2024-04-14

Primeiro Ser, depois Fazer e, só então, Dizer (08/08)

Ao regressar para se encontrar com o presidente, este o recebeu com cordialidade. Ele o convidou a sentar-se e agora ele pode notar a harmonia e a energia que se irradiava do ambiente. O presidente, então, dirigiu-se a ele querendo saber como estava sendo a sua experiência e o seu aprendizado sobre a gestão sintrópica. Este então manifestou a sua perplexidade com a simplicidade e eficácia do programa, mas disse também que ainda tinha duas dúvidas principais. Quis saber o porquê de um método, aparentemente tão simples, ser tão eficaz.  Ouviu em resposta que era próprio do programa de gestão sintrópica que este fosse nos concedendo as respostas a estas perguntas na exata medida do nosso progresso e aprimoramento, que não tem limites, uma vez que a aproximação às suas verdades se dá de forma assimptótica, segundo a máxima “entrarás no seio da luz, mas jamais tocarás a chama”. Poderia, portanto, apenas partilhar um pouco daquilo que ele mesmo já descobrira. Deixa o jovem à vontade para lhe perguntar o que desejar. E este, então, diz:

“Bem, quando o senhor se refere à gestão sintrópica da energia do ambiente isto quer dizer, realmente, que quando a consciência sintrópica se instala, tudo o que o senhor tem a fazer é zelar pela sua manutenção e que isto pode ser feito de forma progressivamente subjetiva, com toda a parte objetiva ficando sob a responsabilidade da sua equipe? A sua atenção estaria então progressivamente voltada para os “sinais” de harmonia ou de desarmonia, levando-o a intervir, unicamente, com o necessário para o restabelecimento da harmonia?”

       “Nem sempre, mas, basicamente, é isso. Chegar a ser um gestor sintrópico não é tão difícil como parece. Gerenciar pessoas e recursos não é tão difícil desde que as pessoas estejam aprendendo, progressivamente a gerenciarem a si mesmas e aos recursos sob a sua responsabilidade com sincronia, sinergia e sintropia. Vou lhe mostrar o quadro que conservo na parede.”

O jovem pode então prestar atenção no conhecido símbolo Haṃsa, presente em quase todas as culturas e com um simbolismo bastante aproximado em quase todas elas.

“Observe esta mão simétrica, que não conseguimos distinguir se representa a esquerda ou a direita, onde o polegar e o dedo mínimo são indistinguíveis. Observe este olho no centro da palma da mão. Esta mão representa a nossa capacidade de trabalhar buscando a maestria (BhG 2.50) e este olho representa o nosso Espírito, a nossa energia e aquilo que nos conecta e identifica com todo o grupo (BhG 18.66). É por onde se manifesta o nosso poder de ação, regeneração e cura e o quanto já conhecemos e vivemos da consciência de Haṃsa. Os cinco dedos representam os nossos cinco sentidos sob o domínio e controle da consciência de Haṃsa. Quando juntamos as nossas mãos, como no ato de prece, o fazemos trazendo à nossa mente e ao nosso ambiente um pouco desta energia sintrópica que nos conecta e unifica a todos. Literalmente, a expressão “Haṃ-sa” significa “Eu sou (‘haṃ) Aquilo (sa)”. O termo “Haṃsa” significa “cisne” e representa o Espírito (Ātman), ou seja, "o fogo ardente do coração" ou "a presença da paz e do amor em ação".  A tradição do yoga afirma que o assento da energia, onde ressoa a nossa própria respiração, conforme, simbolizado por “Haṃsa”, oculta-se entre as sobrancelhas, no Ājñā Chakra, o ponto de encontro dos canais de energia divina e sintrópica (Brahma Śakti), conhecidos como Iḍā e Piṅgala. O equilíbrio sintrópico e a harmonia geral do indivíduo resultam da interação entre Iḍā e Piṅgala no ponto entre as sobrancelhas, no Ājñā Chakra. Este chakra é considerado o centro da visão sintrópica e da percepção do sagrado. É nisto que eu invisto. E como sou um com a minha equipe, invisto também para que esta mesma consciência organize e dirija o funcionamento de todos até o ponto de que esta energia, esta consciência, siga presente e atuante, mesmo na minha ausência. O que é irônico é que as grandes corporações invistam quase a metade dos seus recursos em salários e, contudo, quase nada investem na formação da consciência sintrópica dos seus quadros. E, sem ela, com frequência, sequer sabemos o que nos compete fazer e o que os nossos gestores esperam de nós. A consciência sintrópica nos dá o poder e a liberdade de agir onde houver necessidades e de forma harmoniosa, sincrônica e sinergética, sem prejudicar os resultados e a motivação dos  nossos pares e superiores. Pelo contrário ela funciona como um força motriz capaz de alavancar todos os processos. Quando estamos em harmonia com a consciência que rege a nossa egrégora, sempre sabemos o que fazer e sabemos, principalmente, quando estamos fazendo o nosso melhor, buscando a maestria, pois é somente este exercício que nos faz avançar assintoticamente para a consciência sintrópica, o referencial maior para a análise de desempenho e de todos os nossos resultados.”

