2025-05-30

Todo Coração: O Amor Impessoal e a Voz do Ser

Haṁsaḥ śāntiḥ śraddhāyāḥ — que a respiração do Ser
nos conduza sempre ao centro luminoso do coração.

1. Todo Coração — Mayakovsky
e o Gesto Sintrópico

Há em Vladimir Mayakovsky, poeta russo, uma expressão viva da cultura sintrópica que o tropicalismo brasileiro começa a manifestar — uma cultura capaz de harmonizar a sabedoria ancestral de todas as raças, a ciência contemporânea e o impulso ordenativo do Espírito. Mayakovsky dizia ser “todo coração”. Assim como ele, reconheço no símbolo do coração o diapasão mais sutil da sintonia entre justiça social e amor.

2025-05-25

A Meditação Sintrópica e o Foco na Alta Performance Musical: Uma Abordagem que Vai Além da Técnica

Do Foco Técnico ao Foco Vibracional:
A Meditação Sintrópica como
Arte de Escutar o Ser

Dando continuidade ao texto anterior sobre yogyatā e rasa, este novo ensaio explora as diferenças entre mindfulness, hipnose e a meditação sintrópica proposta pelo Śraddhā Yoga. Aqui, o foco não é uma técnica isolada, mas um estado vibracional — resultado de um alinhamento entre intenção, presença e Ser. Em vez de propor fórmulas, o texto aponta um caminho vivo: o do praticante que, guiado por śraddhā, descobre a arte de tocar com o coração em ressonância com o ritmo do real.

2025-05-24

ANEXO 6. Porta de Entrada à Meditação Sintrópica: Uma Leitura Contemplativa do Śraddhā Yoga

Este anexo reúne uma série de reflexões breves e definidoras sobre aspectos essenciais do Śraddhā Yoga, tal como ele se revela na Bhagavad Gītā. Apresentadas em forma de respostas, proposições ou iluminações simbólicas, essas entradas têm valor tanto didático quanto meditativo. Elas não visam substituir o estudo aprofundado dos capítulos anteriores, mas servir como ponto de entrada, de consulta e de reapreciação daquilo que, em última instância, deve ser vivido, não apenas compreendido.

Estrutura do Anexo
  1. O que devo fazer para me conhecer? Krishna revela a Draupadi os Cinco Pilares da Cultura Sintrópica.
  2. O que é o Manifesto Śuddha? Reflexões sobre a mensagem de Bhagavān Nārada.
  3. O que é a Cultura Sintrópica de Paz e Amor? A Bhagavad Gītā como uma expressão da Filosofia Sintrópica e da unidade essencial das religiões.
  4. Qual o papel da Bhāṣyopetā de Haṃsa Yogi na tradição da Bhagavad Gītā? O "pseudo-problema" ocasionado pela publicação deste "comentário-guia".
  5. O que é a prática do Bhāvana? O desenvolvimento do sentimento universal de amor de que todas as coisas surgem do Supremo Espírito, que a tudo compenetra e a tudo sustém em uma ordem constante e em vida eterna.
  6. O que é a ação (karma) à luz dos Seis Deveres Diários? A disciplina que pressupõe a renúncia (samnyāsa) ao fruto das ações e o desligamento de todas as coisas que impedem a consagração de si mesmo à manifestação da Vontade Suprema.
  7. O que é Sākṣī? A Metáfora da Pessoa Humana e do Espírito Universal que a Anima.
  8. O que é Meditação Sintrópica? A meditação que tem início no silencioso recolhimento das madrugadas e se prolonga pelo dia como expressão de uma contínua meditação na ação, com atenção plena e foco no aspecto de sagrado de cada minúscula experiência que a vida nos reserva.
sarvaṁ karma akhilaṁ pārtha jñāne parisamāpyate
“Ó Pārtha, toda ação culmina no conhecimento.” (BhG 4.33)


Rio de Janeiro, 24 de maio de 2025.

2025-05-23

Yogyatā, Rasa e Śraddhā: O Ensaio como Caminho da Alta Performance Artística e Espiritual

Entre Técnica e Transcendência:
O Ensaio como Caminho

Os dois textos que se seguem formam uma espécie de díptico — duas faces complementares de uma mesma travessia. De um lado, o ensaio como rito interior, caminho de lapidação espiritual e oferenda devocional (yajña) — onde o artista se torna templo e instrumento de algo maior. De outro, a meditação sintrópica como método aplicado à alta performance, em diálogo direto com práticas contemporâneas como o mindfulness e a hipnose.

Longe de opor arte e espiritualidade, estes textos mostram que é apenas quando ambas se entrelaçam — técnica e śraddhā, disciplina e presença — que o gesto performativo se transmuta em expressão do Ser. O palco, então, deixa de ser um lugar de julgamento para se tornar espaço de epifania.

Que este itinerário — do ensaio à oferenda, do foco funcional ao foco vibracional — sirva de inspiração para todos os que buscam afinar sua existência com a música silenciosa do real.

