2025-08-23

Proêmio do Capítulo III — Hṛdaya e Buddhi: o Coração Pensa com Amor; a Mente traduz


Śraddhā quaerens intellectum é o coração que pensa. Não é fé (fides) pedindo prova na mente (manas), mas śraddhā — confiança luminosa — abrindo passagem em hṛdaya (o coração do Ser), de onde a luz se espelha em buddhi; só então a mente discursiva traduz em linguagem, com rigor. Buddhi não emite luz: acolhe a cidābhāsa — consciência refletida, luz participada do Ātman em hṛdaya —; a nitidez dessa aparição cresce com sattva, cultivado pela disciplina.

2025-08-13

🕊️ O Śraddhā Yoga, a Meditação e a Ciência e a Arte do Amor em Ação (Heartfulness)

Convido você a conhecer e salvar entre seus favoritos esta importante referência acadêmica digital dedicada ao surgimento e ao desenvolvimento histórico da arte e da ciência da meditação.

Este livro-blog é fruto de décadas de pesquisa, contemplação e docência — e oferece um conteúdo canônico e original sobre a meditação à luz do yoga puro (śuddha yoga) resgatado pelo Senhor Krishna na Bhagavad Gītā: o Śraddhā Yoga — o Yoga da Convicção Sintrópica, da Escuta Interior e do Amor em Ação.

Aqui, a meditação é compreendida como expressão do foco absoluto do coração (heartfulness), e não apenas como técnica mental. O caminho proposto é sintrópico: integra sabedoria ancestral e rigor contemporâneo, sem abandonar a ternura. 🌿

Neste espaço, você encontrará diversas formas de aprofundar sua jornada:


🔸 1. O Tratado Canônico
Composto por quase 300 artigos organizados ao longo de mais de uma década, este tratado oferece uma abordagem exaustiva da meditação segundo o Śraddhā Yoga.
👉 Para acessá-lo, clique em Sumário no menu principal.


🔸 2. A Apostila da Disciplina UFRJ
Base da disciplina pioneira A Arte e a Ciência da Meditação (CMT014), oferecida desde 2019 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta apostila reúne textos introdutórios ideais para quem busca um alicerce sólido para sua prática.
👉 Clique em ‘Apostila.


🔸 3. Curso Online Aberto (RAS – CMT014)
O Roteiro de Atividades Semanais (RAS) funciona como um verdadeiro curso online gratuito, que estrutura a vivência prática e teórica da meditação ao longo de 12 semanas.
👉 Acesse a seção CMT014: RAS no menu principal.


🔸 4. Exploração Cronológica Livre
Se preferir acompanhar as postagens em sua ordem original, clique em Voltar e use a barra de rolagem vertical.
Ou acesse a coluna da direita, na seção ‘Arquivo do Livro-Blog’, onde as postagens estão organizadas por ano e mês de publicação.





📖 Bem-vindo ao Śraddhā Yoga — um campo fértil de estudo, prática e revelação, onde o foco absoluto do coração orienta cada gesto, cada palavra e cada silêncio.

🌺 Śāntiḥ Śraddhā — Paz & Amor em Ação.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2025

Rubens Turci


(Atualizado em 11.08.25)


Os Cinco Aspectos da Práxis Sintrópica e os seus Mantras



Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ.
Haṃsa, a respiração do Ser,
é a paz do amor em ação.

A disciplina sintrópica do Śraddhā Yoga é um circuito de cinco gestos que estabiliza o coração com  Ṛta: começa no saṃkalpa (o voto que orienta), consagra-se em ṛṣi-nyāsa (a internalização  reverente de um arquétipo da linhagem sagrada), aplica-se em viniyoga (a prática continuamente ajustada às necessidades do momento presente — seja no retorno após uma pausa, seja na personalização atenta), purifica-se em satya tyāga (a dedicação verídica às verdades [satya] experimentadas na aproximação à Consciência Sintrópica Universal) e se mantém em upasthāna (a presença sustentada, que faz de cada minúscula ação uma meditação). Não são etapas estanques: são órbitas que se reforçam mutuamente. O eixo respiratório (haṃsa/so’ham) dá ritmo às passagens; o mantra acende a memória do real; a ação retorna à fonte. Quando o gesto inteiro vibra na mesma clave — propósito, consagração, aplicação, renúncia e presença — a paz não é pausa: é paz em movimento, a clareza que age por amor.

2025-07-28

A Filosofia Sintrópica da Alta Performance

Introdução

Este ensaio inaugura o capítulo sobre a Filosofia Sintrópica da Alta Performance, investigando śraddhā — a convicção sintrópica — como força geradora do foco absoluto, no qual meditação, auto-hipnose e técnica se entrelaçam em uma pedagogia do Ser. Aqui, a performance deixa de ser mera conquista externa para se tornar um retorno ao centro luminoso da consciência.

