2025-12-02

Kāla e o Espaço-Tempo Sagrado (I)

Do Nome Terrível ao Tempo dos Ṛṣis

I. PRÓLOGO — O NOME TERRÍVEL E BELO DO INFINITO

(Ṛtadhvanī–Bhāṣya)

Há nomes que dizem o mundo. Há nomes que descrevem o mundo. E há um único nome que devora o mundo enquanto o cria. Esse nome é Kāla. Não é “tempo”. Não é “duração”. Não é “passagem”. Kāla é o poder de Brahman de manifestar e dissolver, o ritmo primitivo que pulsa antes de qualquer vibração, a medida não da mudança, mas do próprio Ser em ação.

Quando a tradição védica declara kālo hi bhagavān — “o Tempo é o Senhor” — não fala de um deus que controla os minutos, mas de uma força que antecede todas as forças, o princípio que permite que algo exista, seja percebido, ou retorne ao Não-Ser.

O erro do Ocidente, durante milênios, foi imaginar que o tempo “flui”. Mas o que flui são os seres, não o Tempo. O que nasce e morre são as formas, não o Tempo. O que começa e termina são os dias — não Kāla. Kāla não passa. Mudamos de forma dentro dele. E quando Krishna se revela a Arjuna e pronuncia kālo ’smi — “Eu sou o Tempo” — ele não está dizendo “eu destruo”, mas algo infinitamente mais profundo: “Eu sou o horizonte ontológico onde tudo emerge.”

2025-12-01

A ONTOLOGIA VIVA DO ŚRADDHĀ YOGA: Ātman, Śakti e Prakṛti — O Coração, o Sopro e o Campo


Prólogo — Por que uma nova ontologia?

Nenhuma tradição espiritual sobrevive apenas de práticas. Ela precisa de uma visão do real — um darśana — capaz de sustentar a experiência interior e dialogar com a inteligência do seu tempo, tal qual Krishna ofereceu a Arjuna na Bhagavad Gītā. O Śraddhā Yoga é esse darśanana. Não se trata de uma simples “releitura devocional” da Bhagavad Gītā, nem como mais um comentário ao Sāṅkhya ou ao Advaita. 

O Śraddhā Yoga traz à luz a ontologia viva da Bhagavad Gītā, capaz de:
  • honrar a experiência dos Rṣis,
  • integrar a ciência contemporânea,
  • e dar forma filosófica ao gesto sutil de śraddhā — a confiança lúcida, foco absoluto do coração.
Este ensaio apresenta a peça estrutural do Śraddhā Yoga Svatantra: a ontologia trina que organiza todo o sistema revelado por Krishna. Sua fórmula é simples: Brahman = Ātman (Ser) + Śakti (Potência) + Prakṛti (Campo). A partir dela, tudo o mais se torna inteligível: o papel do jīva, o equilíbrio entre entropia e sintropia, o sentido do tempo (Kāla), a pedagogia da Bhagavad Gītā, a prática do niṣkāma–karma–yoga e a própria definição de meditação.