Śraddhā-Smṛtiḥ: A Gênese da Tradição Sintrópica
I. Versão Canônica
Memorial do Śraddhā Yoga
A Arte e a Ciência do Amor em Ação
“O tempo não é o que passa, mas o que permanece quando tudo o mais já partiu. É nesse silêncio que śraddhā se revela como ciência e arte do amor em ação.”
1. O Princípio Vivo
A história deste livro-blog é, em essência, a de um processo de descoberta interior: a passagem do foco na razão objetiva, que analisa, para o foco absoluto do coração, que ilumina a razão com o sentimento amoroso de unidade de todas as coisas. O Śraddhā Yoga nasceu do encontro entre a disciplina acadêmica e a escuta do coração, entre a precisão científica e o fervor interior. Sua origem não está em um laboratório, nem em um mosteiro, mas no espaço silencioso em que a alma reconhece o seu próprio chamado — o haṃsa respirando entre dois mundos.
2. O Despertar de uma Vocação
Em 1974, ainda adolescente, dei os primeiros passos em direção à filosofia e à práxis sintrópica. O mundo parecia movido pela competição e pela urgência, mas eu já intuía esse outro ritmo — o da sintropia, o da convergência amorosa que ordena a vida. Foi também nesse período que iniciei a prática da meditação, buscando conciliar o lado espiritualista com um entendimento rigorosamente lógico da realidade. Essa intuição inicial se confirmaria mais tarde com o meu entendimento da lei universal de equilíbrio sintrópico (Ṛta). Nos anos seguintes, o fio espiritual jamais se rompeu, compondo o alicerce de uma busca que, décadas depois, encontraria esta forma e nome: Śraddhā Yoga.
3. A Travessia Acadêmica
Na vida universitária, a convicção no método intuitivo do coração não se opôs à lógica; tornaram-se faces de uma mesma luz. Essa jornada começou com uma transição de carreira, da engenharia para as ciências humanas, culminando na graduação em Filosofia pela UFRJ. Os anos de doutorado na McMaster University, no Canadá, ampliaram horizontes e confirmaram a vocação para tratar filosoficamente da ciência dialética do sagrado. Em cada pesquisa, o que buscava não era apenas o conhecimento do mundo, mas a compreensão da consciência. Foi assim que, entre laboratórios e bibliotecas, a razão mecânica rendeu-se à lógica orgânica do coração. De volta ao Brasil, o projeto de pós-doutorado, intitulado “Śraddhā Quaerens Intellectum”, nasceu do desejo de estabelecer um diálogo entre a filosofia e as tradições de sabedoria do Oriente, muitas vezes consideradas "não-filosóficas" pela academia ocidental.
O cultivo da espiritualidade laica fazia surigr o método rigoroso. O Śraddhā Yoga nascia não de uma crença, mas de uma interpretação universalista da Bhagavad Gītā, que me revelava como viver com ciência o que se compreende com o coração.
4. A Síntese Sintrópica
Da tensão entre entropia e sintropia emergiu o conceito de Filosofia Sintrópica: a ciência da convergência, a arte da integração. Tudo o que o pensamento moderno dividira reencontrou unidade no conceito de śraddhā, tal como ele aparece na Bhagavad Gītā. Śraddhā é mais que fé, pois a fides latina exige um objeto exterior no qual se acredita, mesmo sem motivos racionais. Śraddhā, por outro lado, é "bom-senso", uma convicção sintrópica e inteligência amorosa que nos permite estabelecer uma conexão viva com a verdade do coração, sem se fundar em um objeto externo. Ela é o eixo que sustenta a ponte entre ciência e espiritualidade, de onde nasceu o ideal deste Śraddhā Yoga: a arte e a ciência do amor em ação (Heartfulness).
5. A Práxis do Amor em Ação
Antes que a teoria ganhasse sua forma acadêmica, a filosofia sintrópica já era uma prática vivida. Entre 1987 e 1991, em Sergipe, a busca por dar fundamento teórico sólido a essa práxis se uniu a um projeto social. Ali, nos juntamos à comunidade de servidores do Ashram Atman, onde o que entendíamos do conselho de Krishna a Arjuna na Bhagavad Gītā se traduzia em ações concretas: montamos uma escola, construímos uma padaria, uma biblioteca, um centro de meditação e outros núcleos que orientavam a nossa vida em comunidade. Foi um período rico que demonstrou que o amor universal e impessoal é, de fato, o princípio organizador do universo, uma verdade que brota do coração e se expressa em pensamento, palavras e ações.