Diferentemente da alta performance movida pelo esforço competitivo, este caminho propõe um florescimento silencioso, fundado na escuta interior e na confiança profunda. É o coração que foca, não o ego; a alma que se unifica, não o “eu” que se afirma. Por isso, denominamos este percurso como uma filosofia sintrópica da alta performance: uma prática integrativa e contemplativa, onde corpo, mente e técnica convergem no retorno ao Ser.

Foco Absoluto do Coração: Síntese Aforismática sobre a Convicção Sintrópica e a Filosofia da Alta Performance


Prólogo:
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Śraddhā é convicção sintrópica; um saber por
ressonância, não por dedução. Não exige provas,
pois é a própria prova em forma de paz interior.
(Haṃsānugata Sūryadāsa)

Do coração que confia brota o foco autêntico — e da quietude, a maestria. Esta síntese aforismática não propõe uma tese, mas traça um caminho entre sutilezas, onde o sentido floresce em vez de se impor. Não busca convencer, mas iluminar. Cada aforismo é uma respiração; cada comentário, um gesto contemplativo. Aqui, nada se demonstra — tudo se vivencia. Cada frase é uma chave que descerra um espaço interior. Cada espaço revelado, um retorno ao Ser.

Este texto é escuta. Delírio sensato: a intuição que revela imagens quando os pontos se unem. Não é loucura — é fogo nascido da confiança. Jīva, ahaṃkāra, jīvātman: da fragmentação à unidade. Heartfulness é o pulso desse retorno. Por isso, aqui não há argumentos — só um convite. Meditar com palavras. Confiar no Ser. O coração revela o que a mente não vê.

Foco Absoluto do Coração: Aforismos para a Alta Performance Integrada

Anúncio Metodológico

 Do coração que confia, nasce o foco autêntico e a maestria silenciosa. Este ensaio não oferece uma tese, mas desenha um caminho por entre sutilezas, onde o sentido emerge em vez de se impor. A intenção não é convencer, mas irradiar, agindo como um tecido vivo de palavras que revela fragmentos soltos, para que o leitor una os pontos. Cada aforismo é uma respiração, e cada comentário, um gesto contemplativo. O conjunto não se prova, mas se experimenta, pois cada aforismo é uma chave para abrir um espaço interior, e cada espaço revelado é um retorno ao Ser.

2025-07-26

O Coração em Foco: Meditação, Auto Hipnose e a Arte da Alta Performance

Anúncio Metodológico:
Uma Abordagem Aforismática do Foco Absoluto do Coração

1. Este ensaio desenha um caminho de palavras soltas para juntar os pontinhos. Cada aforismo é um gesto contemplativo, uma chave para abrir um espaço interior. 

2. O que guia esta apresentação não é o rigor da razão linear, mas a escuta do coração. Chamo isso de "delírio sensato": uma pedagogia da intuição, onde a imagem só se revela depois que se unem os pontinhos. Um método sutil: não se trata de loucura, mas de foco. O  foco absoluto do coração é a maiêutica da alma, a prática que nos permite dar à luz a uma verdade que não pode ser ensinada, mas apenas revelada por meio da intuição. Trata-se de um caminho que se funda na lógica superior do coração, heartfulness, a via para quem deseja afinar corpo, mente e alma com a vibração do Ser. É essa sintonia que transcende a mera técnica, permitindo que o artista infunda sua performance com a essência de sua própria natureza, manifestando, assim, a verdadeira maestria.

2025-07-20

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (IV)

(Parte I: veja aqui)

IV. Estilo e a Expressão da Essência

IV.1. Estilo: a assinatura da svabhāva purificada

Na estética moderna, “estilo” é a identidade visível de um artista ou escola. No entanto, essa identidade é frequentemente compreendida como um produto cultural — um acordo, uma tendência, uma marca registrada. A Bhagavad Gītā, ao contrário, propõe uma ontologia do estilo: estilo é a forma sensível manifesta sob o selo de qualidade de nossa própria śraddhā. Sua essência não é o ego; é a svabhāva purificada, isto é, a natureza do ser libertada das flutuações dos atributos da natureza material, guṇas, e reorientada pelo dharma. O estilo autêntico, portanto, não é escolha estética nem modismo — é a "expressão inevitável do alinhamento entre o criador e o real".

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (III)


III. Talento, Inspiração e Gênio:
da Natureza à Transcendência

III.1. Talento: a eficácia do svadharma em ação

No vocabulário moderno, “talento” é frequentemente associado à aptidão inata — uma capacidade natural que diferencia certos indivíduos dos demais. Na Bhagavad Gītā, essa ideia encontra um equivalente mais profundo: svabhāva, a natureza constituinte do indivíduo, moldada por suas tendências (saṃskāras), pelas qualidades da matéria (guṇas) e pelo dharma específico a que está atrelado (svadharma). Talento, então, não é mero dom. Ele é a eficácia sintrópica com que o indivíduo realiza sua natureza. Não é estático, nem puramente genético — é uma “potência dinâmica, latente, que se manifesta à medida que a consciência se purifica e alinha-se a Ṛta”.