2025-05-21

O Espírito da Obra: śraddhā e a meditação como cultura do coração

O objetivo principal das práticas de meditação descritas nesta obra é nutrir o praticante de śraddhā, o amoroso sentimento sintrópico que, como uma bússola interior, ilumina a razão em direção à Verdade e ao Absoluto (Brahma-sāmīpya). É essa energia afetuosa e integradora que conduz da realidade ilusória (saṁsāra) à realidade sagrada (nirvāṇa), à medida que se aprofunda a compreensão de Ṛta — a lei universal que harmoniza os processos entrópicos da matéria inorgânica com os fluxos sintrópicos da vida espiritual e orgânica.

2025-05-20

Guia Prático de Śraddhā Yoga (Heartfulness — A Meditação do Coração)

“A teoria é como a seta no arco.
A prática é o disparo silencioso que acerta o centro do Ser.”

Este anexo reúne os principais textos práticos e litúrgicos do Śraddhā Yoga — um caminho de escuta, fervor e ação sintrópica. Sua disposição não é arbitrária: reflete um percurso interior que parte do recolhimento no coração (hṛdaya), onde o fogo interior (śraddhā) simboliza o altar que culmina na oferenda meditativa que une respiração, consciência e presença.

Tal itinerário encontra fundamento direto na Bhagavad Gītā, que declara: śraddhāvān labhate jñānaṁ. “Aquele que tem śraddhā alcança o conhecimento.” (BhG 4.39)

E ainda: yoginām api sarveṣāṁ mad-gatenāntar-ātmanā / śraddhāvān bhajate yo māṁ sa me yuktatamo mataḥ. “Entre todos os yogis, aquele que, com śraddhā, habita em Mim no mais íntimo do ser, esse é, aos Meus olhos, o mais completo— yuktatamaḥ." (BhG 6.47)

2025-05-19

Além do Foco: Da Atenção Plena à Heartfulness — A Meditação Sintrópica do Śraddhā Yoga

***
De mindfulness a kindfulness,
até chegar ao heartfulness — a bússola interior,
que conduz a mente de volta ao coração,
 onde brilha o eixo do Ser.
***

1. Introdução: O Sucesso e os Limites do Mindfulness

Nas últimas décadas, a meditação conquistou espaço nos centros de saúde, empresas e universidades ocidentais. Boa parte desse reconhecimento deve-se à popularização do mindfulness, uma adaptação contemporânea de práticas meditativas orientais, especialmente budistas, promovida por Jon Kabat-Zinn e outros pesquisadores. Seu sucesso está relacionado à promessa de alívio do estresse, regulação emocional e bem-estar psicológico.

2025-05-09

Entre Édipo e Arjuna: A Tragédia Grega e o Épico Indiano como Caminhos da Consciência

I. O destino e o coração

Há um ponto de convergência entre o Ocidente e o Oriente que permanece velado ao olhar superficial: o cruzamento entre a tragédia grega e o épico indiano. De um lado, Édipo Rei, de Sófocles; de outro, o Mahābhārata, com seu núcleo luminoso, a Bhagavad Gītā. Ambas as obras abordam o enigma do destino humano, ambas colocam o ser humano diante da dor, da revelação e do autoconhecimento. Mas o caminho que cada uma propõe é radicalmente distinto.

A tragédia busca a purgação (katharsis); o épico, a iluminação (prajñā). A primeira revela a impotência diante do fado; o segundo revela a liberdade possível a partir da confiança no coração (śraddhā).

2025-05-05

Śraddhā-vṛtti: o Néctar da Práxis Sintrópica


"Aquele que possui śraddhā nunca se perde" (BhG 6.40).
Pois śraddhā é o gesto sintrópico da alma em direção ao Espírito;
um sopro de unificação que pulsa no ritmo da nossa própria respiração.
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O coração como via de prática

No caminho do Śraddhā Yoga, a guia não é o desejo individual ou a vontade solitária. É a vibração mais íntima do coração, quando este se alinha com a Grande Lei Cósmica (Ṛta), o Dharma vivo. Essa vibração é śraddhā, néctar existencial que brota do encontro entre o que somos e o que pressentimos como verdadeiro. Segundo a Bhagavad Gītā (6.40-47), quem possui śraddhā nunca se perde, porque ela é ta em movimento. Quem age com śraddhā — sem desejo por frutos — está, literalmente, respirando Brahman, conforme vimos anteriormente. Esse néctar (rasa) essencial que flui do coração amoroso, por ser vivo — e não uma substância estática — se move, flui. E esse fluxo, essa modulação interna do nosso ser, é o que chamamos de śraddhā-vṛtti.

2025-05-03

O Zen da Psicanálise e o Śraddhā Yoga: Entre a Sombra e a Transfiguração

Resumo

Este artigo propõe uma análise comparativa entre duas abordagens contemporâneas da espiritualidade e da subjetividade: de um lado, as vertentes mais espiritualizadas da psicanálise, aqui denominadas de forma sintética como "zen psicanálise"; de outro, o Śraddhā Yoga, fundamentado na Bhagavad Gītā e desenvolvido como disciplina sintrópica. Utilizando os mantras simbólicos "OM NAMO TANTRE" e "OM NAMO NĀRĀYAṆĀYA", investiga-se a distinção entre uma espiritualidade libidinal centrada no desejo e na sombra, e uma espiritualidade transfiguradora centrada na clareza interior e na ordem cósmica (Ṛta). O artigo dialoga com autores como Claudio Naranjo, D. Winnicott, C. G. Jung e Jacques Lacan, discutindo também os limites da psicologia transpessoal.