O Festival de Wesak, celebrado geralmente na lua cheia do mês de Vesākha do calendário lunar budista (que usualmente coincide com maio no calendário gregoriano, podendo variar para o final de abril ou início de junho), comemora principalmente a Iluminação do Buda. O termo cingalês “wesak” tem sua origem em “vesākha” (em páli) e “vaiśākha” – um termo sânscrito que designa o mês correspondente ao final de abril e início de maio em nosso calendário.
Alguns estudiosos indianos traçam uma possível conexão entre o Festival de Wesak e uma antiga Cerimônia de Lua Cheia do mês Vaiśākha, chamada Vaiśākha Śuddha Pūṛṇimā, que seria celebrada há milênios. Segundo essa perspectiva, essa cerimônia homenagearia o discurso de Krishna na Bhagavad Gītā, que aborda a essência da religião e da espiritualidade pura (śuddha), transcendendo as fronteiras de uma fé específica. Esses estudiosos sugerem que o discurso da Bhagavad Gītā teria ocorrido no sétimo dia da quinzena luminosa do mês Kārtika (iniciado com a lua nova de novembro) há cerca de 13.000 anos, e que a celebração da lua cheia (pūṛṇimā) no mês Vaiśākha teria se desenvolvido séculos depois.
O Festival de Wesak, para muitos, representa um símbolo da espiritualidade moderna, entendida como a vida interior e as práticas que a nutrem, independentemente de afiliações religiosas institucionalizadas. Essa compreensão ganhou força a partir da década de 1970, quando o filósofo e teólogo Wilfred Cantwell Smith questionou a rigidez do conceito de religião e propôs o termo “espiritualidade” como uma alternativa mais inclusiva, focada na ação por amor e respeito pela natureza sagrada de todas as coisas, em vez da defesa de dogmas religiosos específicos. Essa perspectiva de uma espiritualidade mais abrangente encontra eco nas celebrações do Festival de Wesak.
Tradicionalmente, os dias de lua cheia também são dedicados ao estabelecimento ou renovação de sacramentos e saṃkalpas, resoluções firmes que se busca cultivar ao longo da vida, consideradas como a semente do desenvolvimento pleno da espiritualidade. Como já explorei em outro contexto, a libertação espiritual se inicia com o Saṃkalpa – a afirmação de uma direção interior –, seguido pela invocação dos Ṛṣis (Ṛṣi-nyāsa), a aplicação luminosa da motivação (Viniyoga), a entrega verdadeira (Satya Tyāga) e a presença plena (Upasthāna). É um movimento interior que se enraíza no coração, aspira à transcendência e se completa na paz e no amor da contemplação do Ser.
SUMÁRIO GERAL: A Arte e a Ciência da Meditação segundo a Bhagavad Gītā
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Rio de Janeiro, 10 de maio de 2017.
(Atualizado em 07.05.25)
(Atualizado em 07.05.25)
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