2025-07-19

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (II)


II. Śraddhā como Motor
do Conhecimento e da Criação

II.1. Śraddhā: a energia do ardor do foco absoluto do coração e a certeza intuitiva daí derivada

No âmago da Bhagavad Gītā pulsa uma palavra que não é apenas conceito, mas vibração ontológica: śraddhā. Muitas vezes traduzida por “fé”, esse termo carrega implicações muito mais profundas que a simples crença em algo invisível ou a adesão a uma doutrina. Śraddhā é, antes de tudo, uma expressão do foco absoluto do coração, o sentimento de certeza interior e confiança luminosa, que não exclui o intelecto, mas o alimenta e o conduz.

Śraddhā Quaerens Intellectum: O Dilema Moderno da Criatividade e o Nascimento de um Novo Paradigma (I)

Introdução — A criatividade e a necessidade de uma revolução epistêmica

Criar, no vocabulário corrente, é produzir algo “do nada”. Esta expressão, carregada de um misticismo secularizado, remonta tanto à ideia teológica de creatio ex nihilo, quanto à noção romântica do gênio espontâneo, que transcende as regras e impõe ao mundo sua assinatura [1]. Porém, a ciência moderna, guiada por um paradigma materialista, não reconhece este “nada” como um vazio fértil, mas como ausência, ruído ou ilusão. Ao mesmo tempo, a mesma ciência se distancia cada vez mais da experiência viva da criação, reduzindo-a a processos cerebrais, algoritmos adaptativos ou replicações sofisticadas.

2025-07-13

Da disciplina quíntupla (pañca-aṅga) da Bhagavad Gītā aos três gestos de reparação (upalakṣaṇas) da Anu Gītā

Ahiṁsā, anutāpa, kṣamā — três flores
da mesma raiz do fogo do coração
.
“Sou a morada dos erros,
sem posses, sem direção.
Sê Tu o meio da minha salvação.”
(Anu Gītā, Mahābhārata, 14.16.17)

Este artigo aprofunda a compreensão da disciplina quíntupla (pañca-aṅga) do Śraddhā Yoga, denominada śraddhā-vṛtti,  à luz dos momentos de crise e queda, revelando os três gestos característicos (upalakṣaṇas) — ahiṁsā (inofensividade), anutāpa (arrependimento purificador) e kṣamā (a disposição interior de absorver, sem julgar ou se abalar, as turbulências externas) — do processo de reparação da perda do foco amoroso do coração.

2025-07-07

HEARTFULNESS: O Foco Absoluto do Coração


Quando se retira os sentidos dos objetos dos sentidos,
assim como a tartaruga recolhe seus membros
para dentro do casco, então se alcança
o Foco Absoluto do Coração.

यदा संहरते चायं कूर्मोऽङ्गानीव सर्वशः ।
इन्द्रियाणीन्द्रियार्थेभ्यस्तस्य प्रज्ञा प्रतिष्ठिता ॥ २.५८॥
(yadā saṃharate cāyaṃ kūrmo'ṅgānīva sarvaśaḥ |
indriyāṇīndriyārthebhyas tasya prajñā pratiṣṭhitā ||)
Bhagavad Gītā 2.58

Quando este (yogin) retira completamente os sentidos
dos objetos sensoriais, assim como a tartaruga
recolhe seus membros para dentro do casco,
então sua prajñā (percepção/sentimento intuitivo)
está firmemente estabelecida.
Bhagavad Gītā 2.58

2025-07-02

A Roda e o Eixo: O Foco Absoluto de Śraddhā

Quando a mente encontra o eixo do coração

A mente é uma roda em movimento. Ela gira, com seus múltiplos raios, revelando as direções da vida material, os caminhos da existência humana e os sentidos que se abrem para a alma. Essa roda é a vṛtti — flutuação, atividade, rotação interior. Movimento inevitável.

Mas há também um centro, um ponto imóvel em torno do qual tudo gira. Esse centro não é vazio. É a sede onde se aloja a presença silenciosa, estabilidade viva, o fogo sutil que ilumina sem se mover: śraddhā, o foco absoluto do coração espiritual.

Assim se inicia a contemplação do eixo e da roda. O eixo é  Ṛta, a ordem do real. A roda são as experiências, os pensamentos, os gestos, os desejos — tudo aquilo que se movimenta e se transforma no fluxo da existência. A espiritualidade não está na negação da roda. Está na sabedoria de conhecer o eixo.

2025-06-30

A Śraddhā-Vṛtti e o Outro de Si Mesmo: O Foco Absoluto como Espelho da Alma

O outro de Si Mesmo como expressão
de um Rṣi do Amigo Divino, de um Siddha de Mitradeva
sem nome fixo, sem dogma.
A Epifania do Arquétipo Sintrópico

A figura é jovem, ocidental, silenciosa. Não carrega turbante nem manto — mas traz um brilho no olhar e, para aqueles que podem perceber, uma luz clara no centro da testa e do peito.

