Śraddhā Quaerens Intellectum
como superação da cisão
fides–cogito
A filosofia ocidental moderna nasceu de uma cisão: de um lado, o cogito cartesiano — a razão pura como árbitro da verdade; de outro, o fides — a fé e o sentimento relegados à subjetividade. Essa ruptura, consolidada por Kant, tentou fundar uma moralidade universal na razão, mas ao custo de exilar o coração. A partir daí, o pensamento europeu produziu uma ética lógica, mas inorgânica; coerente, porém incapaz de compreender o calor e o paradoxo da experiência humana.
Dentro dessa tradição, Newton da Costa representa um avanço singular. Ao propor a intuição racional, ele reconhece um domínio pré-lógico da mente — um espaço intermédio entre regra e imaginação, onde o pensamento vislumbra o que ainda não pode provar. Essa “razão que pressente” é o primeiro passo para reintegrar o mistério ao pensamento.
No entanto, mesmo esse avanço permanece no horizonte kantiano: trata-se de uma tentativa do intelecto de libertar-se de suas próprias amarras, mas ainda dentro de sua gramática. É precisamente aqui que o Śraddhā Yoga propõe um novo paradigma: Śraddhā Quaerens Intellectum — a Confiança Convicta Buscando o Entendimento. A expressão une o sânscrito e o latim para indicar um gesto de reconciliação: śraddhā, a confiança luminosa do coração, e Intellectum, o rigor do discernimento. O primeiro oferece calor, o segundo clareza. O conhecimento, então, deixa de ser mera análise: torna-se comunhão lúcida com o real.
Śraddhā não é crença cega — é atenção amorosa ao ritmo do Real, confiança lúcida na ordem viva do cosmos (Ṛta). E o Intellectum, longe de ser razão fria, torna-se o método do discernimento: o filtro rigoroso pelo qual a convicção se purifica e se torna sabedoria.
Dessa forma, o Śraddhā Yoga completa o movimento iniciado pela intuição racional: ele a transcende e a integra. O que Newton da Costa esboçou em termos lógicos — a possibilidade de uma ciência que acolhe contradições e reconhece o múltiplo — o Śraddhā Yoga realiza em termos ontológicos: a consciência não apenas tolera a complexidade, mas vibra com ela, reconhecendo na ambiguidade o próprio pulso do Ser.
Quando Fritjof Capra descreve o universo como organismo vivo e não máquina, ele toca o mesmo princípio que o Śraddhā Yoga enuncia: o jīva não é átomo isolado, mas escala viva da Consciência Universal. A criação não é invenção do ego, mas revelação sintrópica do Ser.
Assim se delineiam os três eixos de uma epistemologia integral:
- A Intuição Racional (Ocidente) — perceber antes de provar.
- A Meditação Límpida (Oriente) — recolher o coração e reconhecer o Ser.
- A Sintropia** (Nova Ciência) — compreender a convergência de todos os níveis, a harmonia de todas as escalas.
O Śraddhā Yoga não rejeita a ciência — ele a reconsagra. A matemática, a física e a biologia tornam-se câmaras de eco do mesmo mantra: a consciência fractal que respira em tudo.
Por isso, se a intuição racional representa o primeiro lampejo — o instante em que o pensamento antecipa a prova — Śraddhā quaerens Intellectum representa o método vivo da busca: o ponto onde conhecimento e convicção se tornam um só gesto — a ciência que medita e a meditação que conhece.
Nesse entrelaçar, o Śraddhā Yoga Svatantra revela sua natureza tripla: ciência, filosofia e rito unificados — a síntese perfeita entre o Yoga do Coração que pensa e a Ciência do Espírito que ama.