“Isto é muito interessante! Pelo que sei da sabedoria ancestral, os símbolos que organizam as distintas culturas trazem codificados em suas formas geométricas simples, as grandes leis universais que lhes definem. São representações gráficas, mnemônicas, destas leis. E por isto, são dotadas das energias que as definem, assim como é o caso do crucifixo para o cristianismo, por exemplo. Mas ainda não tenho claro porque o programa funciona tão bem e porque é tão pouco utilizado.”

“O segredo é o estabelecimento da sintonia entre a mente e o coração. É aí que se encontra o segredo da motivação individual, solidariedade e do sentimento de pertencimento. Geralmente, o controle da motivação é exercido pelo ego e está aí também a razão pela qual o nosso programa ainda não conquistou muitos adeptos. Vivemos em uma fase de transição, mas ainda é difícil encontrar organizações dispostas a sacrificarem os seus egos em nome de ideais mais nobres e coletivos. Por isto o nosso programa costuma ser melhor aceito nas empresas jovens e comprometidas com o entendimento orgânico e sistêmico da realidade. Uma empresa de armamento, por exemplo, que fomente a guerra para poder vender armas para ambos os lados, dificilmente estaria interessada neste programa. E ainda que estivesse, muito dificilmente seria aceita para participar do programa. Entretanto, aquelas que se capacitam, logo se surpreendem quando veem os talentos, os diamantes, que se ocultam em seus “empregados-problemas”. Estes, por vezes, extremamente talentosos e vibrantes em seus hobbies, se mostram desmotivados, ineficientes e ineficazes no ambiente de trabalho. Por que? Porque encontram-se em um ambiente que lhes é hostil, onde não veem sentido no que fazem, onde se sentem sem interesse ou se mostram incapazes de desempenhar o seu melhor. Deste modo, nunca sabem como estão se saindo, nem para onde estão evoluindo. Não há o sentimento autêntico de pertencimento. O principal elemento motivador vem da consciência sintrópica, que nos empodera e nos emancipa de todos os regimes de servidão. Nem todas as organizações estão aptas a abandonarem estes modelos predatórios e escravagistas, mas aquelas que estão, já começam a ver as vantagens de adotarem uma postura mais sintrópica e menos predatória em todo o seu ambiente. Experimentar da sintonia entre a mente e o coração e das relações de coração-a-coração, nos revela o diamante em nós mesmos e isto é de um valor inestimável. As organizações aferradas aos velhos paradigmas da ciência administrativa insistem em simplesmente punir os erros, sem se preocuparem com aquilo que praticamente os eliminaria, a qualidade da energia do ambiente de trabalho. A questão é que para gerar energia sintrópica, exige-se ética, compromisso e outras qualidades que nem sempre as empresas estão dispostas a cultivar. Na maioria das empresas, os gestores para serem qualificados como competentes, necessitam trabalhar de forma contrária à cultura sintrópica. É uma questão de mentalidade. De formação. Leva tempo para que o novo cative e se instale. E assim é com o programa de gestão sintrópica. Está em poucos lugares, mas onde está, os resultados são de excelência em todos os sentidos. O programa de gestão sintrópica, nos lembra do gênio em nós mesmos, ou seja, nos lembra que todos somos vencedores em potencial. Basta que auxiliemos as pessoas que parecem perdedoras, fazendo-as acreditarem em si mesmas.”