Mais do que um mestre tradicional, ele representa algo além de você mesmo: é aquilo que, em você, olha para você mesmo.

Sua presença é pós-axial — pertence ao tempo da cultura sintrópica, de síntese. 

No Ṛgvedaa divindade da aliança e da harmonia sintrópica universal é Mitra, o amigo solar. Deva, por sua vez, representa a luz, a vibração brilhante do cosmos que se manifesta como consciência.

2025-06-28

Heartfulness: uma releitura radical da auto-hipnose

Dois exemplos de "pombinhos" unidos
pelos laços do matrimônio

Quando o foco se torna amor,
a hipnose se transfigura em escuta.

Este artigo propõe uma reflexão sobre o foco espiritual a partir da metáfora do casamento: o foco técnico, entendido como uma união por interesse, e o foco absoluto, concebido como um matrimônio do coração. Passamos do casamento por interesse — realizado a partir da mente egóica e calculista — ao casamento por amor, que nasce do coração. Quando o foco se transforma em amor, a hipnose deixa de ser mera sugestão para se transfigurar em escuta verdadeira. Navegamos, assim, pelo delicado fio entre a sugestão que cega e a escuta que liberta, explorando referências que vão de Moreira da Silva à Bhagavad Gītāde The Corporation (2003) ao What the Bleep Do We Know!? (2004). A auto-hipnose, quando alicerçada em śraddhā — o fervor lúcido que atua como bússola do foco absoluto, guiando a mente ao coração e à verdade — pode deixar de ser repetição mecânica para tornar-se uma invocação profunda.

2025-06-25

A Escuta Interior na Musicoterapia: Śraddhā e Neurociência

“A arte não muda os fatos; muda os corações.
E corações mudam o mundo.” (Insp. em Leonard Bernstein)

A Música é a Ponte

Há um ponto de convergência onde os saberes se silenciam e escutam uns aos outros. Onde a ciência começa a pressentir o invisível, e a espiritualidade reconhece o valor do método. A arte — especialmente a arte da escuta — é essa ponte, esse antarātmā, esse interstício onde se cruzam a razão e o mistério. E é nesse lugar sutil que floresce a musicoterapia como caminho: um yoga contemporâneo que se serve do som para revelar a luz do coração.

2025-06-09

Anu Gītā — A Perda do Foco Absoluto, A Sabedoria da Retomada e o Ritmo de Viniyoga

Quando a chama se retrai,
o coração aprende a soprar as brasas:
śraddhā é o fogo que jamais se apaga.
Interlúdio: A Perda do Foco Absoluto

Ao abordar viniyoga como sintonia integral com a luz natural do coração, tocamos o ponto sensível do caminho: aquele em que a conexão com o foco se enfraquece, a luz parece se apagar, e o praticante experimenta a queda silenciosa da escuta interior. É nesse intervalo, onde a śraddhā vacila e a presença se dilui, que a Anu Gītā revela sua importância.

O texto a seguir interpreta esse momento como parte essencial do ritmo da retomada. Assim, antes de avançarmos para satya tyāga e upasthāna — os gestos de oferta e reintegração —, deixemo-nos conduzir pela sabedoria da pausa, da ausência e da escuta reacesa. É pela intimidade com o próprio eclipse que o sol interior reaprende a nascer.

SINOPSE

Este artigo retoma o fio invisível entre a Bhagavad Gītā e a Anu Gītā, interpretando a transição da revelação ardente à pedagogia da retomada. Por meio da śraddhā, da respiração e do viniyoga, delineia-se o caminho da restauração interior: do foco absoluto à disciplina viva do Śraddhā Yoga.

2025-06-03

A Meditação como Alento do Ser

Quando a respiração encontra sua origem,
a alma repousa no coração silencioso do real.

Respirar é existir. Mas respirar com consciência é aproximar-se do Ser. A prática do Haṃsa Prāṇāyāma, como apresentada no Śraddhā Yoga, revela que a meditação não começa com o silêncio da mente, mas com a escuta do coração. Meditar, nesse contexto, é abrir-se à amorização universal, designada, tecnicamente, como "bhāvana namaḥ". Em poucas palavras, é disciplinar-se (namaḥ) na escuta do Ser (bhāvana) que nos conduz à realização espiritual. O sopro, então, torna-se comunhão e a vida se transforma em liturgia viva.

O Prāṇāyāma como Três Gestos do Ser

Prāṇaḥ śuddhaḥ satyaḥ dharmaḥ;
“O sopro é pureza, verdade, e dharma.”

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma é mais que respiração consciente: é liturgia do Ser. Cada ciclo é um gesto completo de amor. Inspirar é acolher o Uno; reter é integrar sua luz; expirar é devolvê-la ao mundo. Esses três gestos — pūraka, kumbhaka, rechaka — formam o corpo respiratório da a bússola interior (śraddhā) que traduz o amor em clareza e ação lúcida (dharma).

