O medo de não ser:
o drama do ego entre svārtha e kārpaṇya-doṣa

“Todo mundo que eu conheço vive a síndrome do impostor.” — disse Jesse Eisenberg. Se até artistas reconhecidos a experimentam, o que dizer dos que trilham o caminho da interioridade?

O Śraddhā Yoga não interpreta essa síndrome como fraqueza, mas como rito iniciático: um limiar entre a ignorância do ego e a humildade da alma.

A sensação de não estar à altura — de ser um personagem disfarçado de si mesmo — é comum àqueles que começam a abandonar as máscaras sem ainda conhecer o rosto por trás delas. Em sânscrito, dois termos nos ajudam a compreender essa travessia: svārtha e kārpaṇya-doṣa.

2025-06-01

A Fábula do Foco e a Escuta Interior

1. A prova do olho do pássaro: o foco como arquétipo

No Ādi Parva (134–135) do Mahābhārata, Dronācārya oferece aos seus discípulos uma lição que se tornaria mítica. Um pássaro de madeira repousa sobre um galho. Os jovens guerreiros, convocados a mirar com o arco, são interrogados pelo mestre. “O que vês?” Alguns veem o pássaro, o galho, a árvore, o céu. Arjuna, porém, responde: “Vejo apenas o olho do pássaro.” Sua flecha atinge o alvo com precisão.

O Som que Respira no Centro


 हंसा हंसा इति आत्मा एव गच्छति।
haṃsā haṃsā iti ātmā eva gacchati
Haṃsa, Haṃsa — assim o Ātman vai e vem.
(Haṃsa Upaniṣad, v. 1)
प्राणो हि जीवनं।
prāṇo hi jīvanam
Pois prāṇa é, de fato, a vida.
(Praśna Upaniṣad 2.4)

Há um som que não nasce do atrito nem da intenção. Ele vibra no âmago do Ser e ecoa em cada sopro de vida. Não é ouvido com os ouvidos, mas com a escuta do coração. Haṃ-saḥ... Haṃ-saḥ... — o cisne interior voa entre inspiração e expiração, trazendo consigo o segredo da meditação viva.

A Alta Performance no Śraddhā Yoga: Do Ego ao Som

Na filosofia sintrópica do Śraddhā Yoga, a expressão “alta performance” não se refere à performance medível por padrões externos, mas à arte de agir em plena consonância com o dharma — a lei do equilíbrio universal (ṛta). Tal performance nasce da sintonia entre manas e buddhi, entre o desejo e a inteligência amorosa, entre o fazer e o ser. Quando a ação se alinha com a sabedoria do coração, ela cessa de ser expressão do ego e se torna gesto do Ser: oferenda, respiração lúcida, arte em estado de verdade.

Assim compreendida, a alta performance é fruto de śraddhā: o ardor luminoso que emana do coração silencioso e que guia o agir. Ela não nasce do esforço de ser perfeito, mas do sentimento intuitivo de ser veículo da perfeição imanente. Como ensina a Bhagavad Gītā (2.50), o verdadeiro yogin é aquele cuja ação se torna arte, cuja prática se transforma em sabedoria, e cujo movimento é guiado pela luz da clareza interior.

2025-05-30

Todo Coração: O Amor Impessoal e a Voz do Ser

Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ
Haṃsa, a respiração do Ser, é a paz do amor em ação.
Que a respiração do Ser nos conduza sempre
ao centro luminoso do coração!
Śāntiḥ Śraddhā. 🌺

1. Todo Coração — Mayakovsky
e o Gesto Sintrópico

Há em Vladimir Mayakovsky, poeta russo, uma expressão viva da cultura sintrópica que o tropicalismo brasileiro começa a manifestar — uma cultura capaz de harmonizar a sabedoria ancestral de todas as raças, a ciência contemporânea e o impulso ordenativo do Espírito. Mayakovsky dizia ser “todo coração”. Assim como ele, reconheço no símbolo do coração o diapasão mais sutil da sintonia entre justiça social e amor.