“Entendi. Fica, inclusive, muito mais em conta treinar uma pessoa para que queira se tornar uma gestora sintrópica que contratar gestores já consagrados, que são caros e que sequer podemos antecipar se darão certo em nossa empresa. Além de tudo eles não teriam como deixar plantada a sementinha para que o seu caso de sucesso pudesse ser replicado. Ou seja, se queremos desenvolver uma cultura sintrópica, não adianta continuar acreditando em salvadores da Pátria, que obtém os resultados esperados, mas com o prejuízo de muitos e da própria empresa.”

“Isso. As empresas não sintrópicas são aquelas que ainda não conseguiram se libertar do modelo ultrapassado de gestão que se funda na gratificação do ego. Elas não estão interessadas em desenvolver a consciência sintrópica, que nos leva a sublimar o ego. Preferem modelar o comportamento dos seus empregados aplicando as leis de punição e recompensa, fundada em pequenos objetivos e metas que os empregados possam alcançar para atender aos pequenos e egóicos interesses imediatos da empresa. Não há, nesse caso, nenhuma preocupação sincera com o desenvolvimento do grupo, com o diamante que trazemos, que nos torna sintrópicos e em sintonia com a consciência sintrópica. Para estas empresas do século passado, a chave para se treinar pessoas consistiria, simplesmente, elogiá-las em seus acertos e puni-las em seus erros, tal como se faz nos circos com os animais amestrados, ou naqueles espetáculos em que se maltrata uma baleia até que ela aprenda a saltar sobre uma corda esticada sobre a água, se quiser receber qualquer alimento como recompensa. Uma vez que se desenvolve a consciência sintrópica, deixa-se de se ver como um fato natural que uma pessoa manipule a outra para que esta trabalhe o máximo possível, até a exaustão e realize, sem consciência crítica, quaisquer tarefas, éticas e corretas ou não, que lhe forem designadas. O programa de gestão sintrópica, em conformidade com a  sabedoria milenar das tradições sagradas, nos torna exigentes e generosos, nesta ordem. Quando somos exigentes conosco mesmos, inclusive, fazemos que todos se ponham em movimento.  E é esta exigência inicial que possibilitará que todos, eventualmente, sejam recompensados devidamente, de forma generosa. Temos que ser exigentes quanto ao cumprimento dos saṃkalpas, se quisermos depois ser recompensados sob a consciência sintrópica.

“O jovem deu-se por satisfeito e não via a hora de colocar em prática o que aprendera. Notando o seu entusiasmo, o dirigente sintrópico lhe disse. Temos uma vaga de trainee aberta. Você gostaria de trabalhar conosco e aprender como o verdadeiro trabalho é sempre e antes de tudo um trabalho para si próprio?’ 

“Quer dizer, como eu poderia também me tornar um gestor sintrópico de verdade? Claro que sim!

“Exatamente, o gestor sintrópico apenas facilita este processo onde a empresa se beneficia com o atendimento das necessidades de desenvolvimentos dos seus funcionários. O verdadeiro gestor sintrópico não trabalha para ninguém a não ser para si próprio e neste processo, beneficia a empresa onde atua, otimizando todos os seus resultados. E é por isto que você pode ler ali naquele outro quadrinho: “Primeiro ser, depois fazer e, só então, dizer.” Primeiro temos que nos comprometer com as mudanças interiores. São elas que nos capacitarão a agir como tal. Por fim, é somente após a experiência prática com a exposição à eficácia do método que vamos nos capacitando para formar as nossas equipes e dizer aos demais como se tornarem também, no seu devido tempo, gestores sintrópicos.”

E foi assim que se deu com o jovem. Após alguns anos, tornou-se um excelente dirigente, encorajando as pessoas que trabalhavam com ele a procederem da mesma forma. Resolveu, inclusive, escrever um pequeno manual para servir de orientação para outras pessoas iniciarem as suas jornadas. Descreveu como ouvira pela primeira vez falar na gestão sintrópica. O resultado são estas linhas que você está lendo agora. Compartilhe estas linhas com outras pessoas e deixe-as saber deste programa moderno e simples, capaz de iniciá-las na gestão sintrópica e levar as suas empresas a se tornarem mais eficazes e felizes. Foi um prazer compartilhar com você aqui um pouco desta minha experiência sobre a gerência sintrópica.

F I M  deste Opúsculo sobre Gestão Sintrópica

SUMÁRIO GERAL: A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā

Rio de Janeiro, 14.04.24.
(Atualizado em 19.04.24)

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