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma se traduz na arte de amar, expressa como Bhāvana Namaḥ — a prática sutil da escuta do alento vital e da entrega (namaḥ) à vibração do amor universal (bhāvana), que depura o ego ao reconhecer a unidade em todas as coisas. Esse cultivo se inicia com a identificação do prāṇāyāma com o Dhyāna Mantra “Haṃsa”, que pulsa em nossa respiração e nos convida à escuta da voz silenciosa do fogo interior — uma presença que se revela como reconhecimento imediato da realidade sintrópica, Ṛta. Ela nos ensina que não basta apenas conhecer a verdade, mas que é preciso vivenciá-la com fervor, desenvolvendo e adaptando métodos específicos para enfrentar cada novo desafio que a vida nos apresenta. 

Śraddhā Yoga: A Ciência e a Arte do Amor em Ação

Há um sentimento inteligente no alento. Uma consciência que pulsa com cada inspiração, que sustenta a vida como uma oferenda invisível, mas presente em tudo. No Śraddhā Yoga, essa inteligência é denominada prāṇa, mas não como mera energia vital — e sim como vibração viva da brahma-śakti, a potência do Ser em movimento. Respirar é dançar com o cosmos.

Essa dança, no entanto, carece de direção. É aí que surge śraddhā, o impulso do coração que reconhece o sentido da vida mesmo antes de formulá-lo. Onde prāṇa é o fluxo, śraddhā é a direção amorosa. Onde prāṇa é o sopro, śraddhā é o ritmo interior que harmoniza sua música. Juntas, essas forças compõem uma ciência sutil e radical: a ciência do amor como ação vital, silenciosa e transformadora.

2025-06-02

O Haṃsa Prāṇāyāma como o Dhyāna Mantra: A Respiração que nos Revela

Respirar não é apenas viver;
é lembrar-se de quem se é.

1. O voo do cisne e a origem da respiração sagrada

Na tradição védica, o Haṃsa — o cisne branco — é símbolo do Ser que atravessa os mundos sem se manchar. Ele é o paramahasa, aquele que distingue o real do irreal, que nada nas águas da dualidade, mas vive da luz da unidade. 

Mais que uma ave mitológica, o haṃsa é um arquétipo do reconhecimento: o momento em que a alma individual (jīva) desperta para sua identidade com o Espírito universal (Ātman).

Quando respiramos com escuta amorosa, ouvimos esse cisne. Ele pousa no lago do coração e canta: haṁ... saḥ... — o som silencioso da respiração viva. Não se trata de uma técnica criada pela mente, mas do dhyāna-mantra, o mantra natural da meditação no Ser. Todo ser vivo o entoa, mesmo sem saber. O haṃsa-mantra é śuddha dhyāna: meditação pura, espontânea e sagrada.

O Haṃsa Prāṇāyāma e o Dharma: A Respiração como Alinhamento Interior


Respirar não é apenas viver.
É alinhar-se à inteligência do cosmos
em cada gesto do alento.

1. Respirar é sintonizar: Haṃsa Prāṇāyāma como meditação sintrópica

No Śraddhā Yoga, o prāṇāyāma não é uma técnica de controle respiratório, mas um rito de alinhamento. Respirar não é apenas manter-se vivo: é participar conscientemente da inteligência que pulsa em tudo.

Essa respiração consciente — descrita na Bhagavad Gītā como oferenda sagrada — alcança sua forma mais pura no Haṃsa Prāṇāyāma: a prática de meditação sintrópica em que o ego é depurado e o alento se consagra ao Ser.

A Síndrome do Impostor e o Teatro da Alma

Karpaṇya-doṣaḥ — a névoa do coração
que anuncia a alvorada da śraddhā.

1. O medo de não ser:
o drama do ego entre svārtha e kārpaṇya-doṣa

“Todo mundo que eu conheço vive a síndrome do impostor.” — disse Jesse Eisenberg. Se até artistas reconhecidos a experimentam, o que dizer dos que trilham o caminho da interioridade?

O Śraddhā Yoga não interpreta essa síndrome como fraqueza, mas como rito iniciático: um limiar entre a ignorância do ego e a humildade da alma.

A sensação de não estar à altura — de ser um personagem disfarçado de si mesmo — é comum àqueles que começam a abandonar as máscaras sem ainda conhecer o rosto por trás delas. Em sânscrito, dois termos nos ajudam a compreender essa travessia: svārtha e kārpaṇya-doṣa.

2025-06-01

A Fábula do Foco e a Escuta Interior

1. A prova do olho do pássaro: o foco como arquétipo

No Ādi Parva (134–135) do Mahābhārata, Dronācārya oferece aos seus discípulos uma lição que se tornaria mítica. Um pássaro de madeira repousa sobre um galho. Os jovens guerreiros, convocados a mirar com o arco, são interrogados pelo mestre. “O que vês?” Alguns veem o pássaro, o galho, a árvore, o céu. Arjuna, porém, responde: “Vejo apenas o olho do pássaro.” Sua flecha atinge o alvo com precisão.

