Do Nome Terrível ao Tempo dos Ṛṣis
I. PRÓLOGO — O NOME TERRÍVEL E BELO DO INFINITO
(Ṛtadhvanī–Bhāṣya)
Há nomes que dizem o mundo. Há nomes que descrevem o mundo. E há um único nome que devora o mundo enquanto o cria. Esse nome é Kāla. Não é “tempo”. Não é “duração”. Não é “passagem”. Kāla é o poder de Brahman de manifestar e dissolver, o ritmo primitivo que pulsa antes de qualquer vibração, a medida não da mudança, mas do próprio Ser em ação.
Quando a tradição védica declara kālo hi bhagavān — “o Tempo é o Senhor” — não fala de um deus que controla os minutos, mas de uma força que antecede todas as forças, o princípio que permite que algo exista, seja percebido, ou retorne ao Não-Ser.
O erro do Ocidente, durante milênios, foi imaginar que o tempo “flui”. Mas o que flui são os seres, não o Tempo. O que nasce e morre são as formas, não o Tempo. O que começa e termina são os dias — não Kāla. Kāla não passa. Mudamos de forma dentro dele. E quando Krishna se revela a Arjuna e pronuncia kālo ’smi — “Eu sou o Tempo” — ele não está dizendo “eu destruo”, mas algo infinitamente mais profundo: “Eu sou o horizonte ontológico onde tudo emerge.”