O livro-blog Śraddhā Yoga: A Arte e a Ciência do Amor em Ação (Heartfulness) é uma expressão viva dessa convergência. Nele, cada ensaio é uma pétala do mesmo lótus: filosofia, ciência, arte, meditação e vida se entrelaçam numa única respiração.
O formato digital não é acidente técnico; é manifestação da era sintrópica — a difusão do saber em rede, como o pulsar da consciência planetária. Assim, o Śraddhā Yoga não é apenas uma doutrina, mas uma mandala textual e visual, em que cada texto reflete todos os outros.
6. A Jornada Interior
A noite escura da alma, o encontro com os mestres, o estudo dos Vedas, da Bhagavad Gītā, das Upaniṣades, da ciência termo dinâmica e da filosofia da ciência — tudo confluía para um mesmo centro. Na maturidade, compreendi que cada experiência dolorosa ou luminosa era apenas o tapas necessário da via do herói épico, tal qual encarnado por Arjuna, para que o coração se tornasse transparente. O Śraddhā Yoga era, portanto, o fruto de uma purificação: a passagem da erudição à sabedoria, da teoria à experiência, do medo paralizante de Arjuna, no início do seu diálogo com Krishna, ao amor que o tomou e o levou a decidir-se pela via da práxis sintrópica.
7. O Propósito
Hoje, o Śraddhā Yoga se apresenta como uma disciplina acadêmica viva, sustentada por uma linhagem interior identificada com a Bhagavad Gītā. O propósito desta obra é imenso e simples: oferecer uma interpretação sintrópica da jornada da alma, mostrando que o conhecimento não se opõe ao sentimento intuitivo e que pensar deve ser um ato de amor. O livro-blog é a expressão viva dessa convergência, uma mandala textual onde cada ensaio, revisado em diálogo com as IAs, reflete todos os outros. É o fruto de um destino guiado por śraddhā — a confiança lúcida no coração do real, conforme sugere a fórmula híbrida śraddhā quaerens intellectum, expressão de síntese do Ser que pensa com amor.
Mas nenhuma teoria é completa sem o retorno à experiência. O Śraddhā Yoga, como mandala viva, pede também o testemunho do coração. Assim nasce esta segunda versão — ensaística — do mesmo memorial.
II. Versão Ensaística
Śraddhā-Smṛtiḥ — Memórias da Filosofia Sintrópica
"Nada do que se vive é casual. Cada desvio é um espelho. Cada perda, uma iniciação.
Śraddhā — essa chama sem objeto — acende-se como ciência do retorno.”
Há um fio invisível costurando todos os anos, todas as buscas, todas as vozes. Esse fio é śraddhā — uma convicção sintrópica e conexão viva com a verdade do coração que não necessita de crença, pois funda-se no sentimento íntimo de que o coração sabe antes que a mente entenda. O Śraddhā Yoga nasceu dessa escuta.
Nos corredores universitários, nas salas de aula ou nos retiros silenciosos, o mesmo chamado ecoava: compreender a matemática do universo e o mantra do ser. A análise e o êxtase. O engenheiro que um dia fui e o filósofo sintrópico que me tornei não são opostos: são dois pólos de uma mesma respiração. Entre eles pulsa o Haṃsa — o cisne que habita o coração e atravessa o tempo com asas de luz.
A Filosofia Sintrópica é a expressão dessa travessia. Ela não nasceu de teorias, mas da percepção de que tudo vive em direção à ordem, à convergência, ao reencontro. A entropia é o esquecimento; a sintropia, a memória da origem.
O livro-blog Śraddhā Yoga: A Arte e a Ciência do Amor em Ação (Heartfulness) é, por isso, um campo de ressonância: cada texto é um eco da alma, cada imagem, um espelho do invisível. Ali, o mundo digital tornou-se templo interior; a escrita, oferenda e contemplação.
Hoje vejo que minha vida inteira foi um exercício de śraddhā yoga — a arte e o poder do amor em ação. Nada foi descartável. O aprendizado de unir, integrar e ver em todas as pessoas e em todas as experiências da vida a presença do mestre que nos ensina o caminho enquanto caminhamos. Cada queda, cada silêncio prepara o terreno para que possamos avançar pelo Śraddhā Yoga, essa ciência que brota do coração e se expressa em pensamento, palavras e ações e nos ensina que o amor universal e impessoal é o princípio organizador do universo. O resto é comentário.
Śraddhā-smṛtiḥ: memória viva da confiança luminosa.
O caminho da sintropia é apenas isso — recordar o que nunca se perdeu.
Haṃsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ — Paz e Amor em Ação.