O Som que Respira no Centro


 हंसा हंसा इति आत्मा एव गच्छति।
haṃsā haṃsā iti ātmā eva gacchati
Haṃsa, Haṃsa — assim o Ātman vai e vem.
(Haṃsa Upaniṣad, v. 1)
प्राणो हि जीवनं।
prāṇo hi jīvanam
Pois prāṇa é, de fato, a vida.
(Praśna Upaniṣad 2.4)

Há um som que não nasce do atrito nem da intenção. Ele vibra no âmago do Ser e ecoa em cada sopro de vida. Não é ouvido com os ouvidos, mas com a escuta do coração. Haṃ-saḥ... Haṃ-saḥ... — o cisne interior voa entre inspiração e expiração, trazendo consigo o segredo da meditação viva.

A Alta Performance no Śraddhā Yoga: Do Ego ao Som

Na filosofia sintrópica do Śraddhā Yoga, a expressão “alta performance” não se refere à performance medível por padrões externos, mas à arte de agir em plena consonância com o dharma — a lei do equilíbrio universal (ṛta). Tal performance nasce da sintonia entre manas e buddhi, entre o desejo e a inteligência amorosa, entre o fazer e o ser. Quando a ação se alinha com a sabedoria do coração, ela cessa de ser expressão do ego e se torna gesto do Ser: oferenda, respiração lúcida, arte em estado de verdade.

Assim compreendida, a alta performance é fruto de śraddhā: o ardor luminoso que emana do coração silencioso e que guia o agir. Ela não nasce do esforço de ser perfeito, mas do sentimento intuitivo de ser veículo da perfeição imanente. Como ensina a Bhagavad Gītā (2.50), o verdadeiro yogin é aquele cuja ação se torna arte, cuja prática se transforma em sabedoria, e cujo movimento é guiado pela luz da clareza interior.

2025-05-30

Todo Coração: O Amor Impessoal e a Voz do Ser

Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ
Haṃsa, a respiração do Ser, é a paz do amor em ação.
Que a respiração do Ser nos conduza sempre
ao centro luminoso do coração!
Śāntiḥ Śraddhā. 🌺

1. Todo Coração — Mayakovsky
e o Gesto Sintrópico

Há em Vladimir Mayakovsky, poeta russo, uma expressão viva da cultura sintrópica que o tropicalismo brasileiro começa a manifestar — uma cultura capaz de harmonizar a sabedoria ancestral de todas as raças, a ciência contemporânea e o impulso ordenativo do Espírito. Mayakovsky dizia ser “todo coração”. Assim como ele, reconheço no símbolo do coração o diapasão mais sutil da sintonia entre justiça social e amor.

2025-05-25

A Meditação Sintrópica e o Foco na Alta Performance Musical: Uma Abordagem que Vai Além da Técnica

Do Foco Técnico ao Foco Vibracional:
A Meditação Sintrópica como
Arte de Escutar o Ser

Dando continuidade ao texto anterior sobre yogyatā e rasa, este novo ensaio explora as diferenças entre mindfulness, hipnose e a meditação sintrópica proposta pelo Śraddhā Yoga. Aqui, o foco não é uma técnica isolada, mas um estado vibracional — resultado de um alinhamento entre intenção, presença e Ser. Em vez de propor fórmulas, o texto aponta um caminho vivo: o do praticante que, guiado por śraddhā, descobre a arte de tocar com o coração em ressonância com o ritmo do real.

2025-05-24

ANEXO 6. Porta de Entrada à Meditação Sintrópica: Uma Leitura Contemplativa do Śraddhā Yoga

Este anexo reúne uma série de reflexões breves e definidoras sobre aspectos essenciais do Śraddhā Yoga, tal como ele se revela na Bhagavad Gītā. Apresentadas em forma de respostas, proposições ou iluminações simbólicas, essas entradas têm valor tanto didático quanto meditativo. Elas não visam substituir o estudo aprofundado dos capítulos anteriores, mas servir como ponto de entrada, de consulta e de reapreciação daquilo que, em última instância, deve ser vivido, não apenas compreendido.

Estrutura do Anexo
  1. O que devo fazer para me conhecer? Krishna revela a Draupadi os Cinco Pilares da Cultura Sintrópica.
  2. O que é o Manifesto Śuddha? Reflexões sobre a mensagem de Bhagavān Nārada.
  3. O que é a Cultura Sintrópica de Paz e Amor? A Bhagavad Gītā como uma expressão da Filosofia Sintrópica e da unidade essencial das religiões.
  4. Qual o papel da Bhāṣyopetā de Haṃsa Yogi na tradição da Bhagavad Gītā? O "pseudo-problema" ocasionado pela publicação deste "comentário-guia".
  5. O que é a prática do Bhāvana? O desenvolvimento do sentimento universal de amor de que todas as coisas surgem do Supremo Espírito, que a tudo compenetra e a tudo sustém em uma ordem constante e em vida eterna.
  6. O que é a ação (karma) à luz dos Seis Deveres Diários? A disciplina que pressupõe a renúncia (samnyāsa) ao fruto das ações e o desligamento de todas as coisas que impedem a consagração de si mesmo à manifestação da Vontade Suprema.
  7. O que é Sākṣī? A Metáfora da Pessoa Humana e do Espírito Universal que a Anima.
  8. O que é Meditação Sintrópica? A meditação que tem início no silencioso recolhimento das madrugadas e se prolonga pelo dia como expressão de uma contínua meditação na ação, com atenção plena e foco no aspecto de sagrado de cada minúscula experiência que a vida nos reserva.
sarvaṁ karma akhilaṁ pārtha jñāne parisamāpyate
“Ó Pārtha, toda ação culmina no conhecimento.” (BhG 4.33)


Rio de Janeiro, 24 de maio de 2025.

2025-05-23

Yogyatā, Rasa e Śraddhā: O Ensaio como Caminho da Alta Performance Artística e Espiritual

Entre Técnica e Transcendência:
O Ensaio como Caminho

Os dois textos que se seguem formam uma espécie de díptico — duas faces complementares de uma mesma travessia. De um lado, o ensaio como rito interior, caminho de lapidação espiritual e oferenda devocional (yajña) — onde o artista se torna templo e instrumento de algo maior. De outro, a meditação sintrópica como método aplicado à alta performance, em diálogo direto com práticas contemporâneas como o mindfulness e a hipnose.

Longe de opor arte e espiritualidade, estes textos mostram que é apenas quando ambas se entrelaçam — técnica e śraddhā, disciplina e presença — que o gesto performativo se transmuta em expressão do Ser. O palco, então, deixa de ser um lugar de julgamento para se tornar espaço de epifania.

Que este itinerário — do ensaio à oferenda, do foco funcional ao foco vibracional — sirva de inspiração para todos os que buscam afinar sua existência com a música silenciosa do real.

2025-05-21

O Espírito da Obra: śraddhā e a meditação como cultura do coração

O objetivo principal das práticas de meditação descritas nesta obra é nutrir o praticante de śraddhā, o amoroso sentimento sintrópico que, como uma bússola interior, ilumina a razão em direção à Verdade e ao Absoluto (Brahma-sāmīpya). É essa energia afetuosa e integradora que conduz da realidade ilusória (saṁsāra) à realidade sagrada (nirvāṇa), à medida que se aprofunda a compreensão de Ṛta — a lei universal que harmoniza os processos entrópicos da matéria inorgânica com os fluxos sintrópicos da vida espiritual e orgânica.

2025-05-20

Guia Prático de Śraddhā Yoga (Heartfulness — A Meditação do Coração)

“A teoria é como a seta no arco.
A prática é o disparo silencioso que acerta o centro do Ser.”

Este anexo reúne os principais textos práticos e litúrgicos do Śraddhā Yoga — um caminho de escuta, fervor e ação sintrópica. Sua disposição não é arbitrária: reflete um percurso interior que parte do recolhimento no coração (hṛdaya), onde o fogo interior (śraddhā) simboliza o altar que culmina na oferenda meditativa que une respiração, consciência e presença.

Tal itinerário encontra fundamento direto na Bhagavad Gītā, que declara: śraddhāvān labhate jñānaṁ. “Aquele que tem śraddhā alcança o conhecimento.” (BhG 4.39)

E ainda: yoginām api sarveṣāṁ mad-gatenāntar-ātmanā / śraddhāvān bhajate yo māṁ sa me yuktatamo mataḥ. “Entre todos os yogis, aquele que, com śraddhā, habita em Mim no mais íntimo do ser, esse é, aos Meus olhos, o mais completo— yuktatamaḥ." (BhG 6.47)

2025-05-19

Além do Foco: Da Atenção Plena à Heartfulness — A Meditação Sintrópica do Śraddhā Yoga

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De mindfulness a kindfulness,
até chegar ao heartfulness — a bússola interior,
que conduz a mente de volta ao coração,
 onde brilha o eixo do Ser.
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1. Introdução: O Sucesso e os Limites do Mindfulness

Nas últimas décadas, a meditação conquistou espaço nos centros de saúde, empresas e universidades ocidentais. Boa parte desse reconhecimento deve-se à popularização do mindfulness, uma adaptação contemporânea de práticas meditativas orientais, especialmente budistas, promovida por Jon Kabat-Zinn e outros pesquisadores. Seu sucesso está relacionado à promessa de alívio do estresse, regulação emocional e bem-estar psicológico.

2025-05-09

Entre Édipo e Arjuna: A Tragédia Grega e o Épico Indiano como Caminhos da Consciência

I. O destino e o coração

Há um ponto de convergência entre o Ocidente e o Oriente que permanece velado ao olhar superficial: o cruzamento entre a tragédia grega e o épico indiano. De um lado, Édipo Rei, de Sófocles; de outro, o Mahābhārata, com seu núcleo luminoso, a Bhagavad Gītā. Ambas as obras abordam o enigma do destino humano, ambas colocam o ser humano diante da dor, da revelação e do autoconhecimento. Mas o caminho que cada uma propõe é radicalmente distinto.

A tragédia busca a purgação (katharsis); o épico, a iluminação (prajñā). A primeira revela a impotência diante do fado; o segundo revela a liberdade possível a partir da confiança no coração (śraddhā).

2025-05-05

Śraddhā-vṛtti: o Néctar da Práxis Sintrópica


"Aquele que possui śraddhā nunca se perde" (BhG 6.40).
Pois śraddhā é o gesto sintrópico da alma em direção ao Espírito;
um sopro de unificação que pulsa no ritmo da nossa própria respiração.
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O coração como via de prática

No caminho do Śraddhā Yoga, a guia não é o desejo individual ou a vontade solitária. É a vibração mais íntima do coração, quando este se alinha com a Grande Lei Cósmica (Ṛta), o Dharma vivo. Essa vibração é śraddhā, néctar existencial que brota do encontro entre o que somos e o que pressentimos como verdadeiro. Segundo a Bhagavad Gītā (6.40-47), quem possui śraddhā nunca se perde, porque ela é ta em movimento. Quem age com śraddhā — sem desejo por frutos — está, literalmente, respirando Brahman, conforme vimos anteriormente. Esse néctar (rasa) essencial que flui do coração amoroso, por ser vivo — e não uma substância estática — se move, flui. E esse fluxo, essa modulação interna do nosso ser, é o que chamamos de śraddhā-vṛtti.

2025-05-03

O Zen da Psicanálise e o Śraddhā Yoga: Entre a Sombra e a Transfiguração

Resumo

Este artigo propõe uma análise comparativa entre duas abordagens contemporâneas da espiritualidade e da subjetividade: de um lado, as vertentes mais espiritualizadas da psicanálise, aqui denominadas de forma sintética como "zen psicanálise"; de outro, o Śraddhā Yoga, fundamentado na Bhagavad Gītā e desenvolvido como disciplina sintrópica. Utilizando os mantras simbólicos "OM NAMO TANTRE" e "OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA", investiga-se a distinção entre uma espiritualidade libidinal centrada no desejo e na sombra, e uma espiritualidade transfiguradora centrada na clareza interior e na ordem cósmica (Ṛta). O artigo dialoga com autores como Claudio Naranjo, D. Winnicott, C. G. Jung e Jacques Lacan, discutindo também os limites da psicologia transpessoal.

2025-04-27

A Psicanálise como Fruto do Ateísmo Judaico-Cristão: A Anti-Psicanálise como uma Expressão do Śraddhā Yoga da Bhagavad Gītā

1. Introdução — Entre o Divã e o Assento da Consciência

O surgimento da psicanálise, ao final do século XIX, marca um ponto de inflexão na história da relação do Ocidente com o sofrimento humano. Em um contexto de crescente secularização, onde o questionamento da fé e a ênfase na razão individual ganhavam força, Freud, neurologista e homem de seu tempo, transformou o antigo confessionário religioso no novo divã secular, transferindo o espaço da busca pela redenção para o espaço da análise do desejo reprimido.

A escuta clínica substituiu a absolvição sacramental, e a narrativa biográfica passou a ocupar o lugar do exame de consciência, embora essa substituição, talvez inconscientemente, carregasse consigo algumas das dinâmicas de busca por sentido e alívio da angústia. Este movimento de laicização das dores da alma, porém, permaneceu enraizado em uma ontologia materialista, herdeira de um contexto cultural pós-religioso que poderíamos denominar ateísmo judaico-cristão moderno em que a experiência transcendente perde centralidade e o Eu, isolado em sua subjetividade, sente-se perdido.

2025-04-25

Śraddhā Yoga Svatantra: Viniyoga, Anti-Psicanálise e o Domínio da Luz Interior

“Quando sei quem sou, eu e você somos Um.​" 
(Hanumān, no Rāmāyaṇa)
Este artigo marca uma inflexão teórica no desenvolvimento do Śraddhā Yoga Svatantra, ao apresentar os cinco pilares de heartfulness como uma via espiritual que transcende o paradigma psicanalítico moderno.

Em vez de tratar os conflitos interiores como pulsões que precisam ser interpretadas, o Śraddhā Yoga propõe uma práxis sintrópica que antecipa as quedas e orienta o ser à luz da verdade interior (Ṛta).

Articulando de forma original cinco fundamentos1 do Śraddhā Yoga – saṃkalpa, ṛṣinyāsa, viniyoga, satya tyāga e upasthāna  – , este ensaio ilumina também o ponto de interseção e ruptura entre bhakti e śraddhā, revelando como a confiança ardente e o sentimento intuitivo de certeza testada racionalmente (cogito) não depende da devoção à forma, mas da escuta silenciosa do